sábado, 26 de novembro de 2016

Vernissage+Sarau: Dois Policiais



Aconteceu no último dia 21/11 a vernissage/sarau com o artista plástico Cabo Clayton Silva e o escritor Sargento Lago, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.


Lago fez a leitura de um texto do livro Papa Mike - A realidade do Policial Militar e depois interpretou uma de suas canções, voz/violão,  Somos a Polícia Militar. 






terça-feira, 22 de novembro de 2016

O Armagedom carioca prenunciado


Cansados das críticas e falta de apoio, policiais desabafam nas redes sociais contra tudo e todos que se voltam contra a profissão


O Armagedom carioca prenunciado


A crise política e econômica do estado do Rio de Janeiro, que afetou a segurança e teve desdobramentos drásticos neste final de semana, pode desencadear uma revolta maiúscula, antecipando o Armagedom carioca prenunciado.

As prisões de dois ex-governadores acusados de corrupção e, por consequência, responsabilizados pela falência do estado, agravados pelas ações ostensivas dos marginais, com arrastões e assassinatos de policiais, mais a queda do helicóptero com quatro tripulantes da corporação, transformou a “cidade maravilhosa” em local inóspito.

Minha preocupação está no papel que a polícia vai desempenhar nesse apocalipse: exercendo a capacidade de guerrear, com homens capacitados que sempre teve, ou agindo com a emoção dos salários defasados, a pressão de infiltrados e, ora vejam, de alguns colegas desavisados que estão engrossando sem saber o coro do “quanto pior, melhor”?

Pela internet, companheiros policiais de todo Brasil estão enviando mensagens de incentivo aos irmãos cariocas para que cobrem essa “bronca”. Alguns até se prontificam de lugares longínquos para se alistarem nessa batalha, como se isso fosse possível, exceto se convocado pela Força Nacional.

Esse clamor acrescenta uma carga ainda maior de adrenalina aos irmãos cariocas que, além de toda a pressão que vivem, não sentem a própria segurança para transitar pelas ruas e, por isso, alertam um aos outros: “evitem sair de casa desnecessariamente”.

Outro dia dois policiais foram aplaudidos por terem abandonado o pelotão em que estavam devidamente escalados, na manifestação dos policiais, defronte a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de janeiro – ALERJ. As manifestações de admiração vieram de seus colegas que lá protestavam e depois de companheiros de todo o país pela internet.

Vamos ser responsáveis. Quando eu falei em “Policiais invertendo valores”, no texto anterior, ganhei uma vaia nacional. A primeira veio do meu próprio irmão, policial da ativa. “Por você não estar mais no ‘Olho do furacão’, está fazendo essa avaliação, mas para quem está na guerra diária a visão é diferente”.

Exatamente, por estar nessa condição, tenho a obrigação de ser ponderado, mais que isso, devo alertar os meus companheiros, a começar pelo meu irmão, de que qualquer atitude tomada sob forte emoção é muito perigosa. Quem vai sustentar a família dos dois policias do choque que abandonaram o posto e, muito provavelmente, serão demitidos? E os policiais que poderão ir para a cadeia, caso cometam excessos, motivados por essa massa inflamada? Quem irá aparecer para amparar os seus familiares? Raciocinem.

O que temos a fazer nessa hora é manter os ânimos serenos e contribuir com boas ideias, caso tenhamos, e dar apoio moral aos nossos companheiros distantes para que consigam corrigir esse quadro dramático por que passam.

Estive recentemente no Rio, por duas vezes. Meu amigo, a coisa está pior do que se imagina. Nossos companheiros policiais cariocas são verdadeiros heróis.

Vamos guardar nossa valentia para efetivamente ser uma força a mais para nossos irmãos, enviando mensagens para formadores de opinião e autoridades que possam ajudá-los. Essa guerra de palavras só aumenta o estado de insegurança. Utilizemos nossas armas intelectuais. A distância, serão mais valiosas.


sábado, 19 de novembro de 2016

Policiais invertendo valores



Eu participo de muitos grupos de policiais. Neles, além das exageradas e - por que não dizer desnecessárias cenas de violência que os participantes trocam entre si, tenho percebido policiais invertendo valores.

