A função do policial militar é preservar a lei e os direitos constitucionais de todos os cidadãos. Dedica uma vida a esses propósitos. Com dores e lamentações, dia após dia, acorda e vai cumprir o seu mister. Consola-se ao imaginar que na aposentadoria terá, enfim, o resgate de tudo que merecia e não lhe foi garantido durante a atividade.
O que, no entanto, não espera são manobras políticas mudarem as regras do jogo que lhe apresentaram lá atrás, quando entrou na corporação, em pleno estado de higidez física, psicológica e moral, um homem capaz de suportar a farda e os fardos, caminhar sob tempestades e intempéries tanto da natureza quanto das injustiças sociais.
No caso dos paulistas, estado em que deixei, literalmente, suor e sangue, começaram inventando um trabalho remunerado de nome “Operação Delegada”, em que o policial é remunerado por sacrificar suas horas de descanso sem a perseguição implacável da administração pública: o “Bico oficial”.
Exatamente a atividade pela qual muitos policiais foram punidos administrativamente no passado. Com essa “jogada de mestre” o governador paulista acalmou os ânimos de uma tropa aflita com anos sem aumento salarial. Quem reclamar agora pode ser tachado de “vagabundo”, pois serviço tem.
Não bastasse esse golpe, o infeliz governo criou uma promoção para cabos, e, da noite para o dia, milhares de soldados foram promovidos. Afinal, como a base da pirâmide é constituída por soldados, deu mais uma acalmada na tropa.
Tudo isso com a anuência da cúpula da corporação e de alguns dos nossos “representantes”, em detrimento dos policiais inativos que veem diariamente seu salário desaparecendo como um copo d’água jogado no deserto.
Referi-me ao problema paulista, mas sei que essas malandragens são reproduzidas pelo resto do país.
Agora a coisa tende a deteriorar ainda mais a condição dos policiais militares e afetará exatamente quem está na ativa e assiste silenciosamente ao calvário dos veteranos: Vem aí a PEC 241.
O tema ainda é pouco conhecido, mas sabe-se que os resultados podem obrigar os policiais a trabalharem como zumbis até caírem mortos. Tudo porque se desconhecem os problemas enfrentados por quem exerce essa profissão e imagina-se que, para resolver o problema financeiro deixado pelos corruptos, o policial pode trabalhar bem mais do que já trabalha, por ser dotado de poderes supra-humanos.
Qualquer que seja a reforma que altere o regime de trabalho dos policiais militares será extremamente danosa não somente aos profissionais, mas também à instituição e à sociedade. A igualdade é um princípio constitucional; entretanto, estabelecê-la sob o manto do maquiavelismo revela-se um ato de covardia contra quem é incapaz de um ato de rebeldia.
*Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago no Portal Stive
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