quarta-feira, 11 de maio de 2011

A garra que vem do sertão

Garra na apresentação, no final do CIOSAC

Interessado em conhecer Caicó/RN, distante 280km da Capital, aproveitei o retorno do Major Cardoso, que está freqüentando o Curso Superior de Polícia – CSP, em Natal, e fui conhecer a Região do Seridó, nome que faz referência ao rio que banha aquele local.

No trajeto comecei prestar a atenção no próprio Oficial que durante a viagem foi ouvindo Luiz Gonzaga, o maior referencial do sertão. “Sertanejo que não dançar forró não é puro, não”, disse ao comentar também que não gosta das atuais bandas do gênero. Para ele, as músicas atuais afrontam os laços familiares, as novas gerações deixaram a tradição do forró.

A viagem transcorreu sob sol e chuva, alternadamente.

Ao passar por Sta Cruz do Inharé vimos a imagem de Santa Rita, que, segundo dizem, é maior que o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro.

Ao passarmos por Currais Novos chamou à atenção a quantidade de cabras que circulavam pela cidade.

Nascido no Ceará, o Major Cardoso chegou aos seis anos de idade a Caicó - onde seu pai, militar do Exército Brasileiro, foi transferido - e permanece até os dias atuais.

Como o comandante Geral da Polícia Militar do Rio Grande do Norte manifestou desejo de criar uma Unidade para agir na região de Caatinga e sugeriu que ele fosse o comandante, decidiu fazer o curso da Companhia Independente de Operações e Sobrevivência em Área de Caatinga - CIOSAC, da Polícia Militar de Pernambuco, pois dessa forma poderia entender as necessidades da sua tropa.

Sabendo das dificuldades que teria, treinou forte para se capacitar fisicamente, por trinta dias. Fez jornadas exaustivas com equipamentos, mochila e fuzil, sob sol escaldante. Perdeu cinco quilos.

No Pernambuco acabou sendo alvo de brincadeiras por parte dos colegas, já que eram todos jovens, numa média de 26 anos de idade. “Major, volta pro seu quartel, fique no gabinete tomando cafezinho”, subestimando sua capacidade, pelo fato de ter 46 anos e haver muita exigência física e psicológica durante o curso.

Era o único Oficial Superior, logo foi o Zero Um. “A responsabilidade era maior”, lembra ao se referir que a condição de mais antigo do grupo lhe custava mais sacrifícios.

Os trinta dias de curso foram tão fortes que dos setenta e poucos que iniciaram os treinamentos, apenas trinta e um concluíram. Entre eles, o Major, com sete quilos a menos.

No último dia, sem que soubessem (eles nunca sabiam o que ia acontecer, eram surpreendidos, para testar o psicológico), chegaram correndo ao quartel, vindos de um treinamento, armados e equipados, e coube ao Zero Um apresentar o grupo ao comandante do dispositivo. O major Cardoso, numa vitalidade e vibração incomum, eternizou uma cena emocionante. Correndo em passos curtos, com os joelhos bem levantados e com o fuzil cruzado ao peito chegou à presença do Major coordenador do curso, fez o “Alto”, estendeu a mão à frente do corpo e fez a apresentação, como se um garoto fosse, para orgulho dos seus jovens companheiros do 13º Curso Intensivo de Operações e Sobrevivência em Área de Caatinga.

Com a simplicidade de um sertanejo que está acostumado a transpor dificuldades, deixou a receita da sua conquista: “basta ter perseverança, persistência, não existe nenhuma dificuldade intransponível”

Major Cardoso; "Basta ter perseverança"

Viagem ouvindo Luiz Gonzaga

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