sábado, 16 de janeiro de 2010

O policial e a periferia

Certa vez estava fazendo patrulhamento numa área de invasão em Campinas. A equipe comandada por mim tinha os soldados Julio César ao volante e no banco de trás Fazani e Ygider.

Sempre que saíamos para o trabalho tínhamos em mente poder contribuir para a segurança na cidade da melhor forma possível.


O policiamento ostensivo já ajudava. A simples presença de uma viatura circulando pelos bairros já inibia o cometimento de delitos. Mas quem é polícia sabe o que vou dizer. Não ficamos satisfeitos apenas em fazer o preventivo. Gostamos de ajudar diminuindo o número de criminosos na rua. É gratificante para o policial quando isso acontece.


É por esse motivo que ficamos aborrecidos quando alguém, contrariado com a intervenção da polícia em situações de menor gravidade - mas que exigiu a nossa atuação – diz: Por que vocês não vão pegar bandido?!? Tudo que um policial quer é pegar bandidos.


Mas, voltando a história, já estávamos cansados de patrulhar aquele local e não víamos ninguém sequer suspeito. Apenas senhoras lavando roupa, crianças brincando na rua de terra e ouvíamos o som alto dos rádios, que vinha das casas.


Estava tão tranqüilo que decidimos dar uma paradinha para descer um pouco da viatura e esticar a perna.


No bate-papo que se iniciou, devidamente atento a nossa segurança, falávamos de várias coisas, inclusive de como poderíamos achar algum marginal.


Recordo-me de um comentário que fiz sobre a população daquela região: Da mesma forma que a sociedade julga as pessoas pela aparência, somos induzidos a associar a periferia com a obrigatoriedade de encontrar marginais. E o nosso grande desafio é não desacreditarmos disso, sem, contudo, deixar de proteger a maioria honesta dessas regiões.

8 comentários:

  1. É provável que o senhor não se recorde, mas falou exatamente isso no nosso último dia de aula na escola de soldados, em 1993. Que deveríamos ser gentis com as pessoas de bem sem conmfundi-las com os marginais. Pra mim foi uma grande lição e pratico até hoje.

    Boa postagem mestre, essas lições devem ser sempre lembradas.

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  2. Não confundir pessoas de bem com marginais e não confundir marginais com pessoas de bem.

    É muito difícil, e deve ser pior ainda pra quem veste farda. Será que essa visão melhor apurada vem com o tempo de casa do policial???

    Um beijo, professor!

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  3. Barbosa, não me esqueço porque sempre falei isso para todas turmas.

    Recentemente, falando ao telefone com um Cabo, antigo parceiro quando trabalhei no 23º BPM/M, estávamos lembrando os procedimentos: pródigo em gentileza aos de bem e rigor pra quem estava vacilando, essa era a lei.

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  4. Novinha,

    A atividade policial, embora muita gente dê pitaco achando que é especialista, é muito difícil.

    Os anos de janela são favoráveis em todas profissões, mas nem por isso garante conhecimento pleno ao policial no exercício da sua profissão. Cada dia é um dia diferente. Se não acreditar nisso vai ficar vulnerável e estará em perigo.

    A atenção nos detalhes vai ajudar saber quem é quem. E já vi novato com mais perspicácia que muito antigão.

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  5. Quem dá o respeito merece o respeito. Essa avaliação deve ser feita por policiais e pela sociedade...

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  6. O policial tem que ter muita serenidade para contiuar desejando fazer essa distinção, pq tem hora que o povo faz a gente ter vontade de tratá-lo como bandido.

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  7. Carol,

    Vc tem razão... Respeito é bom sempre.

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  8. Fábio,

    Por isso que devemos manter o controle emocional. Somos vocacionados para o bem, isso independe de reconhecimento.

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