domingo, 29 de dezembro de 2019

Como atua a Polícia Militar no sertão?







Dando continuidade ao Projeto Polícias Militares do Brasil, em sua terceira edição, atendendo a convocação da missão, que tenho como ideal, estou de partida para o sertão. Pois é, enquanto todos querem praia neste verão, irei ao sertão documentar a vida severina dos nossos companheiros policiais militares e dar voz aos guerreiros esquecidos nos inóspitos terrenos do sertão nordestino.

Vou viajar no mês de janeiro, com previsão de retorno em 45 dias, “Do Vale do Jequitinhonha aos sertões baiano e sergipano”.

Como nesses locais a dificuldade de conseguir hospedagem e alimentação em quartéis é maior, vou precisar de recursos superiores ao que possuo. Por isso estou fazendo uma vaquinha virtual.

Todo valor doado é bem-vindo. 

Estou disponibilizando o meu livro Papa Mike, como contrapartida, para doações acima de R$ 50,00.

Solicito que acesse a Vaquinha Virtual por este link: http://vaka.me/841615

Conto com a sua doação e também com a sua divulgação.

Agradeço antecipadamente a sua participação

Grande abraço

Sargento Lago

domingo, 22 de dezembro de 2019

A nobreza da luta

Sargento Lago 1985 / 2019



De uma família numerosa e poucos recursos, morando na Zona Leste, periferia de São Paulo, onde a xepa da feira era um recurso a ser considerado, em tempos agudos de crise, o anseio pelo conhecimento tornou-se minha única esperança, naquele diminuto universo de oportunidades.

Essas recordações vieram a mente enquanto observava uma foto minha atual, daquelas que a gente escolhe o cenário apropriado para agregar à pose, se ajeita no melhor ângulo e clica várias vezes, pra escolher e postar nas redes sociais.

Nela não vi apenas o veterano Sargento Lago, com tantas histórias e algumas conquistas. Meus pensamentos retrocederam e enxerguei na foto a luta que teve aquele jovem policial inseguro e com carências, mas cheio de desejos de conquistas e esperançoso por alcançá-las.

Trabalhando desde cedo, numa época em que os filhos entregavam aos seus pais os envelopes fechados com os pagamentos, ao final do mês, não existia a mínima possibilidade de comprar aquela calça "boca de sino” e o sapato "plataforma", muito menos o "carrapeta", sonho de consumo dos jovens.

A única calça jeans, desbotada pelo uso e não por causa da moda - e ainda bem que era moda - já rasgada - e aí sim, nem era moda ainda - saía do corpo apenas na hora de dormir ou enquanto estava lavando. E muitas vezes o processo de secagem era abreviado com o ferro de passar roupa, em razão da necessidade de sair.

Ano após ano o desejo de ser "alguém na vida” foi motivo de resignação nos sábados melancólicos em que o consolo eram os bate-papos com os amigos com o mesmo grau de dificuldade financeira.

Ter que sufocar o desejo de uma conquista amorosa por não ter sequer uma roupa decente para o encontro era muito frustrante. Toda garota que tivesse a pele e o cabelo mais cuidados era considerada rica, logo inacessível. E, assim, foram muitas as desilusões, em amores platônicos.

Ingressei na Polícia Militar atendendo a exigência escolar mínima. Para conquistá-la, tive que bater em várias portas escolares, sem sucesso, e, por fim, conseguir por meio do “supletivo”, recurso que permitia sintetizar os três anos do ensino médio com a metade do tempo e da conquista intelectual. Mas fazia parte da regra, então utilizei-me dela.

No serviço a condição de policial me permitia conhecer muitas pessoas. Nelas buscava meu aprendizado de vida. Conversar, conversar, conversar. Dedicava-me a isto. Do velho a criança. Do mendigo ao milionário. A profissão oferecia essas oportunidades.

Nas madrugadas frias, enquanto preservava um cadáver, numa quebrada qualquer - sem ao menos um bar por perto para tomar café - quando o assunto com o parceiro esgotava, acendia um cigarro, quando ainda me permitia esse mau hábito, e - observando o pobre moribundo que tivera seus sonhos e planos encerrados com a morte - imaginava o rumo que poderia dar ao próprio destino.

