Embora esse ano me traga a infantil memória da escolha do time, ele foi marcado por tantas outras recordações nada suaves. Uma delas, talvez a mais problemática para aquela geração, foi o A.I-5.
Antes de anunciarem o Ato Institucional nº 5, aconteceu o III Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro. Nele Vandré defendia a música de sua autoria “Pra não dizer que não falei da flores”, considerada como sendo o hino da resistência ao regime militar.
Muita gente conhece a história, ou pelo menos pensa que conhece. Eu também estou entre os que acham que sabem.
Vandré foi exilado e retornou ao Brasil em 1973. A grande dúvida resiste entre saber se ele foi ou não torturado. Todos dizem que sim, ele nega.
No início dos anos 90 fui transferido para trabalhar no Quartel do Comando geral da PM paulista. Foi quando vi um senhor de cabelos grisalhos andando acelerado de um lado para o outro, intercalando com pequenos trotes e batendo palmas. Era Geraldo Vandré, ou melhor, Geraldo Pedrosa de Araújo Dias.
Em 1995 decidi participar de um concurso literário, promovido pelo jornal “O Estado de São Paulo”, sobre o tema “20 anos sem Vladimir Herzog”. Comecei escrever, mas ao final tinha acabado de fazer uma canção que homenageava Vandré.
Localizei o cantor e convidei-o para ir ao estúdio comigo, onde seria a gravação. Acompanhou-me e pareceu estar curtindo a homenagem. (foto acima)
Fiquei um tempo sem encontrar com ele até que em 2005 nos reencontramos. De lá para cá mantemos contatos freqüentes.
Quando disse a ele que aquela música que eu fiz em sua homenagem estaria no CD que lanço em Maio deste ano, foi taxativo: “Não gosto de homenagens e nem de músicas de homenagem”. Esse é o Vandré.
Sobre a sua possível loucura, acho que ele é tão louco quanto foi Bob Marley. Mas, até onde eu sei Bob Marley não foi torturado.
Ele segue caminhando, porém sem cantar. E, de preferência, sem homenagens.
Nenhum comentário:
Postar um comentário