sábado, 27 de março de 2010

Além da coragem


Com freqüência ouço elogios sobre a minha coragem quando comentam sobre a minha carreira musical.


Para essas pessoas, o fato de um policial de carreira subir ao palco – fardado ou não – para cantar mensagens que enaltecem e dignificam os profissionais de segurança é um ato heróico. Alguns adjetivam inclusive como loucura.


Em 2009 encerrei as minhas atividades como policial da ativa e agora me dedico integralmente à música, que neste ano completa 17 anos, apenas cantando segurança.


No CD que estou lançando, “Apenas um policial”, o mestre dos sambistas Almir Guineto interpreta comigo a música “Se segura segurança”, de nossa parceria com Adalto Magalha. No encerramento ele diz: “É uma honra Sargento Lago, mas pára de fazer show fardado porque é muito perigoso”.


Esta semana estive em reunião com um possível investidor e, ao ver as algemas que fazem a função da letra “o” no meu nome artístico, admirado, falou: “Aqui você pegou pesado”. E tentou me agradar: “Gosto de gente maluca”


Talvez seja por isso que a maioria ainda não tenha descoberto que meu trabalho tem muito mais do que apenas coragem. Aliás, não é por ela que quero ser lembrado, mas, pelo menos, pela disponibilidade e determinação em suavizar um tema tão rude em nosso cotidiano, porém de extrema importância, com mensagens musicais que favorecem a reflexão.


Neste novo trabalho, por exemplo, embora tenham músicas de exaltação e também de entretenimento, trago como mensagem central a união dos profissionais de segurança, que pode ser ouvida na citada “Se segura segurança”.


Os companheiros policiais, guardas municipais e vigilantes devem se unir no mesmo objetivo, que é transmitir segurança a sociedade.


Em “Pra dizerem que falei dos espinhos” a letra diz: Humildade não fere autoridade e ter orgulho é diferente de ser orgulhoso. Se precisar, quem vai dispensar se o vigilante vier apoiar?”


O meu consolo é que a tão comentada coragem não é vista com a mesma dimensão pelos meus companheiros de atividade profissional, pois são dotados dela também e, por isso, então, podem prestar a atenção nas mensagens das minhas canções.

sábado, 20 de março de 2010

4o anos sem Mendes Junior

Produzir dois documentários sobre a vida de Alberto Mendes Junior e fazer uma série de entrevistas para escrever um livro, que tem ele como um dos personagens centrais, me deixou tão íntimo do herói da PM paulista que no dia 10 de maio deste ano também sentirei sua morte, ocorrida há exatos quarenta anos.

Mendes Júnior tinha 23 anos. Após toda dificuldade que os pais tiveram para dar-lhe condições de estudar, formou-se na Academia do Barro Branco e trabalhava na ROTA, quando foi designado para participar da Operação em Registro/SP, no Vale do Ribeira.


Sua missão era capturar militantes políticos comandados por Carlos Lamarca, capitão desertor do Exército Brasileiro.


Pego em uma emboscada, ofereceu-se como refém em troca da liberdade da sua tropa, versão contestada pelos inimigos, mas, por terem interesses particulares, prefiro acreditar na versão dada pelos policiais que estavam no evento e que entrevistei.


Por ter sido ferido a tiro no confronto que resultou na sua prisão, Mendes Júnior tinha dificuldades para caminhar pela mata carregando as bagagens de seus algozes. Após uma votação, os guerrilheiros decidiram por sua morte.


Na Vila Galvão, em Guarulhos, dona Angelina esperava o filho para comemorar o dia das mães. Naquele almoço também ficaria noivo. Mas ele não veio.




Essa canção é uma das faixas do meu novo álbum "Apenas um policial".

quarta-feira, 10 de março de 2010

Aí sim, fui surpreendido

Fiquei surpreso ao ler hoje no jornal que o presidente Lula comparou os presos políticos de Cuba aos bandidos de São Paulo.

Será que a popularidade do seu governo está lhe deixando insensível e até fazendo esquecer que um dia já esteve na condição de preso político?

