quinta-feira, 24 de abril de 2008

O carvão e as pessoas

Passo pela Praça Coronel Fernandes Prestes há 18 anos. Ela fica na frente do quartel do comando geral da PM, em São Paulo. Estava sendo transferido da Rota para a PM5, quando por lá passei pela primeira vez. Não me recordo, mas certamente não prestei a devida atenção em sua beleza. O foco estava na nova Unidade que iria trabalhar, logo, a concentração estava direcionada.

Hoje cheguei para o trabalho por volta das 07h40. Muito cedo para o início do expediente. Passei na padaria, pedi um pingado e um pão com manteiga, enquanto assistia pela TV o jornal matinal.

Faltavam 5 minutos para as 8 horas. Decidi entrar para o quartel, embora ainda fosse cedo, o que me obrigaria disputar espaço com os colegas no acanhado alojamento.

Ao iniciar a extensa travessia da praça percebi que corria o risco de ter que ficar na posição de sentido, pois a guarda do quartel já se posicionava para o hasteamento da Bandeira Nacional. Optei por esperar num canto afastado.

Sentado no banco da praça comecei observar detalhes que até então não tinham chamado minha atenção. As pessoas transitando. Os estilos mais variados. As fisionomias. Olhei para cima. Vi as folhas das árvores numa perspectiva bem interessante. As pessoas entrando no quartel. Os policiais da guarda marchando em “trenzinho”, após a formatura. Assistia a tudo com a calma de um veterano. Não estava aflito ou ansioso pelo novo dia de trabalho.

Quando o relógio marcou 8h18 decidi entrar. Calmamente percorri o trajeto em passos cadenciados. Cadência lentíssima, claro. À distância, fui cumprimentando os colegas.

No corredor do alojamento vi três companheiros de trabalho. Conversavam animadamente. Ao me aproximar, estendi a mão ao primeiro e o saudei. Só olhou para mim após estar segurando a minha mão. Os demais também me cumprimentaram, sem grandes emoções. Entrei no alojamento ouvindo prosseguirem na conversa, com o mesmo clima animado. Pensei, a convivência diminui o interesse. Não me importei, mas comecei pensar sobre as motivações das pessoas.

Ontem estava ouvindo uma pessoa do meu convívio reclamando que foi recebida friamente no antigo emprego onde era chefe e “amada” por todos.

Quando lancei o CD “De Polícia”, em 2000, ocupei espaço na mídia por um bom tempo. Quando chegava a lugares, era reconhecido por ter aparecido na TV, ou por alguma matéria no jornal. Nessa época, até quem não tinha amizade comigo arrumava pretexto para puxar um assunto. Era a curiosidade de saber um pouco sobre a pessoa que estava em evidência. Cheguei receber ligações de colegas que não tinha notícias há anos.

A mudança de prioridade na minha vida está me conduzindo a essas reflexões. Estou me sentindo muito bem. A maturidade aquieta a alma. Facilita entender e aceitar as regras da vida, tornando-a mais prazerosa.

Ao final da minha introspecção cheguei as seguintes conclusões: ter menos pressa e preocupações possibilita viver com mais qualidade. É como tomar uma sopa na temperatura ideal. Fica mais saborosa. Sobre o interesse das pessoas, descobri que a brasa que não está na fogueira se apaga. É assim também nas relações.




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