Quando digo do excesso das imagens, refiro-me à dose suplementar de violência que eles já vivem no seu trabalho. Desculpe a sinceridade, logo mais o corpo vai reclamar disso e poderá ser muito desastroso para a vida de cada um. Basta uma visita na psiquiatria do hospital da Polícia Militar para constatar o que digo.

Contudo, o que tem chamado a minha atenção, e  nesta semana se potencializou, é a quantidade de policiais invertendo valores em comentários sobre situações de que tomam conhecimento.

No Rio de Janeiro, durante a justa manifestação dos policiais contra o pacote do governo que quer diminuir o salário dos servidores, um grupo de manifestantes expulsou do local o jornalista Caco Barcellos, com xingamentos e agressões físicas.  Na reprodução das imagens nos grupos, li impropérios e escárnios ao profissional, que segundo seus opositores “defende bandido”.

Primeiro, achei uma covardia extrema agredir um homem de 66 anos em pleno exercício de sua profissão. Segundo, a profissão dele é esta. Se concordamos ou não, é outra questão. Quantas pessoas criticam as abordagens policiais erroneamente?

Na outra situação que, novamente, vi policiais invertendo valores, foi quando exibiram uma imagem do programa Encontro, apresentado pela Fátima Bernardes. Numa pesquisa entre os presentes, queriam saber qual seria a prioridade de atendimento: Se ao policial levemente ferido ou ao traficante gravemente ferido. Claro que, usando do bom senso, a maioria respondeu que seria o traficante. Foi o suficiente para dizer que a apresentadora e a emissora dela defendem bandidos, etc.

Eu até admito a possibilidade da intenção de má fé da pergunta, mas a questão é muito clara. Se eu como policial não souber qual a prioridade de atendimento numa catástrofe, poderei salvar quem já estava salvo e perder vidas que daria tempo de salvar, caso tivesse feito a escolha certa ao priorizar o atendimento.

Vivemos dias de más notícias diariamente. O brasileiro está esgotado com tanta roubalheira e descaso dos governantes; mas ,se permitirmos que esse caos influencie nosso bom senso, veremos com mais frequência policiais invertendo valores.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Vernissage / Sarau: Dois Policiais

Estão todos convidados para a Vernissage/Sarau: Dois Policiais, com Cabo Clayton Silva e Sargento Lago


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

[Resenha] Papa Mike - A realidade do Policial Militar

‘Papa Mike’ destrincha a realidade da PM no Brasil


O Vai Lendo conversou com o Sargento Lago, policial aposentado autor de ‘Papa Mike: a realidade do policial militar’, que falou sobre a experiência de viajar pelos quartéis do país para observar a rotina dos policiais, desconhecida pela sociedade

Juliana d'Arêde


‘Papa Mike’ destrincha a realidade da PM no Brasil

Um profissional questionado. Que arrisca a própria vida para salvar outras, mas também as tira. Uma eterna luta do bem contra o mal, cujos detalhes só podem ser registrados e apresentados por alguém que efetivamente viveu nesse conflito interno e externo diariamente. Portanto, nada mais justo do que um policial militar ser o autor da obra que nos leva a refletir e a debater a questão da segurança pública e o dia a dia de uma classe que divide a opinião da sociedade. E é sob o ponto de vista do jornalista, escritor, compositor, cantor e profissional da reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Sargento Lago, que chega aos leitores Papa Mike: a realidade do policial militar.
Disponibilizada em formato físico e digital, a obra faz uma imersão na rotina da PM (Polícia Militar e Papa Mike, no alfabeto policial e nas comunicações em rádio) e traz depoimentos de policiais de todo o país, reunidos a partir de um projeto pensado pelo autor com o objetivo de mostrar a realidade dos quartéis, a partir de vários contextos. Em entrevista ao Vai Lendo, Lago exaltou a importância de mostrar o lado humano dos policiais, uma vez que, segundo ele, essa é a parte geralmente esquecida por todos os pré-julgamentos. E isso também, de acordo com ele, foi o mais difícil, já que Lago também tinha que reviver todas as suas experiências para desenvolver a obra, inclusive, as mais dolorosas.
Durante toda a minha carreira, sempre tive um foco no lado humano do policial”, afirmou. “Via em meus companheiros as mesmas necessidades que sentia e ninguém intercedendo por nós. Por isso, desenvolvi uma carreira paralela com a música, cantando a rotina policial, tentando com isso valorizar nossos companheiros e, ao mesmo tempo, mostrar para a sociedade esse humano que vestia a farda. Mas a maior dificuldade no livro foi exatamente escrever as minhas memórias. Toda vez que tinha que abordar minhas experiências eu travava. Era como se eu sentisse aquela dor novamente. Então, parava e retomava em outro momento em que estivesse mais forte emocionalmente para visitar a própria memória”.

