Tipos de silêncio
Há uma onda de exaltação ao silêncio. Textos e vídeos têm sido divulgados para valorizar e enaltecer essa necessidade. Visceral e incisivo, com reações automáticas, confesso que reconheço virtudes apenas em um tipo de silêncio: inteligente.
Entre responder um insulto de alguém que fala reagindo sem pensar, calar-se é uma boa decisão. Isso pode ocorrer no trânsito, numa atividade esportiva ou numa discussão. Uma resposta nessas horas pode implicar dano infinitamente superior ao provocado pela ausência da réplica.
Contudo não consigo digerir outras situações. As opções para esconder omissão, covardia e desprezo. Não me é compreensível que alguém se omita diante de um compromisso social e, ao ser indagado, não responda, que deixe quem o trate com distinção aguardando uma decisão e este, além de não agir, se mantém calado.
Esse tipo de silêncio tem sido banalizado nas redes sociais, aquele envio de mensagem que termina com um ponto de interrogação. A pessoa visualiza, mas não responde. Muitos ainda não se deram conta de que as redes sociais tornaram-se um dos poucos momentos de atenção de que os seus semelhantes dispõem, e por trás das máquinas existem seres humanos em busca de um aceno que dê sentido as suas vidas dilaceradas por um mundo às avessas e também almas que querem anunciar um novo dia, compartilhar bonanças.
Em alguns casos, que me incomodaram muito, fui averiguar a fundo o motivo do desprezo e, um aqui outro ali, descobri que a pessoa não estava num bom momento ou visualizou numa hora em que não poderia responder e acabou esquecendo. Na maioria das vezes, o silêncio facilitou a vida de covardes que não conseguem argumentar sua posição contrária a que foi questionada. O silêncio funcionou como escudo.
Errado ou não, se alguém assim se sente protegido, nesse silêncio ficam as nódoas de um fruto fadado ao apodrecimento, e as marcas do esmaecem na mesma proporção que a ausência de diálogo permite a construção de um caráter com base em ressentimentos
Todavia o que percebo é que se institucionalizou o silêncio como “preguiça” de explicar o porquê de não querer ir a uma festa, viagem, churrasco, reuniões etc. Há muita gente se “queimando” socialmente e em breve vai lamentar a ausência de convites. A vida é assim, para que insistir com indisponíveis se já se sabe que não pode contar com eles?
Por essas e outras é que se necessita atentar-se para desgastes decorrentes das amizades virtuais. Há muita gente disfarçando desprezo virtual nas ruas com amarelos acenos, assim como outras apressando o passo para recusar a mão estendida. Multiplicam-se as faltas de expressão e gestos de seguir em frente, deixando as marcas da incompreensão.
Muitos não se deram conta de que vivem um novo tempo, e neste está inserido a realidade virtual, movida por sangue, suor e lágrimas. Lá está reprodução de nossa relação com o mundo. E um mundo cada vez menos tolerante com o silêncio.
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