quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Debutando no sertão

Guerreiros do sertão
Sargento Lago com a equipe comandada pelo Tenente Fabrício
Tenente Oliveira, CMT Fundador Pel Caatinga

Confesso que o remédio que tomei para gripe contribui para que eu dormisse, caso contrário nem teria pregado os olhos, tamanha a vontade que eu estava de conhecer o sertão.

Na semana anterior fui ao Quartel do Comando Geral com a bolsa, pronto para viajar, mas não conseguiram arrumar um transporte disponível. Contudo nessa quarta-feira, dia 29/12, deu tudo certo.

Cheguei por volta das 9h00 e a minha espera já estava o tenente Oliveira, comandante fundador do Pelotão de Caatinga. Como tinha que despachar com o comandante geral, veio à capital e no retorno me daria carona.

Brincalhão, riu do meu “cantil”, que na verdade era uma garrafa térmica, verde, que comprei no supermercado, no dia anterior, e trazia pendurado ao cinto da calça, cheio de água gelada, seguindo a orientação que recebi da tenente Manuela, da Comunicação Social.

Logo que resolveu seus afazeres saímos em direção ao sertão.

No caminho veio me contando sobre como foi a criação do pelotão, a aceitação dos comandantes e autoridades do estado.

Disse que o curso foi ministrado por policiais da Bahia aqui no Sergipe. E a primeira turma formou o primeiro pelotão.

Hoje, Após três anos, o Pelotão de Caatinga da Polícia Militar de Sergipe já oferece cursos e as vagas são disputadas inclusive por policiais do BOPE do RJ.

Na medida em que avançávamos em direção ao interior do estado, fui sentindo o aumento da temperatura e com meia hora de viagem já fiz a primeira utilização do “cantil”.

No meio do caminho fizemos uma parada num quiosque e, sedento, fui a uma garrafa de água gelada, enquanto o tenente Oliveira pedia um cafezinho quente, saindo fumaça, por voltas das 10h00 e sob sol escaldante.

Cerca de uma hora e meia depois chegamos ao Pelotão de Caatinga, num vilarejo por nome de Vaca Cerrada.

Como já estava perto do horário do almoço, aceitei o convite e me alimentei com os demais companheiros de serviço.

Fui apresentado ao tenente Fabrício, subcomandante, também fundador do Pelotão de Caatinga, que ficou incumbido de levar-me ao Tenente Coronel Romeu, comandante do 4º Batalhão de Canindé, que me aguardava, e posteriormente sairíamos para o patrulhamento.

Fomos em duas viaturas. Na frente o tenente ia com dois policiais e atrás eu estava com outros dois.

Após ser gentilmente recebido pelo comandante, deixei minha mala de roupas no alojamento e seguimos para a Caatinga.

Ao sairmos da zona urbana de Canindé, percorremos cerca de vinte quilômetros na zona rural, que é onde recebe a denominação de Caatinga, devido a predominância de uma árvore do mesmo nome.

Durante o trajeto percebi que o cabo Bispo, policial veterano, moreno, com boa disposição física, ia a frente, ao lado do motorista da viatura, cantarolando baixinho canções militares utilizadas em marchas, sempre fazendo alusão aos policiais da Caatinga.

Antes mesmo de ter contato com ele, conversando com um sargento lá no pelotão, fiquei sabendo que, apesar dos seus 42 anos de idade, treina pelo menos duas vezes por semana, correndo dez quilômetros, por volta das 10h30, quando o sol está mais alto. “Quem pode o mais pode o menos”, disse-me o tenente Oliveira, durante a viagem, referindo-se ao bom condicionamento físico da sua tropa que, por treinar sob o sol do sertão, não encontra dificuldades quando a missão é na Capital, com clima mais ameno.

Paramos quando atingimos determinado ponto.

Com a gentileza e o orgulho de fazer o que faz, o tenente Fabrício trazia muitas informações sobre as características do trabalho.