Como policial aposentado e jornalista, muitas vezes, Lago exerceu duas funções que, hoje em dia, são regularmente vistas com receio pela população. No entanto, ele afirmou que não houve complicações para separar os papéis, visto que ele tinha plena noção de seu dever em ambos os casos. Tanto pela farda que já vestiu quanto pela informação que ele desejava passar para a sociedade no livro. E também não se omitiu ao apontar os erros e imperfeições. A transparência, ele ressaltou, foi fundamental durante o processo para que ele conseguisse obter os depoimentos de seus colegas.
“Acho tranquilo separar os dois papéis”, disse. “Como policial sabia do meu dever. Fiz de tudo para acertar, sempre. E, quando errei, foi tentando acertar. Não foi um erro deliberado. E como jornalista exerço a minha crítica. Sempre fui muito crítico. No livro não poupo críticas à policia porque sempre critiquei. Por conhecer na intimidade, sei das suas limitações e critico para que haja uma melhora, pois todos ganharão com isso: sociedade e policiais. Foi uma relação transparente (com os colegas entrevistados). Me apresentei e disse o que pretendia fazer. Em razão de também ser um policial conquistei a confiança deles, o que facilitou obter muitas confidências e desabafos. Por outro lado, sempre lembrava que era também um jornalista e que me interessava saber exatamente sobre os assuntos que sei serem tabus, ou que os comentários públicos são evitados, em razão do rígido regulamento disciplinar que rege as corporações. Alguns concordaram, desde que fosse preservada a sua identidade, e outros, em tom de desabafo, não fizeram questão do anonimato”.
Após trabalhar em cima do projeto por dois anos – com tantas informações valiosas em vídeos que, logo, se fez necessário passá-las para as páginas -, Lago nos apresenta uma obra que aborda a desigualdade social-  que, por mais que as pessoas esqueçam, afeta e muito boa parte dos policiais -, as batalhas enfrentadas por eles dentro de seus medos, insegurança, receios e dificuldades, além de enfrentarem diariamente os julgamentos sociais. Contudo, o autor também não deixa de apontar as melhorias a serem feitas para ajudar não apenas os profissionais a terem mais dignidade em suas funções, mas também a sociedade como um todo. Assim, ele indica ainda as particulares das PM em todo o país, com peculiaridades que geralmente passam despercebidas aos nossos olhos. Para ele, isso acontece pelo fato de todos enfrentarem problemas semelhantes em suas rotinas e quartéis, o que consequentemente limita a percepção do “material humano”.
“No sertão nordestino, você encontra um policial mais rude”, explicou. “Os treinamentos que ele recebe são muito pesados, chega a parecer castigo físico, mas é adequado para a cultura da qual ele está inserido. E, quando ele interage com a sociedade, vai deparar-se com pessoas que lhe darão o mesmo tratamento. Cheguei a ouvir de um policial de Alagoas: ‘em São Paulo, vocês são muito educadinhos (disse porque acompanhava um programa de TV que mostrava a rotina do policiamento em SP). Se fizerem isso aqui, o ladrão bate na cara de vocês’. No Sul, numa manifestação de ‘sem terras’, ouvi um policial dizer para um manifestante: ‘acredite no que digo, sou um gaúcho como você’. E o manifestante aceitou a condição que ele sugeriu”.
Mesmo tocando num assunto tão delicado e correndo o risco de ir contra a opinião pública, Lago garantiu que o livro supre a curiosidade e atende a qualquer público, seja o cidadão comum ou o policial. Contudo, o escritor reiterou que não espera que esses questionamentos sobre a policia sejam o principal atrativo para a leitura, visto que a obra é bem mais profunda e abrangente, e muito menos se mostrou preocupado com qualquer tipo de censura ou obstáculo.
“A conduta da polícia sempre foi questionada”, apontou. “Ainda que, neste momento, os questionamentos sejam mais frequentes. Mas também não me agrada imaginar que isso possa ser um atrativo para a leitura do livro. Entendo que, em razão das ações da polícia (boas ou más) interferirem diretamente no cotidiano das pessoas, conhecer o conteúdo do livro vai contribuir para que o leitor saiba o que de fato ocorre na rotina desses profissionais para daí fazer seus questionamentos com mais propriedade. O livro atende aos policiais e ao público em geral. Trato de questões intra muros, como promoções, regulamento disciplinar, assédio moral, desvio de conduta e também questões sobre homossexualidade, fetiches com a farda, violência policial, entre outros assuntos, apresentando ao policial questões que ele tem que começar a debater para ver os seus direitos respeitados. Aos cidadãos, apresento uma polícia na intimidade, o que vai lhe possibilitar entender um pouco do sentimento daquele policial que ele vê na padaria tomando um cafezinho ou o que está incursionando uma comunidade com o fuzil na mão”.
Sobre o momento atual pelo qual o país e sua classe passam, Lago foi bastante objetivo ao declarar que a solução precisa ser pensada para o bem de todos e que a maior conquista de um policial atualmente é a sua própria sobrevivência.
“Temos que buscar uma solução para a sociedade”, indicou. “Vivemos numa época de crise moral. As notícias nos dão conta de um país apodrecido pela corrupção. Todos estamos sofrendo. O trabalho da polícia nunca vai acabar. Compete-lhe a dura missão de entrar numa guerra diariamente em que não haverá vencedores nem vencidos. Parece-me que o maior desafio do policial, neste momento, é manter-se vivo”.
Para saber mais sobre o livro e adquirir um exemplar acesse: www.sargentolago.com.br

