quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Injustiça em nome da disciplina



Toda corporação tem seu código de ética, seu regulamento interno. Na vida, todos nós precisamos de regras para o bem viver. Quando cumpridas, tudo vai bem.

No caso dos policiais militares, o Regulamento Disciplinar Policial Militar – RDPM é quem vai reger o seu comportamento e dizer o que deve e o que não pode fazer.

Sou a favor do regulamento, mas entendo que, em alguns casos, ele deixa margem para atender convicções pessoais.

Numa sociedade que comemora efusivamente a conquista de seus direitos democráticos, não tem nada mais castrador que punir um policial por suas opiniões, mesmo que seja a censura a atos de superior hierárquico. Temos que entender que a crítica é saudável, pois obriga o superior avaliar melhor os seus atos.

Não vejo motivos, por exemplo, para que um policial reformado seja submetido a todos os códigos descritos, por um motivo simples: das aplicações das penas, uma das justificativas é que serve para reeducar o faltoso. Ora, se o cidadão passou por trinta anos na corporação e nem sequer foi educado por não haver a época especificidade da falta, como reeducá-lo agora dentro do pijama?

Soube de um caso em que o reformado, após trinta anos na ativa, sem punição, foi penalizado por um simples comentário numa das redes sociais. Fiquei com a sensação de que foi muito mais grave o ato de punir que a suposta falta, em razão do histórico profissional do punido.

No país as pessoas criticam o presidente da república e demais políticos; autoridades civis e eclesiásticas, mas o policial – que não será punido se fizer as mesmas críticas, será alcançado pelo regulamento se elas forem direcionadas aos assuntos da caserna, exatamente o que melhor conhece.

Numa instituição em que tem como missão precípua transmitir a segurança aos cidadãos, torna-se o terror dos seus próprios funcionários não permitir que, no momento de descanso do guerreiro, não tenha o direito sequer de expor seus próprios sentimentos em relação a qualquer assunto que seja contrário ao entendimento do superior.

Crédito da foto: Blog Tudo por SP 1932
Arte na foto: Sargento Lago

*Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago, no Portal Stive.

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