Como manifestei interesse em conhecer a vegetação local, o cabo Bispo entrou comigo um pouco pra dentro da mata, enquanto os demais ficavam atentos as possíveis pessoas que poderiam trafegar por lá, e começou mostrar-me cada planta. Chapéu de frade, Macambira, Mandacaru, Chique-Chique, Mandacaru Facheiro, Pinhão, Quipá etc. O que me surpreendeu foi quando ao me mostrar uma erva denominada Cansanção, que é uma espécie de urtiga, que provoca queimação e irritação ao ter contato com a pele, conforme me explicava, esfregou a sua própria para que eu visse a reação que provocaria e, claro, em pouco tempo ficou inchada e com vergões.

Provei de algumas plantas e não gostei muito, mas notei que em condições adversas realmente contribuem para a sobrevivência dos policiais do sertão.

Parados naquele ponto estratégico, enquanto aguardávamos que pessoas passassem por lá para serem abordadas, continuei recebendo orientações.

Os policiais me falaram que a região do sertão já foi mais violenta, mas que com a criação do pelotão o índice de criminalidade havia caído em quase 80%.

Os de maior incidência eram os roubos de gado. As vítimas permaneciam caladas, pois os ladrões também são pistoleiros e, uma vez denunciados, voltavam para matar.

No final da tarde, começaram a surgir pessoas trafegando com motos, que já são apelidadas de cavalo do sertanejo. Foram feitas cerca de seis abordagens e em todas constatadas irregularidades de trânsito. Falta de utilização do capacete e de habilitação, as mais freqüentes. “Se nós formos atuar como fiscalizadores de trânsito fugiremos da nossa atividade fim. Imagine você, se na primeira tivéssemos retornado à cidade para apreensão, perderíamos muito tempo”, justificou o oficial, após liberar todos abordados.

Ao início do cair do sol, solicitei uma pose da equipe para uma foto, antes de voltarmos para a cidade.

No retorno, confesso que a minha resistência estava minada. Embora bebendo toda a minha reserva e parte da disponível na viatura, me sentia sucumbindo ao calor. Porém, com a mesma disposição do início do trabalho, o cabo Bispo vinha cantarolando uma das canções militares de sua autoria, feita aos policiais do BOPE que terminaram o curso aqui no Sergipe, na semana passada. “Caveirão, o que aqui veio fazer?/ Veio zombar de mim ou usurpar do meu brevê?/ Caveirão, uma missão eu vou te dar/ Vou te jogar dentro da caatinga, você tem que se virar/ Caveirão, volte lá pro Alemão/ Voce está confundindo a favela com o sertão/ Na suas praias os caatingueiros vão morar/Mas o calor do meu sertão você não vai agüentar...

O sol já estava totalmente escondido e a noite anunciada, quando me trouxeram de volta a base do 4º Batalhão. Agradeci individualmente a todos pela rica oportunidade de conhecer aquele trabalho e externei os meus parabéns aos nossos guerreiros, heróis do sertão.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Faca na caveira, nada na carteira

No filme Tropa de Elite tem uma fala de um soldado convencional que chamou a atenção: "Faca na caveira, nada na carteira", referindo-se ao idealismo do policial do BOPE que dedicava-se a fazer o seu trabalho sem preocupar-se em ganhar dinheiro. No caso citado a referência era feita ao dinheiro vindo da corrupção.

Tenho surpreendido as pessoas por onde pass0 pelo fato de fazer o trabalho que faço sem incentivo financeiro. Claro, deve parecer no mínimo estranho alguém dedicar-se a fazer algo em benefício de uma categoria, investindo o próprio dinheiro sem ter outra intenção que não seja a satisfação própria.

Como quase tudo que é feito tem segundas intenções, passei a minha vida sob a desconfiança de que escondia alguma, mas os anos se passaram e eu continuo na mesma caminhada.

Embora para alguns possa parecer insano, meu compartamento tem origem. Meu falecido pai, José sebastião de Souza (foto), apesar de 14 filhos, foi um pastor protestante que dedicou o seu tempo e o seu salário de militar reformado do Exército Brasileiro em prol da evangelização e das assistencias sociais.

Antes mesmo de adquirir uma casa própria, empenhou-se em comprar um terreno e construir um asilo que funciona há quase 30 anos no Vale do Paraíba, na cidade de Areias/SP.

Isso dava prazer a ele. Isso me dá prazer.

Quando não tenho o recurso, busco empréstimo para realizá-lo e às vezes conto com a ajuda de amigos na mão de obra.

Difícil é quanto tenho que convencer as pessoas que me cercam que esse investimento é tão importante pra mim quanto é para eles os bens que adquirem. Felizmente hoje não preciso dar tantas explicações.

Engana-se quem pensa que tenho algum retorno.

Escrevi esse texto porque fiquei sabendo que um oficial da PMBA ficou admirado que eu tenha pago a gravação da música que fiz pra eles, mas saber que eles ficaram felizes com a homenagem me incentiva ainda mais a continuar nessa missão. Como as pessoas que se realizam com suas aquisições, isso me deixa estado de graça.

Há quem tenha o dom de juntar dinheiro, o meu é de ser idealista.

PS. Ao final do texto descobri que também tenho sim uma intenção: a de um dia poder fazer o que faço com um patrocínio, o que me permitiria investir o meu salário em outras coisas...

sábado, 25 de dezembro de 2010

Agenda do Projeto Polícias Militares do Brasil

Estou divulgando a agenda do PPMB para permitir que os policiais dos Estados que visitarei possam saber quando estarei por lá para interagirmos.

Serão a partir desses contatos, além do contato formal com cada corporação, naturalmente, que poderei saber em detalhes cada peculiariedade.

Vale lembrar que o projeto terá como foco principal o profissional, o ser humano que exerce a atividade de segurança pública e como pano de fundo as tecnologias, armas, modalidades de policiamento, características, festas e culinária regionais etc.

Aliás, deixo aqui uma sugestão para que enviem suas curiosidades e irei descobrindo para informá-los posteriormente .

Ficarei nas capitais de cada Estado e vistarei algumas cidades do interior.

O diferencial desse documentário será a minha vivência de policial militar e de jornalista. É só aguardar para ver.



Bahia: de 15/10 a 14/12/2010



Sergipe: de 14/12 a 13/1/2011



Alagoas: de 13/1 a 12/2/2011



Pernambuco: de 22/2 a 14/3/2011



Paraíba: de 14/3 a 13/4/2011



Rio Grande do Norte: de 13/4 a 28/4/2011



Ceará: de 28/4 a 13/5/2011



Piauí: de 13/5 a 28/5/2011



Maranhão: de 28/5 a 16/6/2011



Amazonas: de 16/6 a 16/7/2011



Roraima: de 16/7/ a 15/8/2011




Rio Grande do Sul: de 31/7 a 10/8/2011




Santa Catarina: de 11/8 a 20/8/2011




Paraná: de 21/8 a 30/9/2011



Mato Grosso do Sul: de 8/9 a 15/9/2011





Mato Grosso: de 16/9 a 23/9/2012




Rondônia: de 24/9 a 27/9/2011



Acre: de 28/9 a 30/9/2011



Pará: de 1/10 a 14/10/2011




Amapá: de 15/10 a 20/10/2011




Tocantins: de 16/10 a 20/10/2011




Distrito Federal: de 21/10 a 24/10/2011




Goiás: de 24/10 a 29/10/2011




Minas Gerais: 30/10 a 5/11/2011



Espírito Santo: de 6/11 a 10/11/2011




Rio de Janeiro: de 11/11 a 23/11/2011




Chego a São Paulo com a missão cumprida no dia 24 de novembro de 2011, se Deus quiser.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Projeto Polícias Militares do Brasil

Estava em Salvador/BA quando decidi iniciar um novo projeto em minha vida. Conhecer a realidade de todas as PMs do Brasil e produzir um documentário, será o meu novo desafio. Com direito a música do Sargento Lago para homenagear especificamente cada estado.