Era um misto de ansiedade e força para vencer. Por isso tratei de conseguir a aprovação nos concursos para cabo e sargento. Ainda nos primeiros anos na polícia, já sentia a diferença na mudança de status, ao galgar essas promoções.

O desejo incansável na busca pelo conhecimento tornou-me humilde o suficiente para admitir ignorância e interromper conversas para solicitar explicações dos termos e conceitos que desconhecia. Assim adquiri, dentro de todas limitações que tinha, a evolução gradativa ao ponto de sequer perceber em qual momento meu linguajar foi mudando e que deixava de ser apenas um ouvinte para já conseguir estabelecer um diálogo com pessoas cujo nível intelectual era alvo da minha admiração.

Concluir o curso de jornalismo contribuiu na autoestima. Sentia orgulho ao responder qual curso frequentara. Ficava com a sensação que minha opinião ganhava credibilidade, assim adquiri convicção para emiti-las.

Todas experiências agregaram. O curso de paraquedismo trouxe o controle sobre o medo de altura e a perspectiva de dimensão, a partir da altitude, que tornava um estádio de futebol do tamanho de uma bola de gude. Ajudando concluir que a observação distanciada dos problemas pode deixá-los menor.

Utilizei-me do talento para trabalhar a composição musical e isto me mostrou ser possível viver com a realidade cruel da sociedade desigual, sem enrudecer.

E viajar, certamente, das experiências, foi a mais agregadora.

Percorrer cada estado deste imenso Brasil - trocando em miúdos as emblemáticas questões - vistas, até então, apenas pelas telas das tevês, com opiniões conceituais de quem as transmitia - proferidas com o sotaque e o vocabulário dos nativos, com liberdade para interagir com a informação, trouxe a real compreensão dos problemas longínquos que refletem nos grandes centros.

A fotografia que observava exibia a melhor imagem de um homem envelhecido, enquanto as lembranças perpetuavam o jovem vigoroso com suas fragilidades. Em comum ambas traziam o desejo pela evolução como ser humano. Do anseio por construir pontes entre o sonho e as conquistas.

Projeto em todo jovem policial que encontro nas ruas a busca pelos mesmos anseios que tive.

Em tempos de maiores oportunidades e informações, porém também do crescimento do descaso e do desrespeito ao humano, onde banalizam-se sentimentos e sonhos e que valores indisponíveis são negociados em moedas baratas, avalio que o grau de dificuldade que o recruta Sargento Lago enfrentou para galgar cada degrau no seu caminho equivale-se ao do jovem policial atual. Por isso há-se de recrudescer os ânimos e lutar com fibra e garra. Ambicionar a vitória é legítimo. Lutar por ela é nobre.



Ps: A nobreza da luta - Como o recruta tornou-se veterano (Não teve revisão)

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

MAKING OF CLIPE SENDO VOCÊ

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

# 092 QUER GASTAR MENOS?

sábado, 14 de dezembro de 2019

# 091 ALCOOLISMO

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

# 090 RESPEITO AO HUMANO

RESPEITO AO HUMANO

Qual é o ponto em que denunciar a violência policial deixa de ser protesto e passa a ser ato preconceituoso de ataque profissional?


segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

PODCAST #04 - General Peternelli - Bico será crime?

sábado, 7 de dezembro de 2019

# 089 CÃES SÃO FIÉIS

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

# 088 PARAISÓPOLIS: A NOVELA REAL

domingo, 1 de dezembro de 2019

A Polícia Militar e a segunda divisão



A POLÍCIA MILITAR E A SEGUNDA DIVISÃO

O perigo de ser tratado como amador no jogo político


Venho acompanhando as questões políticas com muito afinco e cumprindo um papel que, timidamente, estamos aprendendo fazer: fiscalizar a atuação dos parlamentares que utilizam a imagem da Polícia Militar para atuarem politicamente.

