quinta-feira, 14 de maio de 2009

Ser humano, que espetacular!

santiago1

Uma viagem a um lugar desconhecido tem seus atrativos. No meu caso, fui ao Chile. Além do fato de não conhecer a arquitetura, as paisagens, o clima, também tinha a curiosidade pela língua. Afinal, todos nós achamos que sabemos um pouco do espanhol, mas na prática temos a certeza de que apenas achamos que sabemos mesmo.

Na chegada, anda dentro do avião, já pude desfrutar da paisagem encantadora da Cordilheira dos Andes. Pena que ainda não era inverno, pois a neve teria sido uma atração a parte.

Foi tudo muito encantador. Santiago é uma cidade bonita e as pessoas são bem receptivas. A comida também é boa, quase sempre baseada em frutos do mar. Também estive em Valparaiso e Viña Del Mar, igualmente admiráveis.

Contudo, o que mais me chamou a atenção nessa viagem foram as pessoas. Logo na chegada, ao pegarmos um táxi para o deslocamento do aeroporto ao hotel, o motorista, um senhor magro, da pele morena e com marcas da idade, cabelos pretos e bem lisos, nariz pontiagudo, foi bem gentil ao perceber que éramos brasileiros. Fez questão de ir apresentando cada local durante o trajeto. Quando perguntávamos alguma coisa em que a resposta fosse “sim” ele dizia: “claro”. Eu achei muito engraçado porque, apesar de ser uma expressão usual e natural, a mim parecia algo como “claro idiota”.

No hotel fomos atendidos por um rapaz negro, muito gentil também, que se encarregou de cuidar das malas e dar várias dicas úteis. Mas, observando bem o seu estilo, concluí que não era chileno. Então fiquei pensando numa forma de perguntar de onde era, mas com a preocupação de não parecer preconceituoso. Nos dias seguintes, já com mais intimidade, descobri que se chamava Prince. Perguntei se era da capital ou do interior, pois foi a forma que achei para, de fato, saber de qual país era oriundo. Foi quando informou ser africano. Tinha vindo do Congo havia quatro anos, com a tia que se casou com um chileno.

Aproveitamos a segunda-feira para conhecer Valparaiso e Viña Del Mar. Ambas distantes da capital por cerca de 120 Km mais ou menos. Alugamos um carro para fazer esse trajeto.

Ao pagarmos a conta num restaurante de Valparaiso, acreditando que já estava incluído os 10% dos serviços, saíamos sem deixar a gorjeta quando nitidamente indignado o garçom bradou: “E a minha propina?” A imagem dele reclamando sua “caixinha” e o termo “propina” para se referir a gorjeta foram bem engraçados também.

Na saída de Viña Del Mar não achávamos a saída para a estrada. Solicitamos informação a um homem do carro ao lado que também estava parado no semáforo. Ele indicou o caminho. Como não atendemos o que disse por falta de interpretação, nos seguiu, mostrou novamente o caminho e segurou o trânsito para que fizéssemos uma conversão. À distância acenamos pra ele ao acertarmos o caminho e pelo retrovisor foi possível observar sua retribuição.

Fomos a vinícola Concha Y Toro. Quem vai ao Chile deve incluir no roteiro a visita a uma vinícola, vale a pena. Após avaliar a melhor forma de transporte concluímos que o táxi era o mais econômico. Aliás, o preço é bem justo.

Ítalo é o nome do motorista que veio nos atender. Bom papo, em poucos metros de trajeto começou falar sobre o seu país, mostrando-se bem interessado pelas questões políticas, de estratégia comercial e de segurança nacional.

Como o percurso era longo, aprendemos muito com ele. Quando ficávamos em dúvida sobre algo que falava, por achar que não tinha entendido, e repetíamos exatamente o que já havia dito ouvíamos a expressão que tanto me fez rir nessa viagem: “Claro”.

Gostamos tanto do Ítalo que ficou acertado que no dia seguinte seria ele que nos levaria ao aeroporto. Despediu-se da gente entregando um pedaço de papel com o número do seu celