sábado, 31 de dezembro de 2016

2016: Um ano para não esquecer



Fiquei ausente da minha família nos últimos cinco anos, por estar desenvolvendo projetos fora de São Paulo, mas em Janeiro participei do aniversário da minha irmã mais velha, Lucia Helena, matando saudades do convívio da família.

Iniciei o ano com a expectativa do lançamento do livro Papa Mike – A realidade do policial militar e, após muita dificuldade que o processo de publicação de um livro exige, fiz os lançamentos no Rio de Janeiro (19/6), em São Paulo (23/6) e Campinas (11/8). Foi um sucesso, graças a Deus.

Também em Junho (19), fui condecorado com o “Policial do Ano”, no Rio de Janeiro, pelo jornal Imprensa do Policial, em razão do projeto Policias Militares do Brasil, que gerou o livro Papa Mike.

Agora no final do ano, dia 21 de novembro, tive a honra e satisfação de participado do evento Vernissage/Sarau: Dois Policiais, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo – ALESP, com o Cabo PM Clayton Silva, artista plástico.

Para terminar o ano em grande estilo, passei o Natal com toda minha família. Enfim, foi um ano muito abençoado, graças a Deus.

Desejo a todos boas festas e um 2017 muito feliz.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Previdência: privilégios aos policiais por quê?


Previdência: privilégios aos policiais por quê?

As polícias não gostam de expor suas dificuldades, apenas se empenham em divulgar suas boas ações, o que faz acreditar que somos super-heróis e que suportamos uma carga triplicada.

Todavia, como a necessidade exigiu, o Centro de Comunicação Social da Polícia Militar do Estado de São Paulo – CcomSoc -, comandado pelo coronel Franco Nassaro, produziu um excelente vídeo que mostra suas dificuldades para exercer o trabalho de excelência que realiza e sensibilizar a opinião pública, gerando efeito nos parlamentares, para evitar que tirem os “privilégios” da categoria, na reforma da previdência.

No vídeo policiais militares de diversos setores, inclusive da saúde, e o comandante geral, coronel Ricardo Gambaroni, falam sobre o que diferencia o policial das demais profissões.

Coloquei privilégios entre aspas porque na verdade ele não existe. É apenas a retribuição de outros direitos civis que não têm e os muitos sacrifícios, a saber:

O policial mesmo de folga tem obrigação de intervir nas ocorrências flagrantes; atendendo a necessidade do serviço, pode ser transferido para cidades distantes da que reside seus familiares.

Enquanto os profissionais civis trabalham quarenta horas semanais, totalizando 57.600 horas ao longo de 30 anos, no mesmo período o policial, em razão das suas mais diversas escalas extraordinárias, flagrantes e operações, trabalha 82 mil horas, sem, contudo, receber hora extra. Isso equivale a 43 anos de serviço.

Não têm direito a adicional noturno, aviso prévio, sindicalização e greve. Trabalha sob rígido regulamento disciplinar e, em caso de demissão, não possuem direitos trabalhistas, como Fundo de Garantia e auxílio desemprego.

Quando entra na profissão, têm a saúde melhor que a média da população, porém mais rapidamente ficará pior que a média.

As condições de trabalho insalubres lhe obriga entrar em diversos tipos de ambiente, nas variadas e desfavoráveis condições climáticas e carregando sobre o corpo, no mínimo, quatro quilos de equipamentos.

O estresse pós-traumático é realidade nas suas vidas, em razão do contato diário com os diversos tipos de ocorrências que atendem. Por isso são mais afetados por desequilíbrio do metabolismo e estão mais sujeitos a doenças como diabetes, pressão alta e obesidade. Seu risco de morrer por problemas cardiovasculares é 50% maior que a população em geral, além de morrerem três vezes mais por doenças infectocontagiosas.

No estado de São Paulo a taxa de mortalidade dos policiais é cinco vezes maior que a de todos os paulistas.

Por esses motivos não podem, nessa hora da reforma da previdência, dar o mesmo tratamento aos policiais. O policial deve ter ao menos um único incentivo para suportar essa carga pesada da profissão que abraçou.

Que a indiferença da sociedade para com os seus policiais não contamine os parlamentares que irão decidir sobre esse assunto, pois tratamento diferenciado não será concessão de privilégio, mas justiça.

*Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago no Portal Stive, de Brasília.


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Parlamentares policiais dão tiro no próprio pé

Parlamentares policiais dão tiro no próprio pé

Num momento em que a sociedade brasileira clama por justiça e almeja ver os corruptos na cadeia, veio como um soco no estômago a notícia de que alguns parlamentares policiais tivessem votado a favor da fiscalização mais rígida ao judiciário.

Embora seja justo exigir que o judiciário se responsabilize pelos excessos que vier a cometer, o momento e a forma com que o legislativo tratou a questão, e sua intenção, pareceram uma afronta ao anseio popular; afinal, o povo habituou-se ultimamente a enxergar nas entrelinhas as mais diversas espécies de favorecimentos quando se trata de seus representantes. Desta vez o olhar acurado recai sobre as pretensões de um rol expressivo de suspeitos, alvos da Operação da Lava Jato, qual seja, acuar quem lhes pode colocar atrás das grades.

A divulgação dos nomes que votaram SIM e que, por consequência, foram acusados de serem contra a Lava Jato, promoveu uma enxurrada de mensagens de protestos que obrigaram os policiais parlamentares a se justificarem com seus eleitores.

Eleito deputado federal pelo estado de São Paulo, em seu primeiro mandato, o capitão Augusto, que está na lista do SIM, tirou do ar sua página do Facebook e avisou que não irá mais utilizar a farda da corporação paulista, como habitualmente o fazia nas sessões da Câmara dos Deputados, por não suportar o que ele chama de “autofagia PM”.

O referido parlamentar é o mesmo que dias atrás veio a público defender a sua colega de Câmara Maria do Rosário, do PT, de não ser a autora de um texto atribuído a ela em que defendia os três marginais mortos pelo tenente que dirigia um carro UBER, em São Paulo.

Também acho legítimo sair em defesa de alguém acusado injustamente, mas a aproximação com os inimigos declarados dos policiais aliada à decisão de votar atendendo ao interesse dos corruptos não soou bem e garantiu-lhe adjetivos desonrosos. Os mesmos que recentemente ele utilizou para vituperar um jornalista.

Eu ainda pretendo falar muito sobre a representatividade parlamentar dos policiais aqui, mas gostaria neste momento de dizer ao nobre deputado que nossa expectativa é que ele tivesse uma atuação mais objetiva na luta pelos nossos interesses, em vez de empenhar-se na fundação de mais um partido – como se já existissem poucos – ainda que com a justificativa de ser um partido militar e que seria benéfico à categoria, quando sabemos que na prática a política exige muito mais o poder de negociação do que qualquer outra coisa e, para isso, neste momento fundar partido não é prioridade.

Questões como a previdência e o tempo de serviço, por exemplo, interessam mais aos policiais que propriamente essa pressa em fiscalizar o judiciário. Aliás, a prioridade zero do país é colocar todos esses corruptos na cadeia.

Engana-se o político que imaginar que sairá impune de uma traição aos eleitores.

Finalmente chegou o momento em que efetivamente a sociedade abriu os olhos para as manobras que a sacrifica. Ou se atentam para essa nova realidade ou esse tiro que deram no próprio pé pode evoluir para uma gangrena e levá-los à morte política.

*Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago no Portal Stive, de Brasília.


terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Policiais mortos: aviões que caem todos os anos.

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O que os policiais e seus familiares desejam é que as autoridades tenham o mesmo interesse em desvendar as causas das mortes dos policiais



Policiais mortos: aviões que caem todos os anos.


Estamos todos consternados com a queda do avião que levava a delegação da Chapecoense para Medellin, Colômbia, onde disputaria a primeira partida da final da copa Sul-americana, e vitimou 71 pessoas.

Aos familiares e amigos, prestamos nossa solidariedade. Todavia, nesse momento de comoção - sem ser oportunista, mas aproveitando a oportunidade de reflexão que a morte coletiva traz – quero reavivar-lhes a memória de que anualmente caem pelo menos dois aviões repletos de policiais debaixo de suas janelas e aos olhos de suas indiferenças, somente no Rio de Janeiro neste ano, que ainda não acabou, 106 guardiões da constituição e dos direitos individuais. A única divergência é que ocorrem em dias distintos.

O que os policiais e seus familiares desejam é que as autoridades tenham o mesmo interesse em desvendar as causas, como ocorre nesses eventos, e se apressem em abrir as caixas pretas que vão acusar as causas de tantas mortes, para evitar acidentes futuros.

Quem sabe essas caixas pretas possam revelar a política equivocada dos governantes, as leis mal elaboradas que protegem marginais, em detrimento da segurança dos policiais e, por consequência, da sociedade, entre outros.

No voo com a delegação Chapecoense especula-se a possibilidade de “pane seca”, ou seja, a falta de combustível. Nas tragédias urbanas que ceifam nossos policiais as causas não são menos primárias.

Quem sabe pudéssemos ver a sociedade mobilizada contra a morte de tantos jovens policiais que, sonhadores iguais aos jogadores de futebol, desejaram como título uma família constituída, apoiar financeiramente seus pais, concluir uma faculdade ou ver seu filhinho nascer. Até mesmo o veterano ceifado pouco antes de chegar ao júbilo da aposentadoria em que planejava, enfim, curtir a sua família e ser um avô dedicado, para resgatar a deficiência que teve como pai, em razão do tempo gasto com o seu trabalho.

Talvez os programas de televisão tirassem um dia para sensibilizar todos, desde o primeiro jornal do dia. Continuaria com os programas matutinos, trazendo especialistas no assunto para um debate.

Nos programas infantis, nesse dia poderia passar desenhos que inspirassem as crianças a ver o policial como seu amigo, para crescer respeitando as autoridades constituídas.

Ao chegar o horário dos programas esportivos, poderiam fazer pautas com policiais que vão aos estádios com seus filhos ou até mesmo de filhos que ficaram sem o seu melhor amigo, o pai, para assistir ao futebol.

Nos vespertinos em vez de fofocas de artistas, poderiam mostrar as esposas e mães desses guerreiros que fazem arte todos os dias para suprir a ausência do policial que ora está na corporação, ora nos trabalhos extras que complementam suas rendas.

À noite, depois do telejornal mostrando o trabalho dos policiais do mundo todo, com infográficos e comparativos da realidade brasileira bem mais difícil, o capítulo da novela poderia ter nos textos dos atores falas que confortassem a família policial e despertassem a sociedade para a necessidade de valorizar esses profissionais.

Para finalizar, o programa humorístico não faria nenhuma piada com a profissão do policial. Nesse dia, pelo menos, eles constatariam que fazer chocarrice com qualquer profissão não tem graça alguma.

Sem ser oportunista, mas aproveitando a oportunidade de reflexão que a morte coletiva traz – quero refrescar-lhes a memória de que nossos policiais mortos são aviões que caem todos os anos.

*Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago no Portal Stive, de Brasília/DF.


quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Onde mais está o crime organizado?


A partir de atitudes que contrarie o senso comum, não pode existir ninguém insuspeito


Onde mais está o crime organizado?


A prisão do Vice-presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos, Luiz Carlos dos Santos, e de outros advogados suspeitos de movimentar o dinheiro do crime organizado, em São Paulo nesta terça-feira (22), além de confirmar o que já se suspeitava, acende o seguinte alerta: onde mais está o crime organizado?

Com a intenção de dominar o sistema, os criminosos decidiram, além de cooptar profissionais que trabalham nos setores de seu interesse, inserir seus membros nos setores onde facilitaria a sua atuação. E isso hoje é uma realidade.

A sociedade brasileira não poderia continuar sendo tachada de intransigente e atrasada por manifestar seu desconforto diante do que já ficou conhecido como “direito dos manos”, cenário em que o cidadão de bem nunca é protegido e a polícia sempre é criticada. Não seria justo viver estigmatizada apenas como alienada política que ainda está contaminada com os métodos da ditadura somente por levantar suspeita contra as ações dos abnegados “ativistas” que transformam infratores em vítimas e cumpridores da lei em opressores. Finalmente se desmascarou a farsa e apareceu a verdade: as leis brasileiras continuam sendo deturpadas para fortalecer os criminosos, e o poder está sendo utilizado para fragilizar as instituições.

No mundo atual, a partir de atitudes que contrariam o senso comum, não pode existir ninguém insuspeito, pois os desvios éticos assumiram proporções inimagináveis e transformam nossas frustrações em angústia e impotência. Nesse contexto desolador, torna-se imperativo reavaliarmos nossa conduta e responsabilidade perante a nação e assumirmos uma postura proativa ao depararmos com qualquer indício de favorecimentos pessoais nas diversas esferas do poder público, principalmente dos legisladores.

É importante que sejamos mais críticos em nossas avaliações para observar e denunciar qualquer pessoa, independente da atividade profissional, seja ela jurídica, eclesiástica, acadêmica, política ou qualquer outra, cuja atuação contrarie o que dela se espere. Devemos admitir que ela possa estar a serviço de interesses escusos e exigir a devida investigação.

Não podemos aceitar passivamente que criminosos presos em flagrante sejam colocados em liberdade; que leis explicitamente favoráveis a bandidos sejam aprovadas; que as autoridades policiais sejam afrontadas e colocados em xeque a partir de denúncias caluniosas.

Mas isso não basta. A vigilância deve ser minuciosa e é preciso muito cuidado com as críticas despretensiosas e gratuitas contra as instituições, pois involuntariamente os interesses do crime organizado podem estar sendo atendidos à medida que se promove o descrédito das instituições, que são a base de sustentação da sociedade.

Não vamos apoiar e ou disseminar a discórdia. A luta deve continuar, os protestos devem existir, porém jamais deveremos servir aos interesses dos fora da lei. Bandido é bandido. E lugar de bandido é na cadeia. Se ficarmos dando voz e garantindo direitos imerecidos a estes, estaremos subtraindo do povo ordeiro e trabalhador a sua garantia de viver num país melhor.

Sejamos cautelosos e atentos, até porque não sabemos onde mais está o crime organizado.

*Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago no Portal Stive, de Brasília/DF.



sábado, 26 de novembro de 2016

Vernissage+Sarau: Dois Policiais



Aconteceu no último dia 21/11 a vernissage/sarau com o artista plástico Cabo Clayton Silva e o escritor Sargento Lago, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.


Lago fez a leitura de um texto do livro Papa Mike - A realidade do Policial Militar e depois interpretou uma de suas canções, voz/violão,  Somos a Polícia Militar. 






terça-feira, 22 de novembro de 2016

O Armagedom carioca prenunciado


Cansados das críticas e falta de apoio, policiais desabafam nas redes sociais contra tudo e todos que se voltam contra a profissão


O Armagedom carioca prenunciado


A crise política e econômica do estado do Rio de Janeiro, que afetou a segurança e teve desdobramentos drásticos neste final de semana, pode desencadear uma revolta maiúscula, antecipando o Armagedom carioca prenunciado.

As prisões de dois ex-governadores acusados de corrupção e, por consequência, responsabilizados pela falência do estado, agravados pelas ações ostensivas dos marginais, com arrastões e assassinatos de policiais, mais a queda do helicóptero com quatro tripulantes da corporação, transformou a “cidade maravilhosa” em local inóspito.

Minha preocupação está no papel que a polícia vai desempenhar nesse apocalipse: exercendo a capacidade de guerrear, com homens capacitados que sempre teve, ou agindo com a emoção dos salários defasados, a pressão de infiltrados e, ora vejam, de alguns colegas desavisados que estão engrossando sem saber o coro do “quanto pior, melhor”?

Pela internet, companheiros policiais de todo Brasil estão enviando mensagens de incentivo aos irmãos cariocas para que cobrem essa “bronca”. Alguns até se prontificam de lugares longínquos para se alistarem nessa batalha, como se isso fosse possível, exceto se convocado pela Força Nacional.

Esse clamor acrescenta uma carga ainda maior de adrenalina aos irmãos cariocas que, além de toda a pressão que vivem, não sentem a própria segurança para transitar pelas ruas e, por isso, alertam um aos outros: “evitem sair de casa desnecessariamente”.

Outro dia dois policiais foram aplaudidos por terem abandonado o pelotão em que estavam devidamente escalados, na manifestação dos policiais, defronte a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de janeiro – ALERJ. As manifestações de admiração vieram de seus colegas que lá protestavam e depois de companheiros de todo o país pela internet.

Vamos ser responsáveis. Quando eu falei em “Policiais invertendo valores”, no texto anterior, ganhei uma vaia nacional. A primeira veio do meu próprio irmão, policial da ativa. “Por você não estar mais no ‘Olho do furacão’, está fazendo essa avaliação, mas para quem está na guerra diária a visão é diferente”.

Exatamente, por estar nessa condição, tenho a obrigação de ser ponderado, mais que isso, devo alertar os meus companheiros, a começar pelo meu irmão, de que qualquer atitude tomada sob forte emoção é muito perigosa. Quem vai sustentar a família dos dois policias do choque que abandonaram o posto e, muito provavelmente, serão demitidos? E os policiais que poderão ir para a cadeia, caso cometam excessos, motivados por essa massa inflamada? Quem irá aparecer para amparar os seus familiares? Raciocinem.

O que temos a fazer nessa hora é manter os ânimos serenos e contribuir com boas ideias, caso tenhamos, e dar apoio moral aos nossos companheiros distantes para que consigam corrigir esse quadro dramático por que passam.

Estive recentemente no Rio, por duas vezes. Meu amigo, a coisa está pior do que se imagina. Nossos companheiros policiais cariocas são verdadeiros heróis.

Vamos guardar nossa valentia para efetivamente ser uma força a mais para nossos irmãos, enviando mensagens para formadores de opinião e autoridades que possam ajudá-los. Essa guerra de palavras só aumenta o estado de insegurança. Utilizemos nossas armas intelectuais. A distância, serão mais valiosas.


sábado, 19 de novembro de 2016

Policiais invertendo valores



Eu participo de muitos grupos de policiais. Neles, além das exageradas e - por que não dizer desnecessárias cenas de violência que os participantes trocam entre si, tenho percebido policiais invertendo valores.

Quando digo do excesso das imagens, refiro-me à dose suplementar de violência que eles já vivem no seu trabalho. Desculpe a sinceridade, logo mais o corpo vai reclamar disso e poderá ser muito desastroso para a vida de cada um. Basta uma visita na psiquiatria do hospital da Polícia Militar para constatar o que digo.

Contudo, o que tem chamado a minha atenção, e  nesta semana se potencializou, é a quantidade de policiais invertendo valores em comentários sobre situações de que tomam conhecimento.

No Rio de Janeiro, durante a justa manifestação dos policiais contra o pacote do governo que quer diminuir o salário dos servidores, um grupo de manifestantes expulsou do local o jornalista Caco Barcellos, com xingamentos e agressões físicas.  Na reprodução das imagens nos grupos, li impropérios e escárnios ao profissional, que segundo seus opositores “defende bandido”.

Primeiro, achei uma covardia extrema agredir um homem de 66 anos em pleno exercício de sua profissão. Segundo, a profissão dele é esta. Se concordamos ou não, é outra questão. Quantas pessoas criticam as abordagens policiais erroneamente?

Na outra situação que, novamente, vi policiais invertendo valores, foi quando exibiram uma imagem do programa Encontro, apresentado pela Fátima Bernardes. Numa pesquisa entre os presentes, queriam saber qual seria a prioridade de atendimento: Se ao policial levemente ferido ou ao traficante gravemente ferido. Claro que, usando do bom senso, a maioria respondeu que seria o traficante. Foi o suficiente para dizer que a apresentadora e a emissora dela defendem bandidos, etc.

Eu até admito a possibilidade da intenção de má fé da pergunta, mas a questão é muito clara. Se eu como policial não souber qual a prioridade de atendimento numa catástrofe, poderei salvar quem já estava salvo e perder vidas que daria tempo de salvar, caso tivesse feito a escolha certa ao priorizar o atendimento.

Vivemos dias de más notícias diariamente. O brasileiro está esgotado com tanta roubalheira e descaso dos governantes; mas ,se permitirmos que esse caos influencie nosso bom senso, veremos com mais frequência policiais invertendo valores.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Vernissage / Sarau: Dois Policiais

Estão todos convidados para a Vernissage/Sarau: Dois Policiais, com Cabo Clayton Silva e Sargento Lago


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

[Resenha] Papa Mike - A realidade do Policial Militar

‘Papa Mike’ destrincha a realidade da PM no Brasil


O Vai Lendo conversou com o Sargento Lago, policial aposentado autor de ‘Papa Mike: a realidade do policial militar’, que falou sobre a experiência de viajar pelos quartéis do país para observar a rotina dos policiais, desconhecida pela sociedade

Juliana d'Arêde


‘Papa Mike’ destrincha a realidade da PM no Brasil

Um profissional questionado. Que arrisca a própria vida para salvar outras, mas também as tira. Uma eterna luta do bem contra o mal, cujos detalhes só podem ser registrados e apresentados por alguém que efetivamente viveu nesse conflito interno e externo diariamente. Portanto, nada mais justo do que um policial militar ser o autor da obra que nos leva a refletir e a debater a questão da segurança pública e o dia a dia de uma classe que divide a opinião da sociedade. E é sob o ponto de vista do jornalista, escritor, compositor, cantor e profissional da reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Sargento Lago, que chega aos leitores Papa Mike: a realidade do policial militar.
Disponibilizada em formato físico e digital, a obra faz uma imersão na rotina da PM (Polícia Militar e Papa Mike, no alfabeto policial e nas comunicações em rádio) e traz depoimentos de policiais de todo o país, reunidos a partir de um projeto pensado pelo autor com o objetivo de mostrar a realidade dos quartéis, a partir de vários contextos. Em entrevista ao Vai Lendo, Lago exaltou a importância de mostrar o lado humano dos policiais, uma vez que, segundo ele, essa é a parte geralmente esquecida por todos os pré-julgamentos. E isso também, de acordo com ele, foi o mais difícil, já que Lago também tinha que reviver todas as suas experiências para desenvolver a obra, inclusive, as mais dolorosas.
Durante toda a minha carreira, sempre tive um foco no lado humano do policial”, afirmou. “Via em meus companheiros as mesmas necessidades que sentia e ninguém intercedendo por nós. Por isso, desenvolvi uma carreira paralela com a música, cantando a rotina policial, tentando com isso valorizar nossos companheiros e, ao mesmo tempo, mostrar para a sociedade esse humano que vestia a farda. Mas a maior dificuldade no livro foi exatamente escrever as minhas memórias. Toda vez que tinha que abordar minhas experiências eu travava. Era como se eu sentisse aquela dor novamente. Então, parava e retomava em outro momento em que estivesse mais forte emocionalmente para visitar a própria memória”.

Como policial aposentado e jornalista, muitas vezes, Lago exerceu duas funções que, hoje em dia, são regularmente vistas com receio pela população. No entanto, ele afirmou que não houve complicações para separar os papéis, visto que ele tinha plena noção de seu dever em ambos os casos. Tanto pela farda que já vestiu quanto pela informação que ele desejava passar para a sociedade no livro. E também não se omitiu ao apontar os erros e imperfeições. A transparência, ele ressaltou, foi fundamental durante o processo para que ele conseguisse obter os depoimentos de seus colegas.
“Acho tranquilo separar os dois papéis”, disse. “Como policial sabia do meu dever. Fiz de tudo para acertar, sempre. E, quando errei, foi tentando acertar. Não foi um erro deliberado. E como jornalista exerço a minha crítica. Sempre fui muito crítico. No livro não poupo críticas à policia porque sempre critiquei. Por conhecer na intimidade, sei das suas limitações e critico para que haja uma melhora, pois todos ganharão com isso: sociedade e policiais. Foi uma relação transparente (com os colegas entrevistados). Me apresentei e disse o que pretendia fazer. Em razão de também ser um policial conquistei a confiança deles, o que facilitou obter muitas confidências e desabafos. Por outro lado, sempre lembrava que era também um jornalista e que me interessava saber exatamente sobre os assuntos que sei serem tabus, ou que os comentários públicos são evitados, em razão do rígido regulamento disciplinar que rege as corporações. Alguns concordaram, desde que fosse preservada a sua identidade, e outros, em tom de desabafo, não fizeram questão do anonimato”.
Após trabalhar em cima do projeto por dois anos – com tantas informações valiosas em vídeos que, logo, se fez necessário passá-las para as páginas -, Lago nos apresenta uma obra que aborda a desigualdade social-  que, por mais que as pessoas esqueçam, afeta e muito boa parte dos policiais -, as batalhas enfrentadas por eles dentro de seus medos, insegurança, receios e dificuldades, além de enfrentarem diariamente os julgamentos sociais. Contudo, o autor também não deixa de apontar as melhorias a serem feitas para ajudar não apenas os profissionais a terem mais dignidade em suas funções, mas também a sociedade como um todo. Assim, ele indica ainda as particulares das PM em todo o país, com peculiaridades que geralmente passam despercebidas aos nossos olhos. Para ele, isso acontece pelo fato de todos enfrentarem problemas semelhantes em suas rotinas e quartéis, o que consequentemente limita a percepção do “material humano”.
“No sertão nordestino, você encontra um policial mais rude”, explicou. “Os treinamentos que ele recebe são muito pesados, chega a parecer castigo físico, mas é adequado para a cultura da qual ele está inserido. E, quando ele interage com a sociedade, vai deparar-se com pessoas que lhe darão o mesmo tratamento. Cheguei a ouvir de um policial de Alagoas: ‘em São Paulo, vocês são muito educadinhos (disse porque acompanhava um programa de TV que mostrava a rotina do policiamento em SP). Se fizerem isso aqui, o ladrão bate na cara de vocês’. No Sul, numa manifestação de ‘sem terras’, ouvi um policial dizer para um manifestante: ‘acredite no que digo, sou um gaúcho como você’. E o manifestante aceitou a condição que ele sugeriu”.
Mesmo tocando num assunto tão delicado e correndo o risco de ir contra a opinião pública, Lago garantiu que o livro supre a curiosidade e atende a qualquer público, seja o cidadão comum ou o policial. Contudo, o escritor reiterou que não espera que esses questionamentos sobre a policia sejam o principal atrativo para a leitura, visto que a obra é bem mais profunda e abrangente, e muito menos se mostrou preocupado com qualquer tipo de censura ou obstáculo.
“A conduta da polícia sempre foi questionada”, apontou. “Ainda que, neste momento, os questionamentos sejam mais frequentes. Mas também não me agrada imaginar que isso possa ser um atrativo para a leitura do livro. Entendo que, em razão das ações da polícia (boas ou más) interferirem diretamente no cotidiano das pessoas, conhecer o conteúdo do livro vai contribuir para que o leitor saiba o que de fato ocorre na rotina desses profissionais para daí fazer seus questionamentos com mais propriedade. O livro atende aos policiais e ao público em geral. Trato de questões intra muros, como promoções, regulamento disciplinar, assédio moral, desvio de conduta e também questões sobre homossexualidade, fetiches com a farda, violência policial, entre outros assuntos, apresentando ao policial questões que ele tem que começar a debater para ver os seus direitos respeitados. Aos cidadãos, apresento uma polícia na intimidade, o que vai lhe possibilitar entender um pouco do sentimento daquele policial que ele vê na padaria tomando um cafezinho ou o que está incursionando uma comunidade com o fuzil na mão”.
Sobre o momento atual pelo qual o país e sua classe passam, Lago foi bastante objetivo ao declarar que a solução precisa ser pensada para o bem de todos e que a maior conquista de um policial atualmente é a sua própria sobrevivência.
“Temos que buscar uma solução para a sociedade”, indicou. “Vivemos numa época de crise moral. As notícias nos dão conta de um país apodrecido pela corrupção. Todos estamos sofrendo. O trabalho da polícia nunca vai acabar. Compete-lhe a dura missão de entrar numa guerra diariamente em que não haverá vencedores nem vencidos. Parece-me que o maior desafio do policial, neste momento, é manter-se vivo”.
Para saber mais sobre o livro e adquirir um exemplar acesse: www.sargentolago.com.br

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Lições da manifestação dos policiais no RJ


Lições da manifestação dos policiais no RJ

O Rio de Janeiro está no caos e não é de hoje. Como lá eles têm facilidade para transformar pequenos eventos em grandes realizações, com holofotes e pirotecnias, faz- a quem está de fora - acreditar que o drama e a comédia têm relacionamento fixo, e tudo vai bem. Mesmo havendo um deslize aqui e outro ali, de parte a parte, não são suficientes para atingir a relação de forma substancial, a ponto de levar a uma ruptura que chegue ao divórcio.

Quando a observação é mais apurada e alcança o que a fantasia criada procura esconder, chega-se à conclusão de que a única instituição que manteve e mantém o estado equilibrado neste slackline mortal foram e são as instituições policiais em que pese todo escárnio que sofrem ao longo dos anos.

O policial é resiliente, todavia, quando mexem no seu salário e consequentemente afetam a sua família, o caldo entorna. Nenhum regulamento disciplinar castrador segurará uma turba enfurecida. Não bastasse isso, como mostra da nova mentalidade que já está alcançando as polícias, graças a Deus, o comandante geral da PM carioca autorizou seus subordinados a se manifestarem, como tem direito todo cidadão.

Na última terça-feira (8/11), participaram de uma manifestação na frente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, em que se reivindicava a não aprovação de uma proposta do governo de reduzir salários em até 30%, entre outros, conhecido como “Pacote de maldades”. Num dado momento, enfurecidos pela recusa de serem recebidos pelos parlamentares, decidiram invadir o Palácio Tiradentes e, além de vandalizar gabinetes de deputados, subiram até na mesa da presidência e, assim, cometeram atos que, por ofício, sempre combateram.

Apesar da imagem de força que ostenta, o policial é vulnerável. Tem nome, sobrenome, endereço, farda, escala de serviço, rotina e regulamento disciplinar rígido. Bandido não. Tem de todo jeito. De terno, batina, toga, com imunidade, influência, anônimo e famoso, com e sem poder, nos palácios e nos barracos... São muitos e estão por todos os lados. Por isso nosso poder não está na farda e nem sequer na arma que portamos, muito menos na truculência e nas ameaças de que “acabou o amor”, e “isso aqui vai virar um inferno”. Nosso poder está na ação inteligente, aquela que não aceita manobras nem infiltrados, não aplaude falsos representantes, construídos e ou mantidos pelos opressores, que fazem o “alho e óleo” para ser visto como quem luta pela classe, mas nos bastidores reza no mesmo livro dos cardeais.

Enquanto isso, ficamos socando a ponta da faca e reclamando que está doendo, acreditando que conseguiremos dias melhores porque a luta e visível e as dores, sentidas.

Para sermos respeitados, temos que dar o respeito; mais que isso, mostrar de forma inteligente que estamos recebendo menos que a nossa importância exige. Fazer diferente disso é nivelar os atos aos que protestam queimando pneus e ateando fogo em ônibus e vê, no dia seguinte, a situação inalterada.

Temos que fazer a sociedade lutar por nossos direitos. Apesar dela não nos respeitar nem reconhecer publicamente nosso valor, sabe que dependem do nosso trabalho senão sentirá o impacto, as consequências.

O jornalista Pedro Bial foi um dos que correu em socorro da polícia quando, em 2006, o crime organizado iniciou uma série de atentado em São Paulo, causando pânico e temor na população, vitimando vários policiais. Na abertura do fantástico daquele domingo leu um editorial "Quando erram, nós não os perdoamos. Somos, frequentemente, implacáveis com eles. Até que, num fim de semana trágico, vislumbramos o que seria de nós sem a polícia. Aos mortos, e aos vivos, o Fantástico faz um tributo”.

Que temos força, idealismo, coragem e valentia, todos já sabem. Para sermos respeitados e termos uma profissão reconhecida e com tratamento digno, o país precisa também conhecer a nossa inteligência.



domingo, 13 de novembro de 2016

Por que não funciona o ombudsman da polícia?


Há 27 anos, o jornal Folha de São Paulo adotou pela primeira vez no Brasil a função de ombudsman. Ombudsman é uma palavra sueca, país onde a função foi criada, em 1809, que significa representante do cidadão. Na imprensa, o termo é utilizado para designar o representante dos leitores dentro de um jornal.

Inspirado na mesma função, porém com outro nome, foi instituído no país o Ouvidor da polícia, em 1995, iniciando pelo estado de São Paulo. A motivação foi o anteprojeto da constituição de 1988, que previa a criação de uma Defensoria do povo.

O povo, de fato, precisa de alguém com autoridade para opinar por aquilo que o afeta diretamente e não tem acesso às decisões. No caso dos jornais, para evitar as aberrações e distorções na informação; nas polícias, as ações que extrapolem o cumprimento da lei.

Em São Paulo, quem ocupa o cargo de ouvidor é o advogado Júlio Cesar Fernandes Neto, que construiu sua carreira como militante de movimentos sociais e que, em razão do seu perfil ativista, por vezes confunde o seu papel e exerce o de promotor, fazendo severas acusações precipitadas às ocorrências policiais que se destacam, sem, contudo, ter a mesma competência deste.

Se nos jornais o ombudsman é um jornalista, na ouvidoria, não. Segundo o próprio ouvidor paulista que ocupa o cargo, “Não pode ser policial nem nunca ter sido, justamente para acabar essa possibilidade de que haja investigações corporativistas”.


A que ponto chegamos! A autoridade policial, antes de qualquer ação, é posta em suspeição pelo ouvidor. Seria isso agir com ética e imparcialidade?

No último sábado (5/11), um policial militar em São Paulo, trabalhando na hora de folga como motorista UBER, reagiu ao roubo de que foi vítima e matou os três marginais.


Apressadamente, como tem feito na maioria das vezes, a partir de imagens de vídeo e fotografias, o ouvidor disse ao jornal Agora (7/11), emitindo sua opinião sobre o chute que o policial deu em um dos feridos ainda vivo, na sequência da sua reação: “Fica claro no vídeo que foi legítima defesa, mas tem um limite”. Se fosse policial e tivesse passado por situação semelhante, certamente teria tido mais cautela em seu comentário.

Apesar da cena esteticamente perfeita, aos olhos de outro policial, onde uma única pessoa, subjugada sob mira de revólveres, consegue reverter o quadro e neutralizar seus oponentes, para um crítico, que assiste a imagem em casa, tomando um suquinho de laranja, não estão contidas nas imagens a tensão e adrenalina que envolve a ação, em que a fração de segundo pode definir entre viver e morrer. Coisa que apenas outro policial poderá avaliar, pela experiência.

A jornalista Paula Cesarino Costa, ombudsman da Folha, escreveu em sua coluna no dia 16/10: “Temos de desenterrar e encontrar as evidências, sermos justos na apuração e fiéis à verdade que revelamos…”. No caso do nosso nobre ouvidor paulista, falta-lhe apuração, logo, fidelidade e – principalmente – justiça.

*Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago no Portal Stive, de Brasília/DF.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Associados para iludir


Os policiais militares de Sergipe estão na iminência de conquistar importantes benefícios. A despeito de não pertencer àquela valiosa instituição e, portanto, não ser beneficiário do bom senso que acode o mandatário daquele Estado, deixo-me dominar pelo entusiasmo, a ponto de reservar aos meus planos a dedicação de algumas linhas futuras nos meus despretensiosos textos e brevemente falarei dessas conquistas aqui.

Infelizmente, o tema de hoje é tão espinhoso quanto ácido e mexe com a tropa paulista sensivelmente, porque tripudia com seus sonhos, aproveita-se de sua principal vulnerabilidade – as finanças – e, em vez de alento, aumenta-lhe o desespero: o pagamento de ações judiciais.

De um tempo para cá, viralizou-se o movimento de associação repentina a uma determinada entidade de classe em razão de ação judicial “ganha”. O frenesi decorre de um revezamento perverso em que cada entidade divulga determinado benefício e, assim, provoca uma romaria para preencher a ficha de adesão. Esse comportamento no mínimo suspeito e merecedor de investigação tem inflado o quadro de associados das diversas associações ligadas à Classe policial militar e subtraído uma significativa fatia do já esfacelado soldo do explorado guardião do povo paulista.

Prejuízos à parte, as tenebrosas procissões dos amaldiçoados por um governo cruel, insensato e calculista também a este favorecem, posto que as entidades não precisam comprometer-se com uma agenda de reivindicações que possam reduzir o estado de penúria da classe policial. A inércia do governo e a complacência das associações de classe enlaçam as mãos num pacto silencioso e funesto, alimentado por discursos cínicos em que se adia a felicidade e antecipam-se os fardos, pois na agenda desses covardes todo dia é dia de eleição.

Já passou o tempo de nos rebelarmos contra a exploração, contra essas manobras oportunistas, contra a ineficácia e ausência de representatividade. Não sugiro a debandada dos associados, pois, apesar de ineficientes, pior será sem a existência das associações. Todavia devemos nos posicionar com firmeza de propósito e exigir que façam algo pela categoria. O recebimento do benefício na verdade é um direito de todos, independe das associações. Que tal uma ação coletiva para garanti-lo sem as patas profanas dessa casta interminável de urubus?

Enquanto isso, fica a lição aos policiais de todo o Brasil. Mantenham-se atentos. No átimo em que estamos preocupados no aperfeiçoamento do nosso trabalho, estão se qualificando cada dia mais em manobras para nos escravizar, moral e financeiramente.

*Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago, no Portal Stive

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Injustiça em nome da disciplina



Toda corporação tem seu código de ética, seu regulamento interno. Na vida, todos nós precisamos de regras para o bem viver. Quando cumpridas, tudo vai bem.

No caso dos policiais militares, o Regulamento Disciplinar Policial Militar – RDPM é quem vai reger o seu comportamento e dizer o que deve e o que não pode fazer.

Sou a favor do regulamento, mas entendo que, em alguns casos, ele deixa margem para atender convicções pessoais.

Numa sociedade que comemora efusivamente a conquista de seus direitos democráticos, não tem nada mais castrador que punir um policial por suas opiniões, mesmo que seja a censura a atos de superior hierárquico. Temos que entender que a crítica é saudável, pois obriga o superior avaliar melhor os seus atos.

Não vejo motivos, por exemplo, para que um policial reformado seja submetido a todos os códigos descritos, por um motivo simples: das aplicações das penas, uma das justificativas é que serve para reeducar o faltoso. Ora, se o cidadão passou por trinta anos na corporação e nem sequer foi educado por não haver a época especificidade da falta, como reeducá-lo agora dentro do pijama?

Soube de um caso em que o reformado, após trinta anos na ativa, sem punição, foi penalizado por um simples comentário numa das redes sociais. Fiquei com a sensação de que foi muito mais grave o ato de punir que a suposta falta, em razão do histórico profissional do punido.

No país as pessoas criticam o presidente da república e demais políticos; autoridades civis e eclesiásticas, mas o policial – que não será punido se fizer as mesmas críticas, será alcançado pelo regulamento se elas forem direcionadas aos assuntos da caserna, exatamente o que melhor conhece.

Numa instituição em que tem como missão precípua transmitir a segurança aos cidadãos, torna-se o terror dos seus próprios funcionários não permitir que, no momento de descanso do guerreiro, não tenha o direito sequer de expor seus próprios sentimentos em relação a qualquer assunto que seja contrário ao entendimento do superior.

Crédito da foto: Blog Tudo por SP 1932
Arte na foto: Sargento Lago

*Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago, no Portal Stive.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

PEC 241 e os direitos que preservo; meus direitos violados.



A função do policial militar é preservar a lei e os direitos constitucionais de todos os cidadãos. Dedica uma vida a esses propósitos. Com dores e lamentações, dia após dia, acorda e vai cumprir o seu mister. Consola-se ao imaginar que na aposentadoria terá, enfim, o resgate de tudo que merecia e não lhe foi garantido durante a atividade.

O que, no entanto, não espera são manobras políticas mudarem as regras do jogo que lhe apresentaram lá atrás, quando entrou na corporação, em pleno estado de higidez física, psicológica e moral, um homem capaz de suportar a farda e os fardos, caminhar sob tempestades e intempéries tanto da natureza quanto das injustiças sociais.

No caso dos paulistas, estado em que deixei, literalmente, suor e sangue, começaram inventando um trabalho remunerado de nome “Operação Delegada”, em que o policial é remunerado por sacrificar suas horas de descanso sem a perseguição implacável da administração pública: o “Bico oficial”.

Exatamente a atividade pela qual muitos policiais foram punidos administrativamente no passado. Com essa “jogada de mestre” o governador paulista acalmou os ânimos de uma tropa aflita com anos sem aumento salarial. Quem reclamar agora pode ser tachado de “vagabundo”, pois serviço tem.

Não bastasse esse golpe, o infeliz governo criou uma promoção para cabos, e, da noite para o dia, milhares de soldados foram promovidos. Afinal, como a base da pirâmide é constituída por soldados, deu mais uma acalmada na tropa.

Tudo isso com a anuência da cúpula da corporação e de alguns dos nossos “representantes”, em detrimento dos policiais inativos que veem diariamente seu salário desaparecendo como um copo d’água jogado no deserto.

Referi-me ao problema paulista, mas sei que essas malandragens são reproduzidas pelo resto do país.

Agora a coisa tende a deteriorar ainda mais a condição dos policiais militares e afetará exatamente quem está na ativa e assiste silenciosamente ao calvário dos veteranos: Vem aí a PEC 241.

O tema ainda é pouco conhecido, mas sabe-se que os resultados podem obrigar os policiais a trabalharem como zumbis até caírem mortos. Tudo porque se desconhecem os problemas enfrentados por quem exerce essa profissão e imagina-se que, para resolver o problema financeiro deixado pelos corruptos, o policial pode trabalhar bem mais do que já trabalha, por ser dotado de poderes supra-humanos.

Qualquer que seja a reforma que altere o regime de trabalho dos policiais militares será extremamente danosa não somente aos profissionais, mas também à instituição e à sociedade. A igualdade é um princípio constitucional; entretanto, estabelecê-la sob o manto do maquiavelismo revela-se um ato de covardia contra quem é incapaz de um ato de rebeldia.


*Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago no Portal Stive

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Medalha, medalha, medalha

Sargento Lago e Cabo PM Lago

Em 1968, Iwao Takamoto criou Muttley, um personagem ficcional do desenho animado Corrida Maluca, da Cartoon Network Studios, sucessora da Hanna-Barbera.

O cão ostentava muitas medalhas e constantemente exigia novas de seu dono, por seguir suas ordens. Dizia: "Medalha! Medalha! Medalha!". Ao recebê-la, dava um salto no ar de felicidade.

Na atividade policial militar as medalhas também trazem felicidade, contrapondo os muitos dissabores do ofício. É a materialização do reconhecimento de um bom trabalho realizado.

Pena que essa condecoração depende mais de quem homenageia que do próprio homenageado. Por isso vemos companheiros que trabalham nas periferias das cidades, longe do contato administrativo, esquecidos em razão da máxima “Quem não é visto não é lembrado”.

No livro Papa Mike, que lancei recentemente, ao abordar esse mesmo assunto, lamentei o fato de meu tio Sargento Lago ter cumprido 30 anos de bons serviços prestados à Polícia Militar do Estado de São Paulo sem receber qualquer tipo de homenagem.

Contudo, nessa semana tive a satisfação de participar da cerimônia realizada pela Sociedade Veteranos de 32 - MMDC, no Palácio Anchieta, na Câmara de Vereadores de São Paulo, onde meu irmão Cabo Lago, do 2º Batalhão de Choque, foi condecorado com a medalha Governador Pedro de Toledo, cujo objetivo é homenagear personalidades civis e militares, nacionais e estrangeiras por seus méritos e serviços de excepcional relevância prestados ao culto da Epopeia Cívica de 9 de Julho de 1932 e a São Paulo.

Às vezes, uma simples medalha pode mudar completamente a conduta do policial para algo ainda melhor. E quando ele está motivado e feliz, seu trabalho será ainda mais eficiente.

Também é uma forma de dizer que se ele plantar irá colher os fruto, ao mesmo tempo em que gera incentivo ao que não ganhou para se esforçar mais com o intuito de ser reconhecido na próxima vez.

Precisamos de mais atitudes de reconhecimento aos profissionais, de uma maneira geral, principalmente aos policiais.

*Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago no Portal Stive

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Amores e amigos


Todos querem ser felizes no amor e ter muitos amigos. De fato a vida fica muito melhor com eles. Mas tratam amigos e amores com o mesmo descaso, logo são susceptíveis aos mesmos tratamentos.

De que vale um relacionamento amoroso em que ambos não se entregam à relação? Se não houver comprometimento mútuo, de fato nada vale.

No convívio social está tornando-se padrão de comportamento pessoas não cumprirem combinados e no dia seguinte fingirem que nada há de errado. De tão comum, alguns reproduzem a má atitude em suas relações de amizade.

Prometeu, cumpra. Teve dificuldade, avise. Mas não adianta ficar se justificando de forma contumaz.

Depois de tantas promessas não cumpridas de chegar para o jantar, o marido não pode reclamar se no dia em que resolver cumpri-la o fogão estiver desligado e a mesa vazia.

Da mesma forma, o amigo que sempre deixa a turma esperando não pode reclamar quando não for mais convidado.

Para quem quer viver uma vida de mediocridade, certamente vai se acercar de pessoas semelhantes, que vão entre si dar e tomar bolo.

Para ter amores e amigos numa relação de qualidade, com evolução em todos os sentidos, é preciso que haja uma postura de respeito mútuo ou certamente não usufruirá desse convívio tão necessário em nossa peregrinação.

As pessoas não são descartáveis. Ninguém é suficientemente pobre que não tenha nada a oferecer. Se o infeliz estiver na mais profunda miséria, ainda assim poderá um dia dar conselhos a alguém que, no infortúnio, necessite saber como sobreviver naquela condição. E ainda oferecer o ombro para consolo.

É muito triste ver um velho amigo tornar-se distante. Ou antigos namorados se cruzarem como desconhecidos.

Amores e amigos vêm e vão. As boas relações permanecem.

*Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago no Portal Stive

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Erros repetidos


Dois fatos recentes me trouxeram à reflexão o quanto as pessoas são cruéis em seus julgamentos precipitados.

O primeiro dá conta que um subtenente, de serviço voluntário nas olimpíadas, havia subtraído para si um objeto esquecido na entrada de um dos eventos. Uns disseram que era um celular, outros, um relógio. Sabiam tanto sobre o assunto que até o objeto supostamente subtraído pelo veterano variava conforme quem propagava o boato.

No outro caso, os comentários eram sobre a expulsão de uma policial que, segundo alguns, teria subtraído os dados de policiais, no sistema da corporação, para repassar ao crime organizado.

Que a policial foi excluída da corporação é verdade. A dúvida consiste em saber se foi ela quem utilizou o computador para pesquisar os dados de vários policiais ou se outra pessoa, aproveitando-se do sistema aberto com a senha da policial, o fez.

Nos dois casos, várias críticas precipitadas foram feitas, nos grupos de whatsapp.

Recentemente li que a professora, dona do relógio, inocentou o policial em depoimento. Se de fato ele é inocente, a foto dele já foi espalhada pelo país afora como criminoso. E certamente a divulgação da sua inocência não irá se propagar na mesma proporção que a acusação, e nem irá reparar os danos causados a sua imagem e psíquico.

No caso da policial é ainda mais grave. Se é que dá para dizer que o caso anterior não tenha sido igualmente grave.

O fato de ter o seu nome associado a traição dos companheiros de farda pode lhe colocar em grande perigo.

O triste dessas duas histórias é que são policiais, que tanto reclamam dos julgamentos precipitados da sociedade, reproduzindo o comportamento que desaprovam.

Infelizmente isso é cultural. Esses boatos correm pelos quartéis e, de um dia para o outro, histórias e reputações são jogadas na lama.

Podemos até admitir que as duas situações citadas aqui sejam procedentes, mas não podemos correr o mínimo risco de cometer injustiça e nos tornar mais um algoz de quem já sofrimento suficiente na carreira, a começar pela profissão que é carente de reconhecimento.

Errar todos nós erramos, porém, não sejamos protagonistas de erros repetidos.

*Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago no Portal Stive 

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Pobreza cultural


A futilidade já se pronunciava nos programas de celebridades na televisão. Ao se aperfeiçoarem, invadiram também os portais.

A quantidade dessas publicações desafia o bom senso e testa nossa paciência ao limite. Como falta criatividade para produzir matérias, somos obrigados a engolir manchetes do tipo:

“Ex BBB queima a boca ao morder pastel na praia.”

“Mariah Carey só faz sexo às segundas-feiras”.

“Irmã de Neymar exibe decote e recebe elogios”.

“Geisy Arruda exibe marquinhas após bronzeamento artificial”

Outro dia parte da imprensa digital noticiou que Belo chamou ou pensou em chamar a polícia, após sua esposa passar muito tempo no banheiro com prisão de ventre , imaginara que ela tivesse sido sequestrada.

Mais recentemente uma moça virou notícia por ter uma noite de sexo com o recordista do atletismo Usain Bolt. A candidata a famosa, para ganhar um pouco mais de holofote, revelou detalhes do encontro com o jamaicano. Chegou ser constrangedor.

Há muito se ouve que algumas semicelebridades, sobretudo as que têm o corpo como único atrativo, pagam assessoria de imprensa para plantar “relevantes notícias” com o intuito de aumentar seu michê. Observe, não disse cachê. Concluímos com isso que nossa imprensa está imbuída em contribuir com o “quanto pior melhor”.

