... E levam para frequentar curso de Direito na faculdade.
O trajeto entre as cidades paraibanas de Campina Grande e Patos tem 175 km e dura cerca de duas horas e dez minutos. Fizemos em mais tempo porque paramos em Soledade para olhar o mapa da Paraíba, desenhado na parede de um supermercado, informando distâncias entre cidades e locais onde nasceram alguns artistas famosos da terra.
Chegamos no início da noite de segunda-feira e, ainda assim, percebi o quanto fazia calor em Patos. Aproveitei para descansar cedo, pois teria compromisso na manhã seguinte.
Em razão das constantes mudanças de cidade, acordei sem saber ao certo onde estava, mas lembrei logo que chegou o Aspirante a Oficial Vítor para me conduzir ao auditório da Câmara de Vereadores da cidade. Lá proferi palestra motivacional aos alunos dos Cursos de Habilitação de Sargentos e de Formação de Soldados.
Como o calor durante o dia era muito forte, decidi sair apenas no final da tarde para conhecer o policiamento de rua.
Estava na viatura do Aspirante Vitor quando uma comunicação pelo rádio informou que alguns policiais iriam prestar apoio a outro policial, portador de deficiência física. Logo o Aspirante me deu um resumo do que se tratava e, atendendo a minha solicitação, fomos para o local.
Chegamos juntos com os companheiros da viatura que prestaria o apoio, comandada pelo Sargento Zenaldo.
Jovem, comunicativo e bem humorado, o soldado Jamerson da Silva, de 32 anos, casado com Márcia Lopes da Silva e pai de Geiza, de 11 anos já esperava na frente da sua casa.
Tão logo fomos apresentados, e sabendo do meu interesse em saber da sua história, contou que no dia 3 de abril de 2003, recém formado no curso de formação de soldados, era o motorista de uma viatura, que tinha um Cabo como encarregado, e iam de Patos para Cajazeiras quando, entre as cidades de São Bentinho e Pombal, tiveram que reduzir a velocidade - devido à circunstância da estrada – e foram surpreendidos por três marginais, que estavam num Fiat Uno Branco estacionado à margem da rodovia, que atiraram contra a viatura, por imaginarem que seriam abordados. Sem tempo sequer para reação, Jamerson foi atingido no pescoço, e o projétil transfixou sua coluna cervical, paralisando seus movimentos de imediato, deixando-o tetraplégico.
Com a fuga dos marginais, Jamerson foi socorrido e permaneceu durante dois anos internado.
Embora novato na corporação, a Polícia Militar Paraibana dispensou ao soldado toda atenção que necessitava. Inicialmente com apoio psicológico e, posteriormente, com a sua iniciativa de prestar concurso para o Curso de Direito e ser aprovado, pagando a sua faculdade, com recursos de um Fundo de Saúde.
Visando aproveitar seu potencial cultural e dar uma oportunidade para que complementasse sua renda familiar (ele é soldado e recebe proventos de 3º Sargento), o comandante do 3º batalhão convidou o policial para fazer parte do corpo docente do Curso de Formação de Soldados e há dois anos ele ministra aulas de Direito Penal, Constitucional e Processo Penal.
Para sua locomoção, a PMPB disponibiliza diariamente uma viatura para levá-lo e trazê-lo tanto para ministrar aulas no quartel quanto para ir para a universidade. “Não me levam na viatura simplesmente, mas demonstram carinho e respeito por mim. Isso é muito importante”, diz Jamerson, que vai para a faculdade todos os dias com uma camiseta da PM, como gesto de gratidão e orgulho da sua instituição.
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