domingo, 22 de agosto de 2010

Carta aberta a Geraldo Vandré

Prezado amigo Geraldo Vandré,

Devo confessar que estou com saudades do amigo e lamento a escassez de oportunidade para dividirmos o convívio. Contudo, não é esse o motivo dessa mensagem.

Após a sua aparição no meu show do Bixiga, tenho sido procurado, com frequência, para falar sobre a nossa amizade, o que não recuso. Acredito que não se incomoda que saibam dela, pois deu mostras carinhosas públicas em diversas ocasiões, inclusive no show citado.

Porém, embora tenha feito uma vez, a postura que adotei com jornalistas e alunos de faculdade que têm a sua brilhante carreira como tema é a de não me expressar sobre você, pois, se fosse do seu interesse, não haveria ninguém melhor do que você mesmo para fazê-lo.

Fui procurado recentemente pela jornalista Nina Lemos, da revista Trip, que conseguira o número do meu telefone com uma terceira pessoa que havia me entrevistado para usar em laboratório de um filme policial e, durante a conversa, confessara que o vira no meu show.

A jornalista, após apresentar-se e dizer como chegou até mim, ouviu a minha afirmativa de que não concedia entrevistas sobre Geraldo Vandré, pelos motivos já expostos. Disse: “Se ele quisesse notícias sobre si, o próprio falaria”. Entretanto, disse também que de fato éramos amigos e não gostaria de uma “entrevista do Sargento Lago falando do Geraldo Vandré”, mesmo porque, já que você não costuma conceder entrevistas, ia vir um batalhão de pessoas a minha procura para repetir incansavelmente as mesmas coisas.

A moça pareceu entender a minha solicitação, mas o conteúdo da Trip 191 (agosto 2010) não confirmou isso. Ela não só escreveu tudo que queria, mas também, à revelia da minha vontade, abriu aspas para expressar algumas palavras que de fato falei, mas cuja publicação não autorizei. Serviria apenas de subsídio para a sua matéria.

Ao longo dos anos, aprendi a conviver com muitas pessoas. Conquistei muitas amizades. Várias delas com artistas renomados, como você. Mas sempre as respeitei. Todas elas. Desde o percussionista que mora na comunidade e que conheci na noite, prestigiando os shows desses amigos, até os célebres. Porém, uma coisa ainda não aprendi, e tenho certeza de que nunca aprenderei: conviver com a falha de caráter. Entristece-me saber que há esse tipo de gente em nosso meio que, a despeito de uma situação, lança seus valores no ralo.

Como policial, aprendi identificar fontes e, como jornalista, respeitá-las; sobretudo preservá-las.

Embora nunca me tenha proibido de falar sobre a nossa amizade, quero deixar registrada aqui a minha indignação, para que futuros interessados em notícias suas saibam que dignidade e respeito ao próximo são bens indisponíveis, mesmo que seja para garantir um emprego.

Um comentário:

  1. Olá, Sargento.
    Sou admirador e estudioso da obra de Vandré. Vi as belas cenas do show e admiro sua coragem em se posicionar em relação à hipocrisia que cerca a figura desse grande compositor.
    Um abraço,
    Ravel.

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