terça-feira, 25 de junho de 2019

Usurpadores da Polícia Militar


Usurpadores da Polícia Militar


A afronta do policial militar gay no último final de semana – que, durante o seu turno de serviço e em desobediência à determinação de seus superiores, fez um circo autopromocional e pediu o namorado em casamento - dá mostras de como as polícias militares são usurpadas por aproveitadores.

Percorrendo o país e observando o cotidiano das polícias militares constatei que, do público interno aos falsos amigos, a querida Polícia Militar, que tanto exigiu dos seus profissionais dedicação, idealismo e amor, tem seu prestígio subtraído por habilidosos furtadores, que pouco ou quase nada a ela devolvem.

No caso do PM gay, é compreensível a utilização do uniforme para conquista dos seus objetivos, pois se o fizesse sem a farda, rodeado de milhares dos seus pares coloridos, certamente se manteria no anonimato. Quando expõe seu orgulho vestindo a nossa farda, ganha a notoriedade e simultaneamente avilta, ultraja profissionais que ao longo da História deixaram um legado de honradez e glória escrito com o próprio sangue, levando à ultima instância um compromisso assumido com o povo numa manhã qualquer em que se semeava a esperança.

Na mídia podre do país, não tardarão as prolíficas manifestações elogiosas à “coragem” do impetuoso policial militar que desafiara os rígidos padrões da caserna para firmar posição na luta contra o preconceito. A rebeldia, que aos policiais comuns representaria uma reprimenda expulsória, renderá ao atrevido uma promoção à condição de celebridade. Nesse contexto da prevalência do pós-verdade, que costura o estado de plena anomia, esse enredo nefasto ultrapassa todos os pressupostos da razoabilidade. Não se trata de rebeldia, configura-se vilipêndio dos valores que consagram as Instituições. Quando essas pessoas saqueiam o prestígio da Polícia Militar, não o fazem propriamente ao estado, mas a todos policiais que trabalharam dignamente para cumprir o seu mister. Saqueiam também os familiares dos policiais mortos em combate.

Ora, tanta gente sacrificou sua família, saúde, sonhos e até a vida para vir um ambicioso qualquer e associar a sua imagem à farda, à viatura, à arma e ao quartel da Polícia Militar para divulgar o seu interesse mesquinho! Sim, é mesquinha a luta que oprime em seu orgulho um grupo que sofre para cumprir o seu papel para alimentar propósitos – embora legais, porém desproporcionais –, conquistar o respeito ao prazer, que, na intimidade, não sofre interferência.

O pior é assistir, perplexo, à Polícia Militar refém desses aventureiros, numa autêntica síndrome de Estocolmo, enquanto sentimos a nossa capacidade de indignação transformar-se apenas em resmungos de “reacionários incapazes de inserir-se nos novos tempos”. Logo seremos achincalhados nas ruas e teremos direito apenas a um sorriso amarelo de resignação.




Mas a audácia não se resume a isso. Começa na busca de likes e seguidores. Há muito, a farda tem sido utilizada para propagar a sensualidade na internet, profana-se o sagrado manto com o qual homens e mulheres dignos alimentam a família. Está na hora de incluir o fenômeno chamado rede social, de forma específica, como cenário para o qual exista um rol de condutas éticas aceitáveis, visto que nem tudo que é bonito aos olhos necessariamente é sensato. Se não é aceito a qualquer profissional, imaginem ao agente público?

Ao longo dos anos as instituições policiais, a despeito da sua capacidade e preparo técnico para enfrentar os perigosos inimigos da sociedade, têm se mostrado inábeis para se proteger dos usurpadores. Mas, até por uma questão de justiça, não se pode falar apenas desses casos sem citar os políticos. Eles deitam e rolam à custa do nosso prestígio. Coloquem na balança as vezes que utilizaram a imagem da PM e o que devolveram em conquista política. Claramente verão que a balança está pensa.

Quando se trata de tentar o ingresso na política, então, o despudor torna-se maior. No Rio de janeiro surgiu um soldado que, utilizando-se da sua excelente capacidade intelectual, vem gravando vídeos em reuniões de grupos de esquerda onde entrevista os participantes, alguns da liderança, com perguntas sobre marxismo, processo do Lula, entre outras capciosas, e expõe a fragilidade de argumento e despreparo de seus interlocutores sobre o assunto. Segue o perfil de denúncia e confronto utilizado pelo Movimento Brasil Livre – MBL do qual faz parte. Até aí, perfeito. Essa nova juventude brasileira articulada e com poder de mudança é bem-vinda, e o país exige que as antigas práticas políticas sejam substituídas.

O problema é que, diferente dos seus colegas de movimento que utilizaram o próprio nome para fazer política, este expõe em seu perfil nas redes sociais a farda, arma e viatura da PM carioca. Seria louvável se utilizasse o talento para engrandecer a instituição, contudo perde a mão quando bate de frente com a PM, contraria determinações, conforme fez o PM gay paulista. Ou seja, se fosse apenas o cidadão seria mais um, mas se destaca dos demais quando ostenta o uniforme.

Em que pese os muitos procedimentos administrativos a que responde, continua tornando pública essa relação tempestuosa que vive com a instituição. Com isso, deixa claro que, melhor que preservar o seu “sonho, ideal e amor profissional,” se torna mais conveniente investir na visibilidade que o conflito gera, pois ele colabora com a sua popularidade e, com ela, tem facilitado seu objetivo de obter a vitória da sua candidatura na próxima eleição.



Confesso que tenho dificuldades para acreditar nos ideais de quem pisa em tudo e todos para conquistar seus objetivos. E temos visto que algumas pessoas ficam cegas quando os querem atingir.

Também existem nesse rol de usurpadores os profissionais que se aproximam da instituição oferecendo algum tipo de trabalho e, após conquistarem prestígio e confiança dos militares, se apropriam de conteúdos valiosos - seja uma informação ou imagem - para, no momento oportuno, utilizá-las contra a própria instituição, caso tenham seus interesses contrariados.

Sabemos que o policial, por muito menos, é reprimido na primeira tentativa e, se insistir, ganha uma bota nos fundilhos e está resolvido o problema. Mas esses espertalhões afrontam o sistema e permanecem dentro dele. E não falo de um estado específico, eles estão em todo canto. Se fosse velado, tudo bem, mas é público e amplamente divulgado. O silêncio desperta a curiosidade para a dimensão do problema.

Como tem acontecido em toda sociedade, está chegando às PMs as investigações afiadas que já colocaram poderosos na cadeia. Não é uma questão pessoal, longe disso, cada um dará conta de si e, confesso, sinceramente, não tenho prazer no infortúnio de ninguém. Tampouco apraz a impunidade.

7 comentários:

  1. Parabéns Lago,pelo texto exibido
    Abraço meu amigo

    ResponderExcluir
  2. Parabéns Sgt, o seu texto da voz aqueles que estão indignados com toda essa situação.

    ResponderExcluir
  3. Excelente texto, meus parabéns,te agradeço particularmente, pelas palavras.
    Atitude desse PM de São Paulo foi mesquinha, egoísta, voltada para seus próprios interesses.
    Obrigado pelo texto.

    ResponderExcluir
  4. Excelente texto, meus parabéns,te agradeço particularmente, pelas palavras.
    Atitude desse PM de São Paulo foi mesquinha, egoísta, voltada para seus próprios interesses.
    Obrigado pelo texto.

    ResponderExcluir