Enquanto somos obrigados a deparar com essas aberrações diárias – em detrimento da cultura e das boas informações que vão gerar motivações para a construção de um país melhor – nesta semana foi selecionado o filme que irá tentar representar o Brasil no Oscar: “ O Pequeno Segredo”. Esperava-se que a imprensa brasileira, tão aculturada, a mesma que massacrou o novo presidente por suprimir o Ministério da Cultura, promovesse um debate e estabelecesse uma agenda de promoção da cultura nacional, mas o que se viu foi o levantamento de suspeita de perseguição política a um concorrente eleito antecipadamente pelos esquerdistas, bem a gosto dos espíritos pobres, que vivem de achincalhar pessoas e instituições.

A verdade é que num país sem educação cultura não dá audiência. Bisbilhotagem da vida alheia vale ouro.

* Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago no Portal Stive

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Policial, veterano e mochileiro. Você também pode!


Eu gostaria de viajar pelo mundo quando tinha vinte anos. Tenho alguns amigos que fizeram isso. Confesso que tenho orgulho da façanha deles. Mas como o faria sem que tivesse pais que patrocinasse, como foi o caso deles?

Meus cinquenta anos vieram juntos com a inatividade na Polícia Militar. Aguardei esse momento para viajar com a minha esposa. Mas junto da aposentadoria também veio o divórcio. Então restou-me pegar a mochila e o violão e cair no mundo.

Num primeiro momento realizei o antigo sonho de conhecer todas as PMs do Brasil, que originou o recém lançado livro Papa Mike – A realidade do policial militar, onde relato os detalhes dessa viagem por todo o país. Do Oiapoque ao Chuí, literalmente. Os meios de transportes, hospedagens, onde e o que comi, culturas regionais, além, é claro, da experiência vivida em cada quartel.

Depois a aventura foi maior. Decidi que sairia do país.

Num primeiro momento conheceria apenas a América do Sul, mas ao chegar a Venezuela ganhei um aporte financeiro de uma ação judicial vencida e de lá segui por toda América Central até chegar ao México.

Toda viagem de ida foi por via terrestre. Isso mesmo.
 
Fui de São Paulo ao México de busão.

As hospedagens foram em hostels, onde os dormitórios são compartilhados e pagamos apenas pela cama, permitindo que o preço seja muito inferior ao hotel tradicional.

Saí do Brasil com um o portunhol meia-boca e cinco semanas depois estava dando entrevista para o programa de TV da polícia boliviana, falando espanhol e sendo compreendido por todos.

Foram três meses de viagem com custo muito baixo que me proporcionaram uma das experiências mais incríveis que tive na vida.

A motivação para escrever esse artigo é que os policiais aposentam, em média, aos cinquenta anos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida dos brasileiros - que nos anos 1960 era de 52,6 anos - em 2010 foi avaliada em 73,8 anos. A projeção para 2020 é de 76,1 anos.

Depois de passar toda a carreira labutando com o que tem de mais amargo na sociedade, nada mais justo que o veterano desfrute das delícias que a vida tem a oferecer.

* Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago no Portal Stive.

sábado, 10 de setembro de 2016

Filosofia do otário feliz



Foto by Marco Aurélio Olímpio

Eu sou um otário. Descobri isso ao contabilizar as muitas vezes que fui enganado. É Difícil acreditar que um policial veterano possa ser, mas o sou. Não tenho vergonha de assumir.

Avaliando as muitas questões em que saí prejudicado, descobri minha inclinação.

Talvez esteja sendo muito rígido comigo, em vez de admitir que tenha um coração filantrópico, como meu pai , um pastor evangélico que serviu sua fé com a alma e os bens. Sua generosidade fora tão exacerbada, que, mesmo antes de possuir a própria casa e abrigar sua grande família, preferiu comprar uma chácara e lá construir um asilo. E não descansou do trabalho até que as instalações estivessem abrigando alguns velhinhos, na cidade de Areias, interior paulista.

Antes meus propósitos fossem tão nobres. Talvez não me autointitulasse com o pejorativo.

Contrariando meu instinto de não querer deixar que me enganem, sempre dou um voto de confiança aqui, outro ali, acreditando que não serei vítima. Mas logo descubro que vacilei de novo.

Das muitas lembranças que me fazem merecedor do título, lembro-me da doação feita da metade que tinha num apartamento, após a separação, por causa do assédio moral que sofria. Em outro final de relação, quando ainda era jovem, dessa vez ainda no noivado, doei minha metade de todos os móveis comprados em conjunto. Sem saber o que fazer com aquilo, a ex solicitou o espólio, e , além do adjutório, ainda lhe arrumei comprador para os móveis.

Na primeira tentativa de escrever o livro Papa Mike, contratei uma senhora que se diz especialista no assunto. Possui até site e dá cursos. Apesar da idade avançada, a velhaca pegou meu dinheiro e nada fez. Dessa vez, em razão do desejo de ver a obra publicada, tive um repente de indignação e decidi reaver o dinheiro. Por determinação judicial, serei restituído agora, após três anos de moroso processo judicial.

Tenho feito alguns jingles para a campanha de vereador que têm me garantindo uma remuneração extra.

Semana passada, fui solicitado por uma pessoa do Estado do Rio de Janeiro para fazer seu jingle, após ouvir o que eu havia feito para um amigo em comum. Realizei o trabalho e, embora tenha aprovado de forma entusiasmada, retirou o interesse ao lembrá-lo que a forma de pagamento não era apenas o “muito obrigado”.

A “Lei de Gérson” parece ser a cartilha de muita gente. Talvez por isso as operações da Polícia Federal tenha alcançado pessoas “acima de qualquer suspeita” . De damas da sociedade a vovozinhos, um após o outro aparecem na TV caminhando com as mãos para trás e seguidos por agentes da PF.

A vida tem me mostrado que a filosofia do otário não é ruim. Sou testemunha disso. Com o mesmo desapego aos bens materiais, da mesma forma que meu pai se sentiu realizado e feliz, tenho usufruído em dobro de tudo que me lesam. Em contrapartida não vejo na tela da TV o triunfo dos que põem as mãos em dinheiro que não lhes pertence. Afinal, é isso. A vida é um solo fértil.

* texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago no Portal Stive

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O tempo


Tinha cinco anos quando caí da escada ao pular degraus. Quebrei o braço. As brincadeiras em casa sempre eram seguidas de travessuras e punições. Lembro-me da minha vó, velhinha, protegendo meu irmão Misael, o preferido. Por pirraça, fingia brigar com ele pra vê-la brava. Na mesma época, ao ir à escola com o Misa, parávamos perto do matadouro municipal para ver os bois. Nem sequer imaginava que seriam abatidos.

A paixão pelo futebol iniciou algum tempo depois, quase na mesma época em que me apaixonei por uma coleguinha da classe. Perto dela, transpiravam minhas mãos, eu parecia um chafariz humano.

Adolescente, dei o primeiro mergulho no mar, em Angra dos Reis. Ali conhecia uma nova paixão. Mal sabia que daquele sentimento seria cativo. Também vivia cercado de irmãos e amigos.

Ir à São Paulo foi a solução encontrada para tentar uma colocação e garantir o futuro. Eram tempos difíceis. Sonhador, burlava a ansiedade com pensamentos onde tudo dava certo ao final.

O ingresso na Polícia Militar confirmou que o futuro já havia chegado em trinta suaves prestações anuais. Quando dei por mim já estava aposentado.

Resistente, tratei de me impor alguns outros desafios, mas percebi que o tempo é implacável. Com ele, a sensação de que minha capacidade de realizar aumenta enquanto proporcionalmente ele diminui.

Lembrei-me de quando li a biografia de Martinho Lutero. Fiquei impressionado com o seu drama de querer ser monge enquanto seu pai pressionava para que estudasse direito. Todos aqueles problemas já estavam há mais de 500 anos para trás.

Outro dia reencontrei alguns antigos companheiros do quartel no sepultamento de um amigo em comum. Local propício para reflexões, não pude furtar-me às minhas.

Com a ampulheta virada desde o nascer e com a certeza de que me resta menos que a metade do tempo já vivido, reflito: se cada ano que ficou registrado não há a menor possibilidade de mudança, qual imagem vou deixar na memória dos meus descendentes e conhecidos?

Uma canção de Nana Caymmi diz que “o tempo zomba do quanto eu chorei porque sabe passar e eu não sei, mas no fundo é uma eterna criança que não soube amadurecer”.

A verdade é que precisamos parar de maltratar essa criança com a composição de histórias medíocres; afinal, assim como estranhamos nossos filhos tomarem forma e fazerem escolhas sem o controle de nossas rédeas, não é justo entregá-la à vala comum dos desafortunados. Não podemos deixar à posteridade apenas a tristeza de nossas mortes morais, espirituais e físicas.

* Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago no Portal Stive

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A décima oitava hora



Não sei qual a motivação da corte texana quando definiu a décima oitava hora do dia para a execução dos condenados do corredor da morte. Em minhas conjecturas e tentativas de encontrar o simbolismo desse detalhe ritualístico, a que melhor encaixou na minha absorção foi a ideia de que a décima oitava hora marca a chegada da noite, da escuridão, ou seja, o cumprimento da pena atingiria o campo espiritual, separaria definitivamente o indivíduo dos seus semelhantes, a quem teria causado um grande mal. A intenção seria patentear a exclusão não somente terrena mas também do paraíso?

Essas reflexões chegaram a mim ao assistir ao programa Bastidores, da National Geographic Channel, nesta segunda-feira (15), num documentário sobre o Corredor da Morte no Texas, EUA.

Visualmente a pena de morte pareceu ser uma solução. Ao mostrar em detalhes os crimes cometidos por três condenados, o programa se desenrolou com depoimentos diversos, inclusive dos próprios condenados, e finalizou com os três mortos serenamente sobre uma maca. A cena sugeriu implicitamente que a solução atendeu à necessidade dos apenados e da sociedade.

“Eles deveriam ser executados com a mesma crueldade do delito que cometeram”, esbravejou uma jovem moradora da pequena Huntsville, cidade texana onde fica o presídio que mais executa a pena capital. Não está errado, se avaliarmos que o objetivo da pena é fazer justiça. Entretanto, a pena capital alimenta mais o desejo de vingança do que propriamente de expiação e, assim, pela mão do Estado os indivíduos, inconscientemente, voltam a um estágio primitivo no qual todos acabam condenados, pois o ódio não somente atinge quem recebe as ações do seu desencadeamento; também assim o faz com aquele que o alimenta.

A intenção da justiça texana seria causar o menor sofrimento possível, conforme ficou constatado em outra execução. Em 2010, um condenado, em suas últimas palavras, narrou a aproximação da morte ao receber a injeção letal: “Eu achei que ia ser bem mais difícil que isso. Estou preparado para ir. Eu vou dormir agora. Eu posso sentir. Está fazendo efeito…”.

Meu questionamento é: devemos flertar tanto com a morte quando nós mesmos não a desejamos?

O tema divide as opiniões e tanto os defensores da medida quanto os refratários a ela são pródigos em argumentos; porém, ao invés de desejarmos a pena de morte como mecanismo de frenagem para atividade criminosa, deveríamos ser capazes de escolher a primeira hora para iniciar as boas ações que vão construir um mundo melhor.


* Texto revisado, originariamente publicado na coluna do Sargento Lago no Portal Stive

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Preconceito: Não dá para não criticar!

Ilustração: Latuff Cartoons

Falar sobre preconceito é fácil quando se restringe apenas a sua ideologia. Mas me atrevo porque, ao fazer uma análise de consciência e revisitar a própria memória, concluí o quanto fui plural nas minhas relações. Falo de envolvimento, sentimentos de amizade ou de amor. Algo concreto, prático, intenso.

Já tive amigo intelectual e ignorante, estuprador, estelionatário, assaltante, assassino, psicopata, drogado, homossexual, negro, branco, estrangeiro, nortista e nordestino, sulista, sudestino e centroestino, político, padre, pastor, rabino e pai de santo; mantive casos com prostituta, bissexual, depressiva, moradora de mansão e favela, empresária, faxineira, nova, velha, bonita, feia, gorda, magra, branca, negra, brasileiras e estrangeiras; bebi em taça de cristal e copo de requeijão, vesti linho, flanela, frequentei bons restaurantes e comi quentinha na periferia; viajei em aeronaves e de carona, na boleia de um caminhão; conheci Paris e o sertão; a riqueza, a miséria, pessoas bem-sucedidas, fracassadas; quem ria e quem chorava. Cantei rock, forró, samba, reggae e gospel. Torci pelo campeão e pelo rebaixado. Chorei com histórias de superação, filmes de amor e também sorri com humor inocente.

Em todas essas experiências sensoriais mantive a base da minha formação familiar, religiosa e social, permitindo, contudo, que os meus conceitos fossem aprimorados.

Descobri que atrás desses rótulos existiam pessoas, seres que, em algum momento, nossa semelhança humana nos aproximou, embora eu não tivesse a afinidade com suas crenças, práticas, atitudes e comportamentos. Isso me fez uma pessoa melhor. Não que eu tenha alcançado a perfeição, apenas me tornei muito melhor do que poderia ser caso não tivesse absorvido os ensinamentos dessas relações.

Nesta semana recebi a mensagem de um jornalista, em resposta a uma sugestão de pauta para o meu livro “Papa Mike – A realidade do policial militar”, onde ficou claro que recusava a sugestão simplesmente pelo preconceito aos policiais.

Preconceito à parte, o mínimo que eu esperava desse vagabundo é que ele lesse o livro. O adjetivo não se refere ao disfemismo de concluir que seja um marginal, mas ao fato de que ele nem sequer teve a dignidade de ler a obra antes da contraindicação aos seus leitores, simplesmente por tratar-se de uma temática e de um autor policial. Tenho certeza de que se teria surpreendido, como tem acontecido com muitos outros colegas dele.

O mundo está repleto de pessoas assim, as quais dão ao preconceito suas mais perversas roupagens, todas elas repugnantes, todas capazes de subtrair dos seus semelhantes as diversas oportunidades.

Aqui vai meu gesto de repúdio à atitude de alguém que tanto invoca a liberdade de expressão. Faço-o com a responsabilidade que a mim atribuí: denunciar toda a espécie de apartheid social e contra ela lutar.

Ao nobre jornalista só tenho a dizer que a forma preconceituosa com que me tratou não vai atingir os propósitos de quem discrimina, qual seja, conviver com as diferenças e com as vozes dissonantes. Nessa questão, pior para ele que não leu o livro. Certamente passaria a ter muitos outros argumentos para falar mal da polícia, caso um dia decidisse largar as fileiras dos covardes.

* Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago no Portal Stive

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Veterano sim, ocioso não.


Foto: Marco Aurélio Olímpio

Em 2011, ao chegar a Recife, surpreendeu-me positivamente tomar conhecimento da existência da Guarda Patrimonial, criada em 1994 e composta, em sua totalidade, por cerca de três mil policiais e bombeiros militares inativos – do comandante à sentinela. A unidade fazia guarda do quartel, segurança de autoridades e presídios, entre outras atividades.

Inicialmente, a remuneração correspondia a 55% do salário bruto de cada militar na aposentadoria. Atualmente, o salário está sucateado, e as praças, de uma forma geral, recebem em torno de 850,00 reais. O reflexo dessa desvalorização levou a redução do efetivo a 2.500 componentes, por desinteresse dos militares.

As atividades da Guarda Patrimonial são diversificadas e contemplam serviços que a experiência de cada profissional, cultivada ao longo dos 30 anos de lida, possibilita suprir a demanda de uma cidade cosmopolita com excelência. Mas o benefício não se restringe à atuação dos veteranos, pois a liberação dos policiais que se encontram no fulgor da juventude para o calor do front, onde o crime exige pronta resposta, em decorrência dessa iniciativa, afigura-se uma gestão pública bastante eficaz.

Nesta semana, numa inédita oportunidade, policiais veteranos de São Paulo e outros estados foram convocados para 30 dias de serviços nas olimpíadas, no Rio de Janeiro, para trabalhar seis horas por dia, no monitoramento das esteiras e do raios-X, que controlam o acesso nas praças desportivas . Receberão pelo mês de trabalho 16 mil reais.

O exemplo do Pernambuco e desta oportunidade nos Jogos Olímpicos deveria ser seguido pelas demais corporações. Essa mão de obra qualificada que fica ociosa após a aposentadoria deveria ser “veteranizada” (Criei o adjetivo em referência aos veteranos porque acredito que ficaria melhor que “recrutada”, que, embora se refira a recrutamento, lembra o “recruta” que, definitivamente, estes não são). De preferência com a mesma valorização que terão nos próximos 30 dias.

Ganhariam todos. O veterano, pela ocupação e pelo reforço na renda. A corporação, pela qualidade do serviço e liberação dos novatos para a atividade-fim, e o estado, pela economia dos altos gastos gerados na formação dos novos profissionais.

*Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago no Portal Stive