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Lições da manifestação dos policiais no RJ


Lições da manifestação dos policiais no RJ

O Rio de Janeiro está no caos e não é de hoje. Como lá eles têm facilidade para transformar pequenos eventos em grandes realizações, com holofotes e pirotecnias, faz- a quem está de fora - acreditar que o drama e a comédia têm relacionamento fixo, e tudo vai bem. Mesmo havendo um deslize aqui e outro ali, de parte a parte, não são suficientes para atingir a relação de forma substancial, a ponto de levar a uma ruptura que chegue ao divórcio.

Quando a observação é mais apurada e alcança o que a fantasia criada procura esconder, chega-se à conclusão de que a única instituição que manteve e mantém o estado equilibrado neste slackline mortal foram e são as instituições policiais em que pese todo escárnio que sofrem ao longo dos anos.

O policial é resiliente, todavia, quando mexem no seu salário e consequentemente afetam a sua família, o caldo entorna. Nenhum regulamento disciplinar castrador segurará uma turba enfurecida. Não bastasse isso, como mostra da nova mentalidade que já está alcançando as polícias, graças a Deus, o comandante geral da PM carioca autorizou seus subordinados a se manifestarem, como tem direito todo cidadão.

Na última terça-feira (8/11), participaram de uma manifestação na frente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, em que se reivindicava a não aprovação de uma proposta do governo de reduzir salários em até 30%, entre outros, conhecido como “Pacote de maldades”. Num dado momento, enfurecidos pela recusa de serem recebidos pelos parlamentares, decidiram invadir o Palácio Tiradentes e, além de vandalizar gabinetes de deputados, subiram até na mesa da presidência e, assim, cometeram atos que, por ofício, sempre combateram.

