Do
cochilo ao vacilo
Dois acontecimentos
relevantes foram temas de debates nos grupos policiais na última semana: os
policiais que foram surpreendidos dormindo em serviço e as manifestações em
frente ao Palácio dos Bandeirantes, reivindicando aumento salarial para os
policiais militares. Nos dois casos assistimos a ações patéticas de políticos
que insistem nas velhas práticas que, de tanta falta de criatividade, entalam
em nossas gargantas um grito de desagravo e nos obrigam a manifestação.
Quase passaram
despercebidos os protestos dos políticos em defesa dos policiais que dormiram
no serviço durante escala na DEJEM - serviço extra, criado pelo governo para
complementação do soldo do policial e evitar a pressão por aumento salarial.
Gravaram-se vídeos acusando a Corregedoria de insensibilidade com a necessidade
do policial; entretanto, desde a criação da Polícia Militar, em 1831, que
dormir no trabalho representa uma conduta intolerável, quase uma traição ao
nosso idealismo. E isso é simples de explicar, visto que a natureza da função
de guardiões da sociedade impõe um caráter quase impossível de alcançar: a
infalibilidade. Assim, quando o policial militar desguarnece intencionalmente a
vigilância, expõe os cidadãos a perigo, com a agravante de aumentar-lhe a
vulnerabilidade, já que supõe encontrar-se resguardado.
Em qualquer empresa privada
a prática também sofreria punição. Mas os políticos, com o objetivo de fazer
média com a tropa, preferiu a defesa do indefensável e soou ridícula a
manifestação.
Quem realmente tem
interesse em defender a causa dos policiais, em vez desses alardes,
deveria demonstrar às autoridades o esgotamento físico da tropa em suas
extenuantes cargas de trabalho, embasando com laudos médicos e outras perícias
que se fizerem necessárias, para sensibilizar a urgência do aumento salarial, e
não de trabalho.
Pior que isso é saber que
policiais brincam com a própria sorte ao expor suas vidas dormindo
fardado dentro do carro e em local público, numa época em que, cada vez mais, a
vida dele vale menos.
Do outro caso resta ainda
mais tristeza, ao concluir que - embora tenhamos o maior número de
representantes de todos os tempos - de tão mal preparados, nos fazem temer que,
buscando a vitória, façam gol contra, conforme registrei aqui no blog na Carta Aberta ao Governador João Dória.
Da manifestação
propriamente, embora os parlamentares presentes representassem milhões de
votos, não convenceram mais que cinquenta pessoas para assoprar apitos e
interromper o trânsito, prática inclusive que, por ofício, tantas vezes
coibiram, invocando o direito de ir e vir das pessoas.
As cenas exibidas ao vivo
nas redes sociais mostraram um show de horrores. Uma parlamentar reclamando que
não tinha onde “fazer xixi”, convocações aos berros para que outras pessoas
saíssem de suas casas e viessem compor o grupo, troca de elogios entre recentes
desafetos e outras bizarrices que certamente nunca contarão com o meu apoio.
Aliás, pelo jeito, nem meu nem da maioria dos policiais militares, pois é isso
que temos visto ao longo dos anos; manifestações esvaziadas.
A frequentar gabinetes
políticos e reuniões infrutíferas que apenas geram fotos nas redes sociais,
prefiro ações mais efetivas, como as que praticava enquanto se exibiam no
Palácio dos Bandeirantes. Entregava na cidade de Areias, SP, doações de fraldas
descartáveis que recolhi numa campanha feita na Capital para o Lar do IdosoEbenézer.
Pode parecer
autopromocional, mas faço menção apenas para pontuar a diferença entre a
fantasia e o concreto. Tanto não é que não explorei esse lado filantrópico que
sempre realizei com minha família na minha campanha para deputado federal.
Embora pudesse, pois é um trabalho social que iniciou com meu pai, em 1960,
quando, junto com seu melhor amigo, comprou e doou um terreno com a finalidade de
construir um asilo no início dos anos 80, trabalhou efetivamente na construção e dedicou-se nele por anos e está em pleno funcionamento até
hoje, acolhendo cerca de quarenta e cinco idosos.
Foi com discrição e
dedicação que construí minha carreira policial, atuando administrativamente nos
grandes comandos e operacionalmente em diversos batalhões. Recentemente, tive o
privilégio de ser convidado para desfilar no dia 9 de Julho como veterano de ROTA.
Após a aposentadoria, não
satisfeito apenas em conhecer a intimidade da PM paulista, percorri todo o país
em visita às policias militares, cuja pesquisa gerou o livro Papa Mike, que
publiquei em 2016.
Considerando que hoje
produzem e ganham créditos com fotos sem ações efetivas, faço esse relato para
que compreendam minha indignação quando vejo pessoas se intitulando nossos
representantes sem sequer conhecer a nossa PM. Se apressam em ser candidatos,
sem o preparo devido e, de tanto venderem ilusão ao povo, acabam se elegendo
para fazer esse papelão. Não será surpresa se no futuro tivermos um aluno
soldado como candidato a um cargo eletivo alardeando que nos representará.
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