quarta-feira, 31 de julho de 2019

Do cochilo ao vacilo


Do cochilo ao vacilo

Dois acontecimentos relevantes foram temas de debates nos grupos policiais na última semana: os policiais que foram surpreendidos dormindo em serviço e as manifestações em frente ao Palácio dos Bandeirantes, reivindicando aumento salarial para os policiais militares. Nos dois casos assistimos a ações patéticas de políticos que insistem nas velhas práticas que, de tanta falta de criatividade, entalam em nossas gargantas um grito de desagravo e nos obrigam a manifestação.

Quase passaram despercebidos os protestos dos políticos em defesa dos policiais que dormiram no serviço durante escala na DEJEM - serviço extra, criado pelo governo para complementação do soldo do policial e evitar a pressão por aumento salarial. Gravaram-se vídeos acusando a Corregedoria de insensibilidade com a necessidade do policial; entretanto, desde a criação da Polícia Militar, em 1831, que dormir no trabalho representa uma conduta intolerável, quase uma traição ao nosso idealismo. E isso é simples de explicar, visto que a  natureza da função de guardiões da sociedade impõe um caráter quase impossível de alcançar: a infalibilidade. Assim, quando o policial militar desguarnece intencionalmente a vigilância, expõe os cidadãos a perigo, com a agravante de aumentar-lhe a vulnerabilidade, já que supõe encontrar-se resguardado. 

Em qualquer empresa privada a prática também sofreria punição. Mas os políticos, com o objetivo de fazer média com a tropa, preferiu a defesa do indefensável e soou ridícula a manifestação.

Quem realmente tem interesse em defender a causa dos policiais, em vez desses alardes, deveria demonstrar às autoridades o esgotamento físico da tropa em suas extenuantes cargas de trabalho, embasando com laudos médicos e outras perícias que se fizerem necessárias, para sensibilizar a urgência do aumento salarial, e não de trabalho.

Pior que isso é saber que  policiais brincam com a própria sorte ao expor suas vidas dormindo fardado dentro do carro e em local público, numa época em que, cada vez mais, a vida dele vale menos.

Do outro caso resta ainda mais tristeza, ao concluir que - embora tenhamos o maior número de representantes de todos os tempos - de tão mal preparados, nos fazem temer que, buscando a vitória, façam gol contra, conforme registrei aqui no blog na Carta Aberta ao Governador João Dória.

Da manifestação propriamente, embora os parlamentares presentes representassem milhões de votos, não convenceram mais que cinquenta pessoas para assoprar apitos e interromper o trânsito, prática inclusive que, por ofício, tantas vezes coibiram, invocando o direito de ir e vir das pessoas.

As cenas exibidas ao vivo nas redes sociais mostraram um show de horrores. Uma parlamentar reclamando que não tinha onde “fazer xixi”, convocações aos berros para que outras pessoas saíssem de suas casas e viessem compor o grupo, troca de elogios entre recentes desafetos e outras bizarrices que certamente nunca contarão com o meu apoio. Aliás, pelo jeito, nem meu nem da maioria dos policiais militares, pois é isso que temos visto ao longo dos anos; manifestações esvaziadas.

A frequentar gabinetes políticos e reuniões infrutíferas que apenas geram fotos nas redes sociais, prefiro ações mais efetivas, como as que praticava enquanto se exibiam no Palácio dos Bandeirantes. Entregava na cidade de Areias, SP, doações de fraldas descartáveis que recolhi numa campanha feita na Capital para o Lar do IdosoEbenézer.

Pode parecer autopromocional, mas faço menção apenas para pontuar a diferença entre a fantasia e o concreto. Tanto não é que não explorei esse lado filantrópico que sempre realizei com minha família na minha campanha para deputado federal. Embora pudesse, pois é um trabalho social que iniciou com meu pai, em 1960, quando, junto com seu melhor amigo, comprou e doou um terreno com a finalidade de construir um asilo no início dos anos 80, trabalhou efetivamente na construção e dedicou-se nele por anos e está em pleno funcionamento até hoje, acolhendo cerca de quarenta e cinco idosos.

Foi com discrição e dedicação que construí minha carreira policial, atuando administrativamente nos grandes comandos e operacionalmente em diversos batalhões. Recentemente, tive o privilégio de ser convidado para desfilar no dia 9 de Julho como veterano de ROTA.

Após a aposentadoria, não satisfeito apenas em conhecer a intimidade da PM paulista, percorri todo o país em visita às policias militares, cuja pesquisa gerou o livro Papa Mike, que publiquei em 2016.

Considerando que hoje produzem e ganham créditos com fotos sem ações efetivas, faço esse relato para que compreendam minha indignação quando vejo pessoas se intitulando nossos representantes sem sequer conhecer a nossa PM. Se apressam em ser candidatos, sem o preparo devido e, de tanto venderem ilusão ao povo, acabam se elegendo para fazer esse papelão. Não será surpresa se no futuro tivermos um aluno soldado como candidato a um cargo eletivo alardeando que nos representará.



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