sábado, 31 de maio de 2008

O papo no gueto


Acabei de chegar do compromisso na periferia, com a rapaziada do Hip Hop. Confesso que estava apreensivo. Fui estimulado até a desistir. Mas sou movido a emoção. Não gosto de ficar com a sensação do “e se eu fosse, como teria sido?”

Como recebi o convite em cima da hora, nem deu pra levar alguém comigo. Fui na cara e na coragem. Eu e Deus. Percorri ruas que só havia passado antes com a viatura, em patrulhamento. Mas, pontualmente, as 14h00 estava lá.

Percebi que existia também uma expectativa por parte das pessoas. Elas também estavam curiosas pra saber quem seria o maluco que estava indo lá.

Na primeira oportunidade, observei quem estava mais acessível e estabeleci um diálogo pra quebrar o gelo. Tiramos até algumas fotos e tal. Alguns preferiram manter a distância. Sem idéia.

Depois de anunciado, comecei minha fala explicando que, apesar de ter gravado algo parecido com rap, não era do ramo. Apenas tinha feito uma incursão superficial por admirar a linguagem musical do rap.

Pouco tempo depois, abri para as perguntas. A primeira participação da platéia já foi uma pergunta/desabafo. O rapaz tinha tomado uma blitz e o policial fez várias perguntas do tipo “Que grana é essa; é do tráfico?”, “Por que está com duas camisas; é pra dispensar uma na fuga?” Então ele queria que eu dissesse o motivo dessas “embaçadas”.

Teve momento que eu achei que a coisa tava ficando complicada. Aí surgiu uma senhora na platéia, mãe de um rapper que iria se apresentar na seqüência. Ela se apresentou: “Meu nome é Maria, sou da Zona Norte, Brasilândia”. Pensei, lá vem bomba. A Brasilândia tem a sua fama. Como ela frisou bem o seu bairro, entendi que ela estivesse me preparando para receber chumbo quente. Mas, pra minha felicidade, ela disse que também era mãe de um policial. Como alívio, nem esperei que fizesse a pergunta e já mandei: a senhora sofre preconceito duplo na família eim... Isso ajudou quebrar o gelo. No encerramento, contra a minha vontade, me fizeram cantar “a capella” o Rap da PM. Ao encerrar, até fui aplaudido.

Aliviado, me acomodei para poder acompanhar os grupos que iriam se apresentar. Não precisou nem esperar muito. O primeiro já deu uma porrada (veja o vídeo) que eu pensei, daqui a pouco a platéia esquece tudo que falei e perco o que foi conquistado nessa relação. Antes que fosse uma realidade minha previsão, cochichei ao ouvido do meu anfitrião e dei linha.

Pra quem tem orkut, veja mais fotos lá.



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