sexta-feira, 5 de março de 2010

Conflito


Saí para a minha caminhada matinal com uma preocupação, tinha que escrever um texto para o blog.

A periodicidade em ter de fazê-lo, custa-me desprendimento de energia sobrecomum na hora de buscar o tema.

Logo na chegada ao parque, onde realizo minha atividade, presenciei o início de um conflito, que só chamou a minha atenção pelo inusitado.

Uma senhora estava parada, como quem aguardava alguma pessoa. Segurava pela coleira um enorme cão Rottweiler.

Passava por ela um jovem, desses malhados em academia, com seu Chihuahua também encoleirado, quando o pequeno cão decidiu desafiar o grandão com seu latido fino. Para desespero de todos que estavam assistindo a cena, seu oponente aceitou a briga.

Não bastasse a dificuldade em controlar a ira dos cães, iniciou-se também um bate-boca entre os donos. Um imputava sobre o outro responsabilidades.

O equilíbrio de forças entre si foi suficiente para esvaziar aquele desentendimento, contudo vislumbrei ali uma chance de transformá-lo em algo relevante e, assim, ter o conteúdo que buscava.

Apressei-me em iniciar o percurso rotineiro de quatro voltas no parque, que me custa cerca de quinze minutos cada uma e, no trajeto, fui alçando meu plano de vôo para o texto.

Desentendimentos ocorrem diariamente. Por um motivo ou outro, o convívio social acaba gerando desagrado. São tão banais e rotineiros que geralmente não merecem destaques. Com algumas exceções, como aconteceu entre Hugo Chávez, presidente venezuelano, e o rei Juan Carlos 1º da Espanha, numa reunião de cúpula.

Nesse caso que presenciei, a desavença apenas mereceria uma divulgação e ganharia emoção se eu incluísse mais elementos. Por exemplo, as chegadas do marido da senhora, da namorada do rapaz e de alguns transeuntes, com ânimos acirrados, tomando partido.

Para valorizar ainda mais a crônica e favorecer na sua repercussão, incluiria também a chegada de pessoas ligadas a entidades de proteção de animais e até uma viatura da PM.

Claro que tinha a intenção de avisar meus leitores de que apenas o início era real e que o tempero apimentado a mais era fictício.


Pronto, estava com o meu problema solucionado. Não via a hora de finalizar meu exercício e voltar pra casa. Os estímulos visuais da praça, sobretudo no que se referem as elegantes mulheres que por lá transitam com suas roupas da moda fitness, que causam verdadeiro frisson, poderiam me conduzir involuntariamente para outro tema menos indicado ao meu público leitor.

Chegando a minha casa, enquanto aguardava a temperatura do corpo normalizar para tomar o banho e depois sentar-me a frente do computador, decidi dar uma olhada na revista Veja SP, da qual sou anunciante.

Para minha surpresa, e por que não dizer decepção, descobri que o formato que eu tinha brilhantemente pensado, antes de mim, Ivan Ângelo já havia utilizado em sua crônica “Ânimos Exaltados”. (Veja SP 3/3/2010).

2 comentários:

  1. "Os estímulos visuais da praça, sobretudo no que se referem as elegantes mulheres que por lá transitam com suas roupas da moda fitness, que causam verdadeiro frisson, poderiam me conduzir involuntariamente para outro tema menos indicado ao meu público leitor".

    rs rs rs

    Eu li isso, hein...

    Beijo!

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  2. Novinha,

    Minha mulher tb leu... e torceu o nariz. Mas fui honesto, esse tipo de problema pode ocorrer. Com um detalhe: desde que seja involuntário" rs

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