Apesar da imagem de força que ostenta, o policial é vulnerável. Tem nome, sobrenome, endereço, farda, escala de serviço, rotina e regulamento disciplinar rígido. Bandido não. Tem de todo jeito. De terno, batina, toga, com imunidade, influência, anônimo e famoso, com e sem poder, nos palácios e nos barracos... São muitos e estão por todos os lados. Por isso nosso poder não está na farda e nem sequer na arma que portamos, muito menos na truculência e nas ameaças de que “acabou o amor”, e “isso aqui vai virar um inferno”. Nosso poder está na ação inteligente, aquela que não aceita manobras nem infiltrados, não aplaude falsos representantes, construídos e ou mantidos pelos opressores, que fazem o “alho e óleo” para ser visto como quem luta pela classe, mas nos bastidores reza no mesmo livro dos cardeais.

Enquanto isso, ficamos socando a ponta da faca e reclamando que está doendo, acreditando que conseguiremos dias melhores porque a luta e visível e as dores, sentidas.

Para sermos respeitados, temos que dar o respeito; mais que isso, mostrar de forma inteligente que estamos recebendo menos que a nossa importância exige. Fazer diferente disso é nivelar os atos aos que protestam queimando pneus e ateando fogo em ônibus e vê, no dia seguinte, a situação inalterada.

Temos que fazer a sociedade lutar por nossos direitos. Apesar dela não nos respeitar nem reconhecer publicamente nosso valor, sabe que dependem do nosso trabalho senão sentirá o impacto, as consequências.

O jornalista Pedro Bial foi um dos que correu em socorro da polícia quando, em 2006, o crime organizado iniciou uma série de atentado em São Paulo, causando pânico e temor na população, vitimando vários policiais. Na abertura do fantástico daquele domingo leu um editorial "Quando erram, nós não os perdoamos. Somos, frequentemente, implacáveis com eles. Até que, num fim de semana trágico, vislumbramos o que seria de nós sem a polícia. Aos mortos, e aos vivos, o Fantástico faz um tributo”.

Que temos força, idealismo, coragem e valentia, todos já sabem. Para sermos respeitados e termos uma profissão reconhecida e com tratamento digno, o país precisa também conhecer a nossa inteligência.



domingo, 13 de novembro de 2016

Por que não funciona o ombudsman da polícia?


Há 27 anos, o jornal Folha de São Paulo adotou pela primeira vez no Brasil a função de ombudsman. Ombudsman é uma palavra sueca, país onde a função foi criada, em 1809, que significa representante do cidadão. Na imprensa, o termo é utilizado para designar o representante dos leitores dentro de um jornal.

Inspirado na mesma função, porém com outro nome, foi instituído no país o Ouvidor da polícia, em 1995, iniciando pelo estado de São Paulo. A motivação foi o anteprojeto da constituição de 1988, que previa a criação de uma Defensoria do povo.

O povo, de fato, precisa de alguém com autoridade para opinar por aquilo que o afeta diretamente e não tem acesso às decisões. No caso dos jornais, para evitar as aberrações e distorções na informação; nas polícias, as ações que extrapolem o cumprimento da lei.

Em São Paulo, quem ocupa o cargo de ouvidor é o advogado Júlio Cesar Fernandes Neto, que construiu sua carreira como militante de movimentos sociais e que, em razão do seu perfil ativista, por vezes confunde o seu papel e exerce o de promotor, fazendo severas acusações precipitadas às ocorrências policiais que se destacam, sem, contudo, ter a mesma competência deste.

Se nos jornais o ombudsman é um jornalista, na ouvidoria, não. Segundo o próprio ouvidor paulista que ocupa o cargo, “Não pode ser policial nem nunca ter sido, justamente para acabar essa possibilidade de que haja investigações corporativistas”.


A que ponto chegamos! A autoridade policial, antes de qualquer ação, é posta em suspeição pelo ouvidor. Seria isso agir com ética e imparcialidade?

