Apenas um policial é o título do 4º CD do Sargento Lago -- cantor, compositor, escritor, jornalista diplomado e policial militar (na reserva desde 2009, após ter cumprido os 30 anos regulamentares de carreira).
13 faixas passeiam pelo samba, reggae, rock, gospel e outros ritmos, enfocando temas ligados à segurança pública e aos profissionais que nela atuam.
Destaque para a participação de Almir Guineto na música "Se segura segurança", por ele composta em parceria com Lago e Adalto Magalha.
Em "Rota tá tá", Lago presta tributo à unidade na qual atuou, evocando a mística agressiva ("Rota tá tá o chão vai tremer/ Rota na rua é matar ou morrer") de quem, no seu dizer, é "cidadão que se arrisca em prol da população".
Mas, não está ausente um certo questionamento desse universo em que a violência é respondida com a violência.
Em "Um dia vai ser tudo diferente", p. ex., ele mostra outra faceta de um PM: o cidadão sofrido ("...tudo que eu faço é tão difícil/ Sempre tem um sacrifício/ Faz a lágrima rolar"), sonhando com o repouso do guerreiro ("Um dia os espinhos serão flores", "Um dia o meu canto será santo", etc.).
Essa contradição foi notada pelo crítico Gilberto Amêndola, do Jornal da Tarde (SP), ao comentar o CD anterior de Lago, Profissão Coragem (2008), que teve participações especiais ilustres como as de Dominguinhos, Jair Rodrigues e Benito di Paula:
"É como se Lago subvertesse a música de protesto dos anos 60/70 e do rap dos dias atuais. Em vez de crítica, elogios ao aparato policial. Isso é um problema? Talvez não. Mas, convenhamos, é um preconceito difícil de se vencer.
"O teste de fogo é a versão de 'Pra não dizer que não falei das flores'. Nem adianta dizer do estranhamento de ouvir um policial cantando um dos hinos da esquerda contra a ditadura militar. O próprio Vandré, arredio a homenagens, gostou da versão".
Tanto gostou, aliás, que foi assistir a um show de Lago no bairro paulistano do Bixiga, na qual a popular "Caminhando" teve papel de destaque.
Já uma das faixas do novo CD é o "Tributo a Alberto Mendes Junior", homenagem ao oficial PM morto pelos guerrilheiros cercados no Vale do Ribeira, em 1970.
Lago, inclusive, tem feito entrevistas com antigos participantes da luta armada contra a ditadura, pois quis conhecer de viva voz a versão do outro lado, como se tentasse lançar uma ponte entre os inimigos de outrora.
É exatamente o que ele diz na canção "Um dia vai ser tudo diferente": "O hoje, amanhã vai ser passado/ Vira fato consumado/ só nos resta esperar".
Quatro décadas depois, é salutar que o representante de uma corporação que também travou essa guerra venha dizer que ela está encerrada, virou fato consumado, página triste da nossa História.
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