terça-feira, 1 de outubro de 2013

Palhaço, sentido! Meia volta... Volver!



         Eu não entendo de política. Também não tenho informações privilegiadas. Como você, sou um cidadão comum que se vê no direito de externar meus pensamentos, principalmente porque entendo que a reflexão pode conduzir-nos a um crescimento.

          É nítido que vivemos um momento político de insatisfação, pelas constantes agressões a nossa cidadania, pela conjuntura epidêmica que assola os nossos direitos individuais. Como policial militar cidadão, estamos acostumados a condicionar as nossas atitudes ao interesse da sociedade, isto é, pautamos a consciência por um dever de renúncia; contudo, há momentos em que o acinte nos obriga a abandonar a passividade, a buscar a mobilização.  É o que ocorre agora diante da intenção do governo estadual de nos conceder, a título de esmola,  7% de reposição salarial, como prêmio por suportar a guerra de ânimos decorrentes de sua política equivocada de enfrentamento não somente da violência mas também dos problemas sociais.

            Há indicativos de que a PM de maior efetivo do Brasil saiu do primeiro longo estágio de letargia e agora começa dar mostras de insatisfação, outrora manifesta apenas no círculo dos Praças, muitas vezes de forma silenciosa e corrosiva, a qual esmorecia ânimos e sepultava ideais. A verdade é que a tropa nunca recebeu apoio em suas revoltas veladas, em seus murmúrios quase monásticos em que sepultava suas frustrações. O reflexo disso foi a  dedicação à jornadas duplas em bicos para dar melhor condição a sua família.

             Agora a insatisfação chegou ao mais alto escalão. O eterno romance com o PSDB parece estar desgastado, visto que o governador deu mostras públicas de que está de caso com a outra polícia e impõe humilhações aos “devotados” comandantes. Trata-se de um golpe calculado, numa aposta de que milico range os dentes por no máximo duas semanas e aceita mais carga no lombo como penitência. Certamente, ocorrerá um aceno com mais perfumarias inebriantes, um cala-boca como saída honrosa. Mas o estrago está feito.
              O governo não pode ignorar os efeitos de sua iniciativa grotesca. É conhecida a arrogância da outra polícia, minimizada apenas pela paridade salarial. O gesto simplesmente aniquilará os esforços árduos de uma convivência pacífica. O clima já é de beligerância.

               Sentindo o gosto amargo da traição, nossos mentores reuniram as associações para definir que iriam protestar. Mas protesto precisa de volume. Então se teve a ideia de convocar a massa, de forma sutil, claro. Só que ninguém foi treinado para ser sutil. A vida toda, as ordens foram dadas com arrogância: “Cumpra-se ou fica preso!” Então “sutilmente” o discurso mudou entre a tropa. Um comandante aqui, outro - também – ali... E ficou clara qual era a intenção.

                Cachorro mordido de cobra tem medo de linguiça.

                Em 1988, ameaçaram fazer uma greve, e muita gente foi demitida. Pais de família perderam o próprio sustento e de seus entes queridos.

                      O caso Carandiru é outro exemplo de abandono, embora seja outra coisa, mas os policiais receberam pesadas condenações e estão agora à mingua.

                      Eu não torço contra. Também serei favorecido caso haja resultado positivo. O que vivo tentando explicar aqui - na prática - a manifestação de hoje mostrou: Os 160 mil policiais militares do Estado de São Paulo não se veem representados nem por suas associações nem pelos seus políticos. Por que será? Uma coisa é você receber ordem no quartel: "Entrem em forma!" Outra coisa é convocar o policial de folga para ir a uma manifestação. A ordem - embora às vezes queiramos -, desde que não seja absurda, temos que cumprir. A convocação não.
     
                  E por que não atendemos a tais convocações que, em tese, é para reivindicar benefícios para todos nós? Simples: porque fomos deixados para trás a vida toda e sabemos que na prática não se importam conosco. Apenas querem o apoio da massa para alcançar seus próprios benefícios.

                  Outra coisa que observei foi que houve uma convocação para que “a massa” colocasse em seus perfis a cara de um palhaço. Alguns não só colocaram no perfil como foram maquiados para a manifestação, mas não vi nenhum “líder” com a maquiagem sugerida. Nem sequer em seus perfis colocaram. Também não vi nenhum líder manifestar-se em defesa dos policiais que foram contundentes nas redes sociais e já receberam ameaças da KGB paulista, aliás, mais um disparate da democracia brasileira.

                  Das associações nem perco tempo para falar, porque cada um deve valorizar o próprio dinheiro. Se a pessoa quer financiar determinada entidade para ela investir seus recursos apoiando quem lhe oprime, é um direito dela. Também não cito nominalmente nenhum político porque ele está vendendo o peixinho dele. Se fresco ou podre, compete a cada eleitor avaliar.

                  Agora, o que defendo é que carecemos de um líder que não tenha comprometimento com ninguém.

                    Dos aspirantes a líder que vi até agora - e que até percebo que consegue fazer barulho na internet (apenas na internet - não convence o povo sair da frente do computador), nenhum deles é aprovado no quesito rabo preso. Se você prestar bem a atenção verá que fazem ataques pessoais a determinada pessoa, mas defendem outra (exatamente quem as alimenta de notícias e, vai saber, até com dinheiro ).

         Em 2011, quando desenvolvia o Projeto Polícias Militares do Brasil, onde visitei durante treze meses e nove dias todas as PM do país, estive em Aracaju e lá entrevistei o Capitão Samuel, recém-eleito deputado estadual. Não me recordo a quantidade de votos, mas fora superior ao efetivo da PM de Sergipe, pois houvera uma união entre Praças e Oficiais tão forte, que se propagou aos civis que não tinham contato com a PM. A transparência de objetivos era translúcida. O resultado dessa união, além da eleição do Capitão, foi a conquista do segundo maior salário do país, perdendo apenas para Brasília.

                   Está chegando o momento de surgir essa unidade em São Paulo. Não da forma que propuseram desta vez,  visando apenas a fortalecer interesse unilaterais, mas algo que seja verdeiro.

                  Por outro lado, devemos ter cuidado para que nossos cardeais não “produzam” esse novo líder. Pinçar alguém do povo, com carisma e discurso convincente, mas que nos bastidores continue fazendo o jogo do poder.


                   Pois é, de política eu não entendo nada, mas de tanto ser vítima dela... Estou começando a enxergar como eles a utilizam para nos fazer de palhaço.