terça-feira, 18 de março de 2008

No farol, buscando uma luz

Terça-feira, 07:17h. Saindo de casa para o trabalho, vi uma cena que me trouxe recordações durante o trajeto até chegar ao quartel.

Quando parei no primeiro farol, um garoto de uns 13 anos mais ou menos pegou três bolinhas de tênis e começou fazer malabarismos, com a intenção de ganhar alguns trocados.

O dia hoje amanheceu friozinho. Ele acusava sentir a baixa temperatura, mas estava de shorts e andava entre os carros como quem tinha acabado de acordar. Logo o farol abriu e segui minha viagem.

Imaginei a dificuldade que a família daquele garoto poderia estar passando, motivando-o estar tão cedo na rua. Isso me fez lembrar o início do ano de 1975.

Eram dias difíceis. Tínhamos acabado de chegar a São Paulo, vindos de Angra dos Reis/RJ. Pai, mãe e 14 irmãos. Fomos morar numa casa na Vila Bertioga, Zona Leste da cidade. O espaço era pequeno para tanta gente, então, uma cama teria que comportar duas pessoas. Era um festival de beliches e bi camas para todos os lados e ainda tinha que utilizar o sofá da sala para dormir.

Minha irmã mais velha tinha 20 anos e a mais nova alguns meses. Ninguém ainda tinha conseguido emprego e a renda era apenas o salário de ex-combatente da FEB que meu pai recebia.

Meu irmão mais novo (com 13 anos, idade aparente do garoto que vi), arrumou um carrinho de rolimã (muito utilizado naquela época e que caiu em desuso) e fazia entregas na feira livre do bairro.

No final do dia, além dos trocados que recebi de gorjeta, ainda trazia algumas coisas para comer. E assim, fomos superando aquelas dificuldades que, se ao lembrar dá um pouco de tristeza, também dá orgulho de saber que minha mãe sempre esteve com um sorriso carinhoso nos lábios, meu pai, apesar do silêncio, buscava soluções e todos os filhos mantiveram condutas corretas, conforme a educação que receberam.

Hoje em dia as pessoas entraram nessa onda do politicamente correto e, com isso, não têm coragem de dizer que são contrárias as distorções da nossa sociedade. Então, dizem “respeitar” quem prostitui, entre outras coisas, quando realizada como um meio de sobrevivência.

Dos 14 irmãos da família Lago, nenhum dos homens foi se utilizar de práticas ilícitas, nem as mulheres fazerem ensaios fotográficos sensuais, tão em moda, com a justificativa de que a família estava passando necessidades.

Aquele garoto na rua, ainda que sonolento, buscava entreter os também sonolentos motoristas. Foi a forma mais digna que ele encontrou para ajudar a sua família. Ou seja, alguma solução a gente sempre encontra, basta querer.

Isto não exima de culpa os responsáveis por esta situação. Mas, com fé, trabalho e honestidade dias melhores virão. Veio para a minha família, virá para a família daquele garoto.

Um comentário:

  1. Sgt Lago:
    Acrdeito noseu tão grande coração, mas os tempos mudaram, e com certeza atras de ums criança no farol ou em qquer outro lugar, hj exite um adulto explorando esta criança, pois hj sabemos que o governo Federal e Estadual, mantêm programas, para que seus responsáveis envie estes menores aà escola enão aos vais farois.
    Esta hj é honra de um pai que ama seus filhos enviando-os para a escola.

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