quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Associados para iludir


Os policiais militares de Sergipe estão na iminência de conquistar importantes benefícios. A despeito de não pertencer àquela valiosa instituição e, portanto, não ser beneficiário do bom senso que acode o mandatário daquele Estado, deixo-me dominar pelo entusiasmo, a ponto de reservar aos meus planos a dedicação de algumas linhas futuras nos meus despretensiosos textos e brevemente falarei dessas conquistas aqui.

Infelizmente, o tema de hoje é tão espinhoso quanto ácido e mexe com a tropa paulista sensivelmente, porque tripudia com seus sonhos, aproveita-se de sua principal vulnerabilidade – as finanças – e, em vez de alento, aumenta-lhe o desespero: o pagamento de ações judiciais.

De um tempo para cá, viralizou-se o movimento de associação repentina a uma determinada entidade de classe em razão de ação judicial “ganha”. O frenesi decorre de um revezamento perverso em que cada entidade divulga determinado benefício e, assim, provoca uma romaria para preencher a ficha de adesão. Esse comportamento no mínimo suspeito e merecedor de investigação tem inflado o quadro de associados das diversas associações ligadas à Classe policial militar e subtraído uma significativa fatia do já esfacelado soldo do explorado guardião do povo paulista.

Prejuízos à parte, as tenebrosas procissões dos amaldiçoados por um governo cruel, insensato e calculista também a este favorecem, posto que as entidades não precisam comprometer-se com uma agenda de reivindicações que possam reduzir o estado de penúria da classe policial. A inércia do governo e a complacência das associações de classe enlaçam as mãos num pacto silencioso e funesto, alimentado por discursos cínicos em que se adia a felicidade e antecipam-se os fardos, pois na agenda desses covardes todo dia é dia de eleição.

Já passou o tempo de nos rebelarmos contra a exploração, contra essas manobras oportunistas, contra a ineficácia e ausência de representatividade. Não sugiro a debandada dos associados, pois, apesar de ineficientes, pior será sem a existência das associações. Todavia devemos nos posicionar com firmeza de propósito e exigir que façam algo pela categoria. O recebimento do benefício na verdade é um direito de todos, independe das associações. Que tal uma ação coletiva para garanti-lo sem as patas profanas dessa casta interminável de urubus?

Enquanto isso, fica a lição aos policiais de todo o Brasil. Mantenham-se atentos. No átimo em que estamos preocupados no aperfeiçoamento do nosso trabalho, estão se qualificando cada dia mais em manobras para nos escravizar, moral e financeiramente.

*Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago, no Portal Stive

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