Se bem que dizem que não foi bem assim. A considerar pela sua postura, parece que não mesmo.

Mudando de pato pra ganso, surpresa, mesmo, eu tive ao ler a crônica “Pelo Cano”, do escritor Ruy Castro (Folha de S. Paulo – Caderno A2 – 10/3/2010).

Descobri que cometia um erro gravíssimo, por falta de conhecimento. Como imagino que mais pessoas também cometem pelo mesmo motivo, e precisam saber, transcrevo abaixo.


Pelo cano

Ruy Castro


Outro dia, fui repreendido domesticamente por jogar fio dental no vaso e dar a descarga. A repreensão foi suave, mas firme: um palmo de fio dental pode parecer inofensivo, mas despejá-lo ali é uma das piores agressões ao meio ambiente. "Leva 500 anos para ser absorvido!", disseram.

Só então caí em mim. Um palmo costuma ter 25 cm. Quatro palmos de fio dental por dia, equivalentes a quatro aplicações regulamentares, significam 1 metro de fio dental descendo diariamente pela privada.

Donde, em menos de três anos, despejei 1 km de fio dental de forma imprudente. Fiz um rápido exercício aritmético sobre os anos em que venho cometendo esse deslize e me dei conta de que já fui responsável por quase 20 km de encanamentos, tubulações, esgotos, estações de tratamento, elevatórias e emissários entupidos pelo fio.

Desde então tenho me esmerado em soltar o fio dental no lixinho, para aplausos da galera. Mas será que um dia conseguirei redimir-me pelas espécies que ajudei a asfixiar, obstruir, intoxicar, intumescer ou envenenar com minha insensibilidade ecológica? E de que adiantará tornar-me ambientalmente correto se meus semelhantes ou, digamos, os vizinhos não fizerem o mesmo?

Aliás, que vexame. Li no jornal que os campeões de entupimento de esgotos são absorventes, algodões, camisinhas, cotonetes, cuecas, fraldas, o dito fio dental, plásticos e até comestíveis, como pizzas aos quatro queijos, bruschettas e mortadelas. Tudo pelo cano. E ouvi dizer que se achou uma boneca inflável com pouco uso numa galeria pluvial em Copacabana.

Claro, as autoridades têm de cumprir a sua parte. Mas também quero contribuir: se um dia eu tiver celular e ele me provocar um acesso de fúria, prometo não me vingar dele varejando-o no vaso e dando a descarga, como já fizeram.

Fonte: Folha de S. Paulo

sexta-feira, 5 de março de 2010

Conflito


Saí para a minha caminhada matinal com uma preocupação, tinha que escrever um texto para o blog.

A periodicidade em ter de fazê-lo, custa-me desprendimento de energia sobrecomum na hora de buscar o tema.

Logo na chegada ao parque, onde realizo minha atividade, presenciei o início de um conflito, que só chamou a minha atenção pelo inusitado.

Uma senhora estava parada, como quem aguardava alguma pessoa. Segurava pela coleira um enorme cão Rottweiler.

Passava por ela um jovem, desses malhados em academia, com seu Chihuahua também encoleirado, quando o pequeno cão decidiu desafiar o grandão com seu latido fino. Para desespero de todos que estavam assistindo a cena, seu oponente aceitou a briga.

Não bastasse a dificuldade em controlar a ira dos cães, iniciou-se também um bate-boca entre os donos. Um imputava sobre o outro responsabilidades.

O equilíbrio de forças entre si foi suficiente para esvaziar aquele desentendimento, contudo vislumbrei ali uma chance de transformá-lo em algo relevante e, assim, ter o conteúdo que buscava.

Apressei-me em iniciar o percurso rotineiro de quatro voltas no parque, que me custa cerca de quinze minutos cada uma e, no trajeto, fui alçando meu plano de vôo para o texto.

