Quando decidi fazer o curso, foi mais para desafiar a altura, que tanto temia. Na semana anterior a inscrição, estava na muralha do presídio do Carandiru, numa das muitas rebeliões que o estabelecimento enfrentava, e, decidi subir numa caixa d’água, que dava acesso pela muralha e, portanto, ficava numa parte mais alta ainda. Quando atingi o topo e olhei para baixo sentí medo. Então, quando me falaram do curso de pára-quedismo decidi fazer.
As aulas teóricas foram molezas. Mas, quando fomos fazer os saltos em Americana, cidade do interior de SP, a coisa começou complicar.
Minha mãe, que morava em Resende/RJ, veio para assistir. Meu irmão Misael também nos acompanhou, tinha a incumbência de fazer as fotografias.
Na hora das últimas orientações para embarcarmos no aviãozinho que nos levaria à morte, ou melhor, ao salto, podia-se perceber em cada rosto uma aflição.
Cada embarque iriam 4 pára-quedistas, o tenente Freitas, que era o instrutor e, naturalmente, Belo, o piloto.
Algum espertinho falou para eu entrar primeiro na aeronave, pois aí seria o último a saltar, logo, “passearia” mais de avião. Coloquei entre aspas porque não dá pra considerar passeio uma coisa que você está se borrando de medo. Então fiz conforme a orientação, mas não demorou pra descobrir que tinha sido uma tremenda furada a opção. Vale lembrar que, até aquele momento, nunca tinha entrado numa aeronave.
Dentro do avião ficavam dois encostados um no outro e os outros dois de frente, todos com os joelhos entrelaçados uns nos outros, tudo por causa do pouco espaço.
Após a primeira volta, ao chegar no ponto, o instrutor liberou o primeiro. Logo que ele foi ficou um vazio, uma incógnita: teria aberto o seu pára-quedas? Na posição que estávamos não tinha como ver.
Os procedimentos se repetiram três vezes até chegar a minha vez. Estava aflito. Vi meus companheiros saindo um após o outro e sequer sabia o resultado do salto deles.
Me arrastando, cheguei até a porta do avião. O instrutor mandou que eu colocasse os pés pra fora e apoiasse no estribo, conforme já havia treinado em terra. Minha perna estava tão mole que eu colocava pra fora e o vento devolvia. Então o tenente Freitas, já vendo que estava passando do local do salto, deu um grito, aí criei coragem e saltei.A orientação era pra contar “1001, 1002, 1003, 1004, 1005”. Se não abrisse o pára-quedas eu deveria acionar o reserva. A única coias que fiz foi gritar bem forte: Jesuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuusssssssssssss! E ele se abriu. Com o tranco, meu capacete ficou na frente dos olhos. Vagarosamente tirei e pude contemplar uma paisagem maravilhosa. Fazia um silêncio celestial. Foi tomado de uma emoção que ainda hoje não consigo descrever. Assim, repeti os saltos por quatro vezes, o necessário para brevetar.
Devido a minha demora para sair do avião, fui parar num ponto bem distante do que deveria. Por isso, demorou um pouco pro meu irmão chegar pra tirar as fotos. Estava esbaforido por correr tanto e até me deu bronca por causa da distância. Essas emoções o tempo não apagarão.
Recordo-me que no início de 1998 fui incentivado a retornar aos saltos pelo sargento Magalhães, que fez o curso na minha época e posteriormente tornou-se instrutor, com mais de 2.500 saltos realizados. Nunca aceitei alegando que não tinha mais coragem. Em 1999 eu já estava trabalhando em Campinas quando recebi a notícia de que ele tinha morrido tentando solucionar uma pane no pára-quedas de uma aluna dele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário