terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Hoje eu tive um sonho

Fazia tempo que o galo tinha cantado, quando acordei. Constatei que minha esposa já havia levantado para trabalhar. Dei uma espreguiçada de cama inteira e fiquei ali, com as mãos cruzadas debaixo da cabeça, lembrando como foi minha noite de plantão. Quer dizer, minha noite de sono. É que eu estava com a sensação de ter acabado de chegar do quartel, pois sonhei a noite inteira com o meu serviço de policial.

Meu saudoso tio Goiotin já havia me alertado: Quando você se aposentar vai sonhar muito com a PM. Ele vivia me contando os seus sonhos.


Embora acreditasse no meu velho tio, não imaginava que isso seria possível. Essa noite descobri que sim.


Foram situações diversas. Lá estavam todos os meus companheiros. Brinquei saudoso com os mais íntimos, evitei os que não conseguimos nos compreender, porém sem resentimentos e também participei de uma ocorrência.


O sonho me trouxe a sensação gostosa daquilo que foi a razão da minha existência. Atuar como servidor público.


Ah! Como é bom ser útil, contribuir, participar. Embora, durante a labuta, às vezes nos sentimos cansados e questionamos se vale a pena alguns sacrifícios que fazemos.


Todas as profissões são marcantes para quem as exercem. Mas, por ter começado a trabalhar aos 10 anos de idade - embora tenha sido por pouco tempo - tive várias atividades antes de ingressar na Polícia Militar e, por isso, imagino que poucas são as que reúnem a complexidade que é ser um policial.


Acredito que até mesmo quem trabalhou por muitos anos em serviço fisicamente pesado, em condições desfavoráveis e com pouco retorno financeiro não trás as marcas que tem um policial. As suas são visíveis. As do profissional de segurança nem sempre as são.


O meu sonho de hoje reforça um outro que tenho há tempos: trabalhar pela conquista de um mundo melhor.


Ainda que as circunstâncias insistam em nos fazer acreditar que é em vão, devemos perseverar para que isso um dia possa ser uma realidade para todos nós. No pior das hipóteses, manteremos acesa dentro da gente a chama da esperança que nos garantirá essa sensação gostosa de estar fazendo a nossa parte.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A quem tributo, tributo

No dia 10 de Maio deste ano completará 40 anos que foi morto o Tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo Alberto Mendes Junior, na Região de Registro, sul do Estado. Foi executado por militantes políticos que se opunham ao Governo Militar pela luta armada, sob o comando de Carlos Lamarca, desertor do Exército Brasileiro.

Sobre esse período, assisti a quase todos os filmes, li alguns livros e, mais recentemente, entrevistei dois ex-companheiros de Lamarca: Sargento Darci e Celso Lungaretti.


Embora não tenha simpatia por nenhum dos lados, com esses militantes tive a oportunidade de entender, sem o romanceado literário e do cinema, a motivação exata de seus atos.


Em alguns momentos dos relatos até senti desejo de solidarizar-me com eles. De fato eram jovens inflamados pela convicção de terem a melhor opção para o país.


O inaceitável nesse período foi a utilização da violência pelas duas partes: Militares e militantes foram cruéis.


Independente de quem estava com a razão, ambos foram responsáveis por traumas irreparáveis infligidos a muitas famílias e a história brasileira.


Também tive a oportunidade de produzir dois documentários sobre Mendes Junior. Ouvi relatos de familiares e colegas de turma da Academia do Barro Branco e fiquei comovido com os sonhos frustrados. Tanto os dele quanto os de seus pais, Alberto e Angelina, e do seu irmão Adauto.


Não poderia ter sido mais dramática a sua morte. Teve um algoz patenteado, estava com apenas 23 anos, foi no dia das mães e no dia em que ficaria noivo.


Por estar no cumprimento do seu exercício profissional de manutenção da ordem pública, o policial tornou-se símbolo de mártires que a sociedade produz todos os dias.


Como tenho o coração voltado para a minha vocação, outro dia acordei com uma canção nos ouvidos. Peguei violão, caneta e papel. Ao final estava materializado o meu...


Tributo a Alberto Mendes Junior

Alberto Mendes Junior como herói tombou

E para história entrou num gesto de amor

Seu sonho tão singelo se perpetuou

Com sangue escreveu seu ato capital


Orgulho do seu pai

Enquanto a mãe espera pra almoçar

E o seu amor também espera e ele não virá...


Em seu exemplo miram-se milhões

Quebrando-se grilhões pra um novo alvorecer

A flor já não existe, mas aqui deixou

A essência pra vencer a luta contra o mal


Orgulho dos seus pais

Que o irmão não esqueceu jamais

Choram “seu” Alberto, dona Angelina, Adauto

E todos nós...


Orgulho dos seus pais

Que o seu filho não terá jamais

Porque pertence a história e agora

É de todos nós... De todos nós

sábado, 16 de janeiro de 2010

O policial e a periferia

Certa vez estava fazendo patrulhamento numa área de invasão em Campinas. A equipe comandada por mim tinha os soldados Julio César ao volante e no banco de trás Fazani e Ygider.

