segunda-feira, 30 de março de 2009

Lama na farda


Há quase 30 anos tento fazer alguma coisa pra ajudar melhorar a imagem da Polícia Militar. E até acho que não faço mais que a minha obrigação, principalmente por que é dessa instituição que recebo o meu salário.

Acho que até já contei esse fato aqui, mas, ainda assim, vale a pena relembrá-lo.

Certa vez estava fardado e dirigindo um carro bem caro. Era emprestado. Ao parar no trânsito da avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé, bairro da Zona Leste de São Paulo, percebi pelo retrovisor que um senhor idoso vinha passando de carro em carro pedindo esmola. Confesso que não sou favorável a prática, devido a muitos malandros que vivem da mendicância, mas vi naquele homem uma necessidade estampada que não remetia a vagabundagem.

Reservei umas moedas e aguardei que chegasse até a mim. Para minha surpresa, ao estender-me a mão solicitando o dinheiro e perceber que eu era um policial militar, mesmo estando eu dentro daquele carro bonito, disse: “desculpa, o senhor também ganha pouco”, e recolheu sua mão e foi para o carro seguinte. Fiquei sem palavras e pensando no motivo pelo qual aquele homem achava que as minhas moedas fariam tanta falta para mim, ao ponto de recusá-las.

Claro que não precisei pensar muito para descobrir a resposta. Existe uma cultura interna de criticar a instituição. Com maior freqüência, ao salário. Não que eu também não concorde que o Governo do Estado deva melhorar o nosso salário, mas, da forma que falam, fazem as pessoas acharem que estamos morrendo de fome.

Tenho um cunhado que trabalha numa grande empresa há 24 anos e faz tanta propaganda dela que toda vez que lembro a marca sinto carinho por aquela instituição. Infelizmente, com a PM as pessoas não sentem a mesma coisa, e boa parte da culpa está nessa cultura de críticas.

Para aumentar minha decepção com essa postura, vi no youtube um vídeo produzido pelo Clube dos Oficiais da PM paulista onde reivindicam aumento salarial. Tive a mesma sensação que aquele senhor me fez sentir ao dizer que eu também ganhava pouco. Ora, com tantos oficiais brilhantes que temos em São Paulo, como aprovaram uma porcaria daquelas? Gente! É inconcebível que não tenham arrumado uma forma mais inteligente para dizerem a mesma coisa. Francamente! Bem, julguem vocês mesmos. Vejam essa lástima aqui nesse link.


terça-feira, 24 de março de 2009

Faz de conta que morri



Semana passada fomos surpreendidos com a morte do deputado federal, costureiro e apresentador de TV Clodovil Hernandez.

É bem verdade que já andava enfermo, mas a morte sempre surpreende, não tem jeito.

Foi na repercussão do acontecido que comecei refletir sobre o comportamento das pessoas em casos de falecimento.

As qualidades podem ser exaltadas, pois acaba a competitividade, o seu talento não será mais um incômodo e também não ofuscará brilhos alheios.

Os defeitos serão vistos como se tivessem sidos prejudiciais apenas para o morto.

Cada palavra ou atitude começarão merecer profundas reflexões. Sua trajetória polêmica tornar-se-á legado.

Morre um "problemático" para nascer um mito. Exemplos não nos faltam: Mamonas Assassinas, Garrincha, Derci Gonçalves, Glauber Rocha, Cazuza, Cássia Eller, Marcelo Silva entre outros. Todos bem criticados em vida e que alcançaram o status de mito (ou quase isso) pós-morte.

Foi nessa introspecção que concluí: todos nós seríamos mais felizes, se tratados como os mortos.