Como sou um veterano da instituição policial, entendo que, por estar incluído nessa representação, posso manifestar-me quando não atuam conforme avalio que seria positivo para a nossa coletividade.




A “bancada da bala” aumentou. Na verdade, inchou. Por isso ainda não experimentamos resultados favoráveis. Faz lembrar algumas equipes de futebol que contratam atletas aleatoriamente, mas o time não demonstra entrosamento em campo. Então, logo surge a transferência de responsabilidade, e cada um coloca a culpa no outro, na tentativa de defender os interesses pessoais, que possam preservar o mandato, em vez de reunirem-se em busca do entrosamento que conduza às conquistas. 

O que gera aflição é perceber que os nossos direitos estão a caminho do rebaixamento, a torcida assiste atônita a uma equipe apática em campo. O plenário tem sido palco de atuações sofríveis capazes de comprometer até a imagem da Corporação.




O que tem me surpreendido, no entanto, é não conseguir entender a manobra política em curso. De repente, num piscar de olhos, inimigos declarados da polícia resolveram sair em nossa defesa. Sim, muito estranhamente, do nada, apareceu o deputado estadual Carlos Giannazi, que passou vinte e cinco anos no PT e agora está no PSOL, em cima do caminhão, na frente do Quartel do Comando Geral, em manifestação a favor do aumento salarial dos policiais militares. 


Estou me perguntando até agora qual foi o momento que eu não acompanhei. Se para você, leitor, não soou estranho, por favor, diga-me, quero compreender. Mas não quero essa resposta dos políticos, pois, vindo deles, precisamos nos acautelarmos.

Ainda me recompondo do impacto da imagem do deputado Giannazi “protestando” a favor da PM, assisti a um vídeo em que a deputada estadual Monica da Bancada Ativista, também do PSOL, faz uso da palavra em sessão ordinária, na ALESP, para defender os professores, que é normal, e os policiais militares. Gente, será que adormeci nos últimos anos e não percebi?




Alguém poderia perguntar, mas o Sargento Lago é ou não é a favor da negociação? Claro que sou. Não vejo outra saída na política se não for por meio dela. Embora alguns políticos prefiram o palanque, sempre vou defender que negociar é o melhor caminho, e não atacar de cima de um trio elétrico quem pode nos conceder benefícios. Mas essa negociação seletiva ser começada a partir do PSOL me deixou de orelhas em pé.

Procedi a minhas pesquisas e descobri flerte de gente da “bancada da bala” com o PT e o PSOL no passado, regado a trocas de elogios em redes sociais. Seria essa aliança repentina um acordo cujo interesse do eleitor ficaria em segundo plano? Não posso afirmar, entretanto creio que tenho o direito de questionar, uma vez que não foi esclarecido e causa espanto. 


Defendo que os policiais militares devem cobrar disciplinadamente os seus parlamentares, obrigando que deem satisfações e sejam transparentes em suas ações políticas, pois se apropriam da imagem e do prestígio da instituição, cuja glória foi conquistada com suor e sangue.





Apenas gritos ao microfone e caras feias não produzem aumento salarial nem confortam estômagos vazios e corações aflitos. Para não esquecer a analogia com o futebol, gigantes desse esporte negligenciaram conceitos básicos para a sobrevivência no meio e hoje estão no ostracismo, jamais reconquistaram as glórias. A nossa farta bancada na ALESP precisa reconstruir a relação entre seus membros e melhorar a interlocução com seus eleitores, sob pena de os envolvidos no jogo político perceberem que não passamos de amadores desunidos que não merecem sentar-se à mesa no momento de participar da festa.

Atualizando: Deputado Giannazi, voltando às origens,acaba de requerer na ALESP que a PMESP dê explicações sobre as mortes no Pancadão de Paraisópolis. 02Dez2019, 16h30

FOTO MEMÓRIA: CARANDIRU


Só pra lembrar que um dia estive trabalhando numa rebelião no presídio do Carandiru, em 1985, enquanto frequentava o Curso de Sargentos. Permaneci na muralha, numa tarde de domingo.