quinta-feira, 6 de março de 2008

Estilo e atitude

Estou nessa caminhada de fazer música há algum tempo. No próximo CD, que lanço em maio desse ano, terei a participação de vários artistas. Tem alguns renomados de muito sucesso, outros, também com sucesso, contudo, sem o mesmo peso no nome. Mas todos foram de uma gentileza incomum quando receberam o convite para participar do meu projeto. Alguns viraram amigos mesmo, de frequentar a casa e tudo o mais.

Recentemente tivemos a Virada Cultural aqui em São Paulo. Nela a Polícia Militar teve alguns problemas com os frequentadores de um show de rap. No dia seguinte as manchetes dos jornais evidenciaram a atuação da PM de forma negativa, como é comum nesses casos. Ouvidos, alguns rappers repetiram o velho discurso de que existe preconceito contra a periferia.

Estava trabalhando na Diretoria de Ensino quando recebi a determinação para elaborar um trabalho que possibilitasse o estreitamento das relações entre as duas partes.

Aproveitando a sugestão que um conhecido cantor de rap deu na televisão, para estarmos juntos e sem conflitos, procurei o referido e fiz a proposta para acharmos juntos a solução. Nada melhor do que eles para nos dizer o que lhes afeta e, assim, chegarmos ao entendimento, com atitudes de colaboração das duas partes. A proposta de fato foi feita ao seu assessor que se encarregou de informá-lo. Para mim estava muito claro que seria mole resolver a questão, uma vez que as duas partes estavam com interesses comum. Porém, foi inocência minha. Nem o cantor e muito menos seu assessor me deram uma resposta.

Inconformado, procurei um primo do rapper (artista também e meu amigo) para que intermediasse e explicasse melhor quais eram as intenções, mas ainda assim não quis me receber.

De repente aquela pessoa não estava interesada em ajudar, embora tivese falado num extenso programa de TV sugerindo algumas soluções superficialmente. Então, saí a procura de outro representante da periferia para que me auxiliasse nessa tarefa.

Cheguei ao nome de um conhecido poeta, que fez carreira retratando o povo da sua comunidade. Quem me sugeriu e "garantiu" que se tratava de uma pessoa arejada e que certamente deveria aceitar foi uma cineasta, que conheci quando lhe prestei uma assessoria tecnica para um filme que estava produzindo. Ela já havia me dado o número do telefone do poeta quando achou mais prudente avisá-lo que eu ligaria. Pouco tempo depois, muito constrangida, disse que não deveria ligar, sem, contudo, se estender na explicação da negativa.

Mas sou brasileiro, não desisto. Recorri a um jovem cantor de rap que eu havia dividido o palco com ele num show que fizemos para a ONG "Sou da Paz". Depois daquele evento fiquei impressionado com a sua postura serena, cantando coisas de amor e falando dos problemas sociais sem a agressividade costumeira nessas músicas e até fiquei acompanhando a sua trajetória pela internet. Liguei para ele, disse que admirava o seu trabalho e expliquei o projeto. Prontamente agradeceu o convite e se comprometeu a participar. Para minha desilusão, apesar de ligar um dia antes para confirmar o compromisso e no próprio dia para certificar se ele sabia o endereço, não apareceu. Pior, recusou-se a atender todas as ligações que eu fiz para o seu celular e um telefone fixo. Apenas respondeu meu e-mail quando, dois dias depois, escrevi dizendo meu desapontamento. Isso porque ele deve ter se sentido ofendido. Eu disse que não adiantaria ter mensagens de porotestos nas letras se no dia-a-dia a postura fosse incoerente com as mensagens. Seriam palavras vazias jogadas ao vento. Disse exatamente isso: "O estilo não é nada se não houver atitude".

Frustrado, mas sem desistir, achei o site de outro rapper. Já falei com o assessor dele que ficou de me dar uma resposta de imediato. Já se passaram 4 dias, mas como não sei qual o seu conceito de imediato, vou dar mais uma ligadinha e saber o que houve. Depois conto o desfecho.

Uma coisa eu já sei, ou melhor, estou concluindo: Se acabar a polícia também acaba o rap, pois o que os mantém em atividde é a crítica destinada a nossa corporação.

29/2/08

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