quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Parlamentares policiais dão tiro no próprio pé

Parlamentares policiais dão tiro no próprio pé

Num momento em que a sociedade brasileira clama por justiça e almeja ver os corruptos na cadeia, veio como um soco no estômago a notícia de que alguns parlamentares policiais tivessem votado a favor da fiscalização mais rígida ao judiciário.

Embora seja justo exigir que o judiciário se responsabilize pelos excessos que vier a cometer, o momento e a forma com que o legislativo tratou a questão, e sua intenção, pareceram uma afronta ao anseio popular; afinal, o povo habituou-se ultimamente a enxergar nas entrelinhas as mais diversas espécies de favorecimentos quando se trata de seus representantes. Desta vez o olhar acurado recai sobre as pretensões de um rol expressivo de suspeitos, alvos da Operação da Lava Jato, qual seja, acuar quem lhes pode colocar atrás das grades.

A divulgação dos nomes que votaram SIM e que, por consequência, foram acusados de serem contra a Lava Jato, promoveu uma enxurrada de mensagens de protestos que obrigaram os policiais parlamentares a se justificarem com seus eleitores.

Eleito deputado federal pelo estado de São Paulo, em seu primeiro mandato, o capitão Augusto, que está na lista do SIM, tirou do ar sua página do Facebook e avisou que não irá mais utilizar a farda da corporação paulista, como habitualmente o fazia nas sessões da Câmara dos Deputados, por não suportar o que ele chama de “autofagia PM”.

O referido parlamentar é o mesmo que dias atrás veio a público defender a sua colega de Câmara Maria do Rosário, do PT, de não ser a autora de um texto atribuído a ela em que defendia os três marginais mortos pelo tenente que dirigia um carro UBER, em São Paulo.

Também acho legítimo sair em defesa de alguém acusado injustamente, mas a aproximação com os inimigos declarados dos policiais aliada à decisão de votar atendendo ao interesse dos corruptos não soou bem e garantiu-lhe adjetivos desonrosos. Os mesmos que recentemente ele utilizou para vituperar um jornalista.

Eu ainda pretendo falar muito sobre a representatividade parlamentar dos policiais aqui, mas gostaria neste momento de dizer ao nobre deputado que nossa expectativa é que ele tivesse uma atuação mais objetiva na luta pelos nossos interesses, em vez de empenhar-se na fundação de mais um partido – como se já existissem poucos – ainda que com a justificativa de ser um partido militar e que seria benéfico à categoria, quando sabemos que na prática a política exige muito mais o poder de negociação do que qualquer outra coisa e, para isso, neste momento fundar partido não é prioridade.

Questões como a previdência e o tempo de serviço, por exemplo, interessam mais aos policiais que propriamente essa pressa em fiscalizar o judiciário. Aliás, a prioridade zero do país é colocar todos esses corruptos na cadeia.

Engana-se o político que imaginar que sairá impune de uma traição aos eleitores.

Finalmente chegou o momento em que efetivamente a sociedade abriu os olhos para as manobras que a sacrifica. Ou se atentam para essa nova realidade ou esse tiro que deram no próprio pé pode evoluir para uma gangrena e levá-los à morte política.

*Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago no Portal Stive, de Brasília.


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