
Sobre esse período, assisti a quase todos os filmes, li alguns livros e, mais recentemente, entrevistei dois ex-companheiros de Lamarca: Sargento Darci e Celso Lungaretti.
Embora não tenha simpatia por nenhum dos lados, com esses militantes tive a oportunidade de entender, sem o romanceado literário e do cinema, a motivação exata de seus atos.
Em alguns momentos dos relatos até senti desejo de solidarizar-me com eles. De fato eram jovens inflamados pela convicção de terem a melhor opção para o país.
O inaceitável nesse período foi a utilização da violência pelas duas partes: Militares e militantes foram cruéis.
Independente de quem estava com a razão, ambos foram responsáveis por traumas irreparáveis infligidos a muitas famílias e a história brasileira.
Também tive a oportunidade de produzir dois documentários sobre Mendes Junior. Ouvi relatos de familiares e colegas de turma da Academia do Barro Branco e fiquei comovido com os sonhos frustrados. Tanto os dele quanto os de seus pais, Alberto e Angelina, e do seu irmão Adauto.
Não poderia ter sido mais dramática a sua morte. Teve um algoz patenteado, estava com apenas 23 anos, foi no dia das mães e no dia em que ficaria noivo.
Por estar no cumprimento do seu exercício profissional de manutenção da ordem pública, o policial tornou-se símbolo de mártires que a sociedade produz todos os dias.
Como tenho o coração voltado para a minha vocação, outro dia acordei com uma canção nos ouvidos. Peguei violão, caneta e papel. Ao final estava materializado o meu...
Tributo a Alberto Mendes Junior
Alberto Mendes Junior como herói tombou
E para história entrou num gesto de amor
Seu sonho tão singelo se perpetuou
Com sangue escreveu seu ato capital
Orgulho do seu pai
Enquanto a mãe espera pra almoçar
E o seu amor também espera e ele não virá...
Em seu exemplo miram-se milhões
Quebrando-se grilhões pra um novo alvorecer
A flor já não existe, mas aqui deixou
A essência pra vencer a luta contra o mal
Orgulho dos seus pais
Que o irmão não esqueceu jamais
Choram “seu” Alberto, dona Angelina, Adauto
E todos nós...
Orgulho dos seus pais
Que o seu filho não terá jamais
Porque pertence a história e agora
É de todos nós... De todos nós
Falam muito pouco sobre esse herói. Morreu tão cedo e a maioria nem se importa com sua historia. Nem na sua própria corporação...
ResponderExcluirMais triste ainda foi ler um coronel do RJ reverenciando o Lamarca.
Estava garimpando imagens do Vandré no Youtube e o encontrei como espectador do seu show (como ele está velho!!!). Acabei chegando aqui.
ResponderExcluirDeu p/ conhecer melhor seu interesse na memória da luta armada.
Creio que já passou tempo demais para mantermos posições passionais acerca de tudo aquilo. Foi uma tragédia.
Temos mais é de fazer tudo ao nosso alcance para que nunca mais os cidadãos sejam obrigados a escolher suas opções em circunstâncias tão extremas.
Gosto muito daqueles versos do Brecht: "E vós, que vireis na crista da onda em que nos afogamos/ ao criticardes nossas fraquezas,/ pensai também nos tempos sombrios de que haveis escapado./ Íamos pela luta de classes, desesperados,/ trocando mais de países que de sapatos,/ quando só havia injustiça, e não havia revolta".
Um forte abraço!
Lungaretti,
ResponderExcluirAinda hoje vemos a injustiça prevalecer,os sonhos serem sufocados e tanta gente de bem que só tem o mal pra dar.
Não podemos aceitar e muito menos ficar calados diante da fome, da violência e da injustiça. Mais do que isso, não podemos deixar de sonhar e desejar um mundo melhor.