quinta-feira, 1 de maio de 2008
O espetáculo da notícia
O noticiário ocupou-se no último mês na ampla divulgação das investigações do caso Isabella. Foram horas a fio repercutindo a morte da menina de 5 anos que caiu de um prédio na Zona Norte de São Paulo, dia 29 de março. A reconstituição do crime, que teve duração de 7 horas, mereceu transmissão ao vivo, quase na íntegra.
Qual é o motivo da espetacularização da notícia?
Nessa semana li e ouvi entrevistas do meu ex-professor da faculdade Cláudio Julio Tognolli, um dos maiores jornalistas investigativos do país, mestre em psicanálise e doutor em filosofia das ciências, dizendo que o espetáculo é uma nova tendência da imprensa. A de transformar um fato, que geraria uma notícia, em entretenimento.
Outra característica é a da notícia que tira suas próprias conclusões. “As pessoas andam muito ocupadas, por isso, preferem o jornalismo dedutivo ao indutivo”, diz o professor. Cita como exemplo a capa da revista Veja da semana retrasada que estampou o título “Foram eles”, acompanhado da foto dos pais da garota Isabella. Segundo ele, “o cidadão quer a opinião pronta para emitir juízo de valor”. Com isso, o jornalismo quebra a máxima da imparcialidade e passa a fazer julgamentos.
Sobre ser ético ou não o profissional prestar-se a essa situação, lembrou uma frase do filósofo Sêneca: “Canto a canção daquele cujo pão como”. Ou seja, quem não concorda que saia da profissão: “Lei do inquilinato, os incomodados que se mudem”.
Tognolli criticou os Jornalistas justiceiros, quem vão para as delegacias e publicam boletins de ocorrências sem fazer uma apuração. Com isso, correm maiores riscos de cometerem erros, em detrimento das pessoas envolvidas nos casos.
Citou a frase do político americano Adlai Stevenson que falava que “a imprensa separa o joio do trigo e publica o joio.” Disse também que “estamos à mercê de jornalistas que acham que entendem das coisas e vivem de adjetivos.”. “Apontamos nos outros os nossos erros e nos absolvemos desses erros. Mas não ao outro, jamais”. Concluiu.
Sendo assim, cabe aos policias terem o devido cuidado em seu trabalho, não expondo em demasia sua profissão, para não serem alvo desses espetáculos. Embora saibamos que os holofotes seduzem.
Fontes: Balaio de Notícias “Revista eletrônica mensal” e Rádio Jovem Pan (Pânico).
Policial veterano de ROTA e jornalista diplomado, Lago também é cantor e compositor de músicas que retratam a rotina policial. Na reserva da PMESP, é o único policial a visitar todos as corporações do Brasil, com foco no cotidiano dos policiais militares, e fazer publicação literária. Lançou o livro Papa Mike – A realidade do policial militar,
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