No último sábado (5/11), um policial militar em São Paulo, trabalhando na hora de folga como motorista UBER, reagiu ao roubo de que foi vítima e matou os três marginais.


Apressadamente, como tem feito na maioria das vezes, a partir de imagens de vídeo e fotografias, o ouvidor disse ao jornal Agora (7/11), emitindo sua opinião sobre o chute que o policial deu em um dos feridos ainda vivo, na sequência da sua reação: “Fica claro no vídeo que foi legítima defesa, mas tem um limite”. Se fosse policial e tivesse passado por situação semelhante, certamente teria tido mais cautela em seu comentário.

Apesar da cena esteticamente perfeita, aos olhos de outro policial, onde uma única pessoa, subjugada sob mira de revólveres, consegue reverter o quadro e neutralizar seus oponentes, para um crítico, que assiste a imagem em casa, tomando um suquinho de laranja, não estão contidas nas imagens a tensão e adrenalina que envolve a ação, em que a fração de segundo pode definir entre viver e morrer. Coisa que apenas outro policial poderá avaliar, pela experiência.

A jornalista Paula Cesarino Costa, ombudsman da Folha, escreveu em sua coluna no dia 16/10: “Temos de desenterrar e encontrar as evidências, sermos justos na apuração e fiéis à verdade que revelamos…”. No caso do nosso nobre ouvidor paulista, falta-lhe apuração, logo, fidelidade e – principalmente – justiça.

*Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago no Portal Stive, de Brasília/DF.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Associados para iludir


Os policiais militares de Sergipe estão na iminência de conquistar importantes benefícios. A despeito de não pertencer àquela valiosa instituição e, portanto, não ser beneficiário do bom senso que acode o mandatário daquele Estado, deixo-me dominar pelo entusiasmo, a ponto de reservar aos meus planos a dedicação de algumas linhas futuras nos meus despretensiosos textos e brevemente falarei dessas conquistas aqui.

Infelizmente, o tema de hoje é tão espinhoso quanto ácido e mexe com a tropa paulista sensivelmente, porque tripudia com seus sonhos, aproveita-se de sua principal vulnerabilidade – as finanças – e, em vez de alento, aumenta-lhe o desespero: o pagamento de ações judiciais.

De um tempo para cá, viralizou-se o movimento de associação repentina a uma determinada entidade de classe em razão de ação judicial “ganha”. O frenesi decorre de um revezamento perverso em que cada entidade divulga determinado benefício e, assim, provoca uma romaria para preencher a ficha de adesão. Esse comportamento no mínimo suspeito e merecedor de investigação tem inflado o quadro de associados das diversas associações ligadas à Classe policial militar e subtraído uma significativa fatia do já esfacelado soldo do explorado guardião do povo paulista.

Prejuízos à parte, as tenebrosas procissões dos amaldiçoados por um governo cruel, insensato e calculista também a este favorecem, posto que as entidades não precisam comprometer-se com uma agenda de reivindicações que possam reduzir o estado de penúria da classe policial. A inércia do governo e a complacência das associações de classe enlaçam as mãos num pacto silencioso e funesto, alimentado por discursos cínicos em que se adia a felicidade e antecipam-se os fardos, pois na agenda desses covardes todo dia é dia de eleição.

Já passou o tempo de nos rebelarmos contra a exploração, contra essas manobras oportunistas, contra a ineficácia e ausência de representatividade. Não sugiro a debandada dos associados, pois, apesar de ineficientes, pior será sem a existência das associações. Todavia devemos nos posicionar com firmeza de propósito e exigir que façam algo pela categoria. O recebimento do benefício na verdade é um direito de todos, independe das associações. Que tal uma ação coletiva para garanti-lo sem as patas profanas dessa casta interminável de urubus?

Enquanto isso, fica a lição aos policiais de todo o Brasil. Mantenham-se atentos. No átimo em que estamos preocupados no aperfeiçoamento do nosso trabalho, estão se qualificando cada dia mais em manobras para nos escravizar, moral e financeiramente.

*Texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago, no Portal Stive