O bairro da Matinha, na Zona Norte de Teresina/PI, já foi considerado um dos mais problemáticos devido ao tráfico de drogas. Para evitar que as crianças e os adolescentes que residem no local fossem recrutados para a atividades criminosas, o líder comunitário Mureco, apelido carinhoso que ganhou o senhor Euclides, devido a sua baixa estatura, procurou o Capitão Fábio Abreu, Comandante da RONE- Ronda Ostensiva de Natureza Especial, e assim nasceu o projeto do Pelotão Mirim.
Todos os sábados, das 7h da manhã às 12h, 250 crianças e adolescentes, entre 6 e 14 anos, se apresentam ao quartel para participar do treinamento de Ordem Unida e das aulas de Capoeira, Jiu Jitsu, Taekwendo, Karate, Futebol e Natação.
Ao chegar, entram em forma, cantam o Hino Nacional e fazem a Oração do Pai Nosso. Em seguida iniciam as atividades.
Parece brincadeira de criança, mas Cauã, de seis anos, leva a sério o treinamento de Ordem Unida. Embora seja o último da coluna, executa todos os comandos, sem desviar a atenção.
“Aqui não tem moleza, moleza é na casa de vocês”, fala o Sargento Júlio Cézar, que trabalha no COPOM e todo sábado vem voluntariamente oferecer a sua contribuição. Ele puxa as canções durante a marcha... “Na ordem unida aprendo o meu dever”, e os pelotões repetem... “ E aqui a disciplina é pra valer... Na RONE não tem enrolação... Se eu errar,sou chamado à atenção”.
Uma pequena pausa acontece as 9h30, quando é servido o lanche. Refrigerantes, sucos, bolachas e bolos. Embora existam parceiros do projeto, neste sábado as mães trouxeram, porque alguém não cumpriu com o combinado.
Enquanto alguns ainda estejam comendo, os que já acabaram são separados por modalidade esportiva, conforme sua escolha. Pouco tempo depois todos reiniciam os treinamentos.
Entusiasta do projeto, o professor de Jiu Jitsu Ginkles Lucas, que perdeu o título de campeão pan-americano de 2009 por não ter patrocínio para viajar, diz: - Se eu tivesse dinheiro, apoiaria mais efetivamente os projetos existentes, como não tenho, ofereço o meu tempo. Ginkles, tem uma academia nas imediações e oferece 60 bolsas aos alunos de um colégio público, demonstrando seu compromisso com a comunidade.
O capitão Fábio Abreu trouxe o seu filho João Vítor, de 3 anos, que fica brincando sozinho, já que ainda não idade para participar com as demais crianças.
Embora seja comandante de uma Companhia que atua com freqüência no combate ao crime, entende que a prevenção é o caminho. “Não é porque a gente trabalha junto à comunidade que vai ficar menos operacional”.
O sucesso do Pelotão está na satisfação dos pais. Os que podem permanecem todo o período na arquibancada vendo o treinamento dos seus filhos. “Aqui a gente sabe que eles estão formando cidadãos”, comemora a dona Célia. Pra ela o Pelotão Mirim também ajuda a colocar limites ao filho único, que é o caso do seu filho João Gabriel . “Os pais não sabem dar o limite, aqui o regime é militar, nós ficamos sentados e eles têm que obedecer ao sargento.
Enquanto converso com a dona Célia, ouço a voz do sargento Júlio Cézar.
- Pelotão de preto o que é que você faz?
A resposta é imediata:
– Marcho, estudo, na RONE é bom demais. Pelotão Mirim, RONE, RONE, RONE Piauí.
Contrastando com as notícias que a atividade policial produz, no Pelotão Mirim Matinha a esperança se renova. O semblante no rosto dessas crianças e adolescentes sinaliza o caminho a seguir, o do comprometimento social.
Aula de capoeira
Capitão Fábio Abreu
As crianças levam a sério o treinamento
João Gabriel, filho único
Sargento Júlio Cézar
Natação: calor de Teresina atrai modalidade
Professor Ginkles, campeão pan-americano