Tenho percorrido o país, patrocinando e promovendo o Projeto Polícias Militares do Brasil, e estou tendo a oportunidade de conhecer as peculiaridades das corporações do nosso extenso país.
Embora entusiasmado, por ver nossos companheiros resistindo bravamente todas as adversidades inerentes a nossa profissão, entre elas a falta de investimento dos governos, em alguns casos, meramente por falta de recursos mesmo, não tenho perdido o foco das boas notícias vindas de São Paulo.
Há de se reconhecer, sem falsa modéstia, que nosso Estado está muito à frente da maioria das nossas coirmãs, não por falta de material humano competente, pois isso nossos companheiros das demais federações têm, e não é pouco, mas especificamente pelos recursos financeiros.
Recentemente a imprensa noticiou novas aquisições de equipamentos de alta tecnologia pelo governo paulista que reverterão em avanços significativos no combate ao crime, fruto dos esforços da cúpula da segurança pública, que se mobiliza e faz estudos constantes para não perder a guerra contra o crime organizado. E os resultados têm aparecido. Os índices apontam decréscimo na pontuação que determina a dança das cadeiras, caso não apresente tais resultados ora vistos.
Tenho observado também que a exposição da Polícia Militar na mídia em programas que retratam a rotina de atendimento de ocorrências, tão combatida no passado e resistida até como estratégia militar, tem contribuído sobremaneira para que o tão almejado reconhecimento comece a aparecer. Tenho constatado isso por onde tenho passado aqui pelo nordeste.
Todos esses avanços espelham na mesma intensidade a evolução e o prestígio que o Brasil tem conquistado no exterior, em momento oportuno, já que estamos às vésperas de uma Copa do Mundo, e certamente todo assunto relacionado ao produto segurança ganhará destaque na imprensa mundial.
Em que pese os motivos suficientes para comemorar, e o incontestável posicionamento do Estado de São Paulo na vanguarda das mudanças sociais e estruturais em nosso país, intriga detectar algumas posturas em descompasso com o status quo vigente, que beiram a incoerência e leva-nos à suspeita de que inovações assumem papel de verdadeira mediação por meio de medidas tomadas somente para provocar aplausos.
Uma dessas constatações se refere ao espaço da mulher policial, que tem a mesma formação que seu congênere de sexo masculino, mas é podada na ascensão profissional, sem qualquer amparo nas postulações do bom senso e da razão. Qual será a motivação para que uma mulher não assuma o cargo máximo da instituição ou da chefia da Casa Militar, um órgão de assessoria governamental, fantasiado de secretaria de Estado num momento em que uma mulher é o chefe supremo das Forças Armadas? Pois é, no regramento que rege a Polícia Militar uma cláusula garante apenas ao oficial de último posto do sexo masculino o direito a assumir o cargo máximo da instituição, ou seja, proíbe que uma mulher seja comandante-geral da corporação tão-somente por ser do sexo feminino, nada mais além disso.
Considerando que tal documento foi elaborado em tempos em que a mulher não tinha sequer seus direitos de cidadã respeitados, é oportuno que seja revisto para que não haja pretexto para que nossas brilhantes coronéis sejam preteridas, permitindo-lhes a oportunidade de concorrer ao cargo em igualdade de condições com os homens. Minha observação se faz em razão de estar constatando nas polícias que tenho visitado uma humanidade que não vi na minha instituição nos últimos 30 anos. E essa situação apontada é apenas uma das incongruências verificadas, entretanto pode-se constatar que há mais ênfase a resultados e procedimentos que valorização da pessoa humana voltada ao público interno.
Geraldo Vandré dizia: “Há soldados armados, amados ou não”. A sensação do desamor fica evidenciada quando vemos o descaso com policiais que em razão do serviço adquiriram deficiência física ou psicológica. Enquanto constatei que na Paraíba a PM cuida dos seus “feridos de guerra”, em São Paulo isso inexiste.
No passado talvez tenha sido devido ao regime militar e as falas ufanistas do tipo “soldado é superior ao tempo”. Hoje, talvez pela grandeza da corporação, as relações na caserna são pouco pessoais, e os profissionais são lembrados apenas por seus números de registros estatísticos. A partir do momento em que ficam inservíveis, são friamente substituídos, trazendo-me à memória a dramática cena dos nazistas acumulando corpos em valas rasas, dos judeus que foram condenados à morte por não lhes servirem para o trabalho.
Entendo que uma mulher no comando da instituição, além de historicamente ser o momento apropriado, contribuiria sobremaneira no resgate ao sentimento humano e fraternal e reverteria em benefício de bons trabalhos à população, numa leitura simples. Se o policial se sente amado, naturalmente ama.
Com a posse de Dilma Roussef, uma discussão ganhou espaço na mídia: A legalidade da exigência da primeira mulher a ocupar o cargo de ser chamada presidenta. Em detrimento da formalidade da língua portuguesa, sua vontade está sendo atendida, em contra- partida, enquanto não houver uma alteração no documento que rege a PM paulista, uma coisa é certa: não haverá uma mulher pleiteando ser chamada de comandanta.
crédito: foto extraída do site: http://www.mnp.org.br
MUDOU: Coincidência ou não, 16 dias após esse artigo ser publicado, o governador Geraldo Alckmin assinou (dia 12/5) mensagem que propõe à Assembléia Legislativa a unificação dos quadros feminino e masculino na PMESP. Agora ficamos na torcida para que tenhamos a primeira mulher ocupando o cargo de Comandante Geral.