Desentendimentos ocorrem diariamente. Por um motivo ou outro, o convívio social acaba gerando desagrado. São tão banais e rotineiros que geralmente não merecem destaques. Com algumas exceções, como aconteceu entre Hugo Chávez, presidente venezuelano, e o rei Juan Carlos 1º da Espanha, numa reunião de cúpula.

Nesse caso que presenciei, a desavença apenas mereceria uma divulgação e ganharia emoção se eu incluísse mais elementos. Por exemplo, as chegadas do marido da senhora, da namorada do rapaz e de alguns transeuntes, com ânimos acirrados, tomando partido.

Para valorizar ainda mais a crônica e favorecer na sua repercussão, incluiria também a chegada de pessoas ligadas a entidades de proteção de animais e até uma viatura da PM.

Claro que tinha a intenção de avisar meus leitores de que apenas o início era real e que o tempero apimentado a mais era fictício.


Pronto, estava com o meu problema solucionado. Não via a hora de finalizar meu exercício e voltar pra casa. Os estímulos visuais da praça, sobretudo no que se referem as elegantes mulheres que por lá transitam com suas roupas da moda fitness, que causam verdadeiro frisson, poderiam me conduzir involuntariamente para outro tema menos indicado ao meu público leitor.

Chegando a minha casa, enquanto aguardava a temperatura do corpo normalizar para tomar o banho e depois sentar-me a frente do computador, decidi dar uma olhada na revista Veja SP, da qual sou anunciante.

Para minha surpresa, e por que não dizer decepção, descobri que o formato que eu tinha brilhantemente pensado, antes de mim, Ivan Ângelo já havia utilizado em sua crônica “Ânimos Exaltados”. (Veja SP 3/3/2010).

quarta-feira, 3 de março de 2010

Saudades de Campinas

Um dia estava me sentindo desmotivado pela falta de novos acontecimentos. Trabalhava na Diretoria de Ensino, que fica no quinto andar do prédio do Centro Administrativo, conhecido também como “Panelão”.

Desci alguns andares e fui a Diretoria de Pessoal solicitar movimentação para o interior. Qualquer lugar servia, queria um pouco de novidade.

Movimentação de um batalhão para outro não é muito fácil. Quando é da Capital para o Interior, fica pior ainda. Mas, após olhar as unidades disponíveis e o tempo que deveria esperar, descobri que para o 35º BPM/I (Batalhão de Polícia Militar do Interior), na cidade de Campinas/SP, a transferência seria praticamente imediata, devido a ser um batalhão novo. Sem pestanejar, dei entrada na minha solicitação e pouco tempo depois foi publicada minha transferência.

No dia anterior a minha apresentação, cheguei a cidade e me hospedei num hotel, para que não houvesse atraso.

Embora desejasse trabalhar na ROTAC (Rondas Táticas de Campinas), que tinha a metodologia de trabalho inspirada na ROTA (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), da Capital, fui designado para comandar a guarda do presídio de Hortolândia, cidade vizinha.

Durante esse período de adaptação, permaneci alojado no próprio local de trabalho, o que propiciou melhor entrosamento com os colegas e também algumas aventuras culinárias.

Eu estava ocupando o lugar do sargento Odílio, que tinha ido fazer curso. Quando voltou, teve que ficar sob meu comando por ser mais moderno. Porém, com a habilidade de ambos, a convivência foi tão boa que acabamos nos tornando grandes amigos.

Tempos depois trabalhamos juntos na ROTAC, fui morar numa casa sua que aluguei e até tornei-me pontepretano, após levar-me ao Estádio Moisés Lucarelli. Aliás, a única camisa da macaca que tenho ganhei dele.

Quase dez anos depois do meu retorno para São Paulo, fiz uma homenagem incluindo seu nome na música “Boca Aberta”, do CD Profissão Coragem.

Esse período curto que estive em Campinas, apenas dois anos, foi tão marcante que, embora tenha sido baleado numa ocorrência e capotado o meu carro, as grandes amizades conquistadas lá me fazem até hoje ter um grande carinho pela cidade e sentir saudades dos companheiros.