Certa vez, enquanto aguardava a abertura do semáforo, atento, olhando para todos os lados, em razão de estar fardado, observei que um velhinho, magro, cabelos brancos, vinha em minha direção. Ele estendia a mão de carro em carro pedindo ajuda financeira. Nem costumo dar dinheiro na rua, pois o nosso cotidiano está impregnado de gente de caráter duvidoso, que se passa por necessitado, porém aquele senhor trazia uma sinceridade na expressão que desafiava minha resistência de cidadão cioso. Tinha um ar do aposentado cuja renda não lhe permitia comprar o próprio remédio.
Ao selecionar umas moedinhas no console, pronto para um ato humanitário quase inédito, percebi que aquele homem recolheu-se ao identificar-me a farda, e, todo ressabiado e de forma respeitosa, proferiu: “- Desculpa. O senhor também ganha pouco.” Diante do meu olhar atônito, abandonou meu silêncio e foi procurar alguém que lhe pudesse oferecer condições mais venturosas, segundo seu julgamento. Parece piada. Antes fosse.
Os motivos que levaram aquele senhor a ter essa opinião se repetem todos os dias, e dá-se em função da nossa cultura de divulgar assuntos intramuros com pessoas que não têm o poder de mudar a nossa condição. E essa postura nos transforma numa espécie de pedinte, merecedor da compaixão de alguns, mas também maldição de outros.
Com a Força Nacional foi diferente. Às vésperas de uma olimpíada, colocou a boca no trombone e conseguiu um aumento de quase 150% na diária. De 224 reais pulou para 550 reais.
O problema foi a forma como alcançaram o intento. Além das más condições dos apartamentos em que foram alojados, alardearam também que estavam sofrendo pressão das milícias. Um absurdo!
Que vivemos num país onde “tá tudo dominado” não é novidade. Vivemos à beira do caos em todas as áreas. Agora… Uma tropa de elite assumir impotência frente à ameaça de uma milícia faz-me acreditar que essa diária já estava sendo excessivamente bem paga.
* texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago no Portal Stive
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