Sempre que saíamos para o trabalho tínhamos em mente poder contribuir para a segurança na cidade da melhor forma possível.


O policiamento ostensivo já ajudava. A simples presença de uma viatura circulando pelos bairros já inibia o cometimento de delitos. Mas quem é polícia sabe o que vou dizer. Não ficamos satisfeitos apenas em fazer o preventivo. Gostamos de ajudar diminuindo o número de criminosos na rua. É gratificante para o policial quando isso acontece.


É por esse motivo que ficamos aborrecidos quando alguém, contrariado com a intervenção da polícia em situações de menor gravidade - mas que exigiu a nossa atuação – diz: Por que vocês não vão pegar bandido?!? Tudo que um policial quer é pegar bandidos.


Mas, voltando a história, já estávamos cansados de patrulhar aquele local e não víamos ninguém sequer suspeito. Apenas senhoras lavando roupa, crianças brincando na rua de terra e ouvíamos o som alto dos rádios, que vinha das casas.


Estava tão tranqüilo que decidimos dar uma paradinha para descer um pouco da viatura e esticar a perna.


No bate-papo que se iniciou, devidamente atento a nossa segurança, falávamos de várias coisas, inclusive de como poderíamos achar algum marginal.


Recordo-me de um comentário que fiz sobre a população daquela região: Da mesma forma que a sociedade julga as pessoas pela aparência, somos induzidos a associar a periferia com a obrigatoriedade de encontrar marginais. E o nosso grande desafio é não desacreditarmos disso, sem, contudo, deixar de proteger a maioria honesta dessas regiões.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Apenas um policial

Eu acordo todo dia cedo, como todo trabalhador. Sou um pai de família, vivo do meu salário, ser humano como outro igual.


Sou um homem da lei a serviço do povo. Orgulho-me de ser o que sou. Eu sou apenas um policial.


Ta “grilado” comigo? Eu não sou o perigo! Não me veja como inimigo! Eu sou apenas um policial, a serviço do bem e a procura do mal.


Eu não tenho Bola de Cristal pra saber quem é quem. Todo mundo é igual.


Respeite-me como um cidadão que está só cumprindo o seu papel. Eu tenho que verificar se está tudo certo. E se está tudo certo, vá com Deus. Redobre a atenção e fica sempre esperto.


Pra manter a ordem não depende só de mim. Cada um tem seu papel. O meu papel é policiar. A regra é clara: tem que respeitar!


Eu não me vendo, quem estiver devendo, não me leve a mal. Eu vou fazer o que a sociedade espera de um bom policial.


crônica/canção de Serginho Meriti e Rodrigo Leite
Intérprete: Sargento Lago

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Encontros improváveis (?)

O hotel estava reservado para até o dia 2 de janeiro. Ficaríamos em Curitiba o suficiente para descansar, rever amigos e passar o reveillon.

No sábado, ao invés de arrumar as malas, liguei para a recepção e anunciei que iríamos esticar até segunda-feira. Estava bom demais para não ficar mais um final de semana.


Verificando o meu blog, me deparei com um comentário no texto “Um ano pra ficar na história” onde uma jovem dizia que gostaria de me conhecer. Apresentou-se como estudante de canto e com muito interesse por música.


Após conversar com seus pais ao telefone, combinamos e vieram ao hotel me buscar para um jantar.


Foram um pouco mais de quatro horas de conversa. Entre curiosidades múltiplas, falei sobre as excelentes atuações dos policiais, que pouco se divulga. Dos motivos pelos quais tenho muito respeito pelos profissionais de segurança. Mas, também pude observar a postura admirável de uma tradicional família curitibana, de origem européia. Que, diferente do que às vezes se imagina, está incondicionalmente comprometida com os valores éticos e morais.


Esse encontro deu-se não apenas porque prorroguei a estadia na cidade. Foi mais que isso, foi devido ao envolvimento de uma família com as atividades culturais e sociais e com rara sensibilidade humanística. Preconceitos e rótulos foram ignorados e o intercâmbio foi estabelecido.


Luiza, a filha do casal, é cantora lírica. Soprano de muito talento, mas com interesse em todos os tipos de musica, mesmo que seja feita por um policial. Em breve ouviremos falar muito sobre ela. Só não ainda, pois seus pais evitaram o assédio em cima da moça para que ela pudesse tranquilamente concluir os seus estudos.


Fato semelhante já havia acontecido em 2008, no show do lançamento do meu CD “Profissão Coragem”, no Bixiga, quando jovens admiradores vieram da Cidade Tiradentes - bairro da Zona Leste de São Paulo que ficou conhecido pela divulgação nos cadernos policiais – e do Pacaembu, reduto da classe média.


Desse encontro ficou evidenciado que a única coisa que é improvável é conquistar um mundo melhor sem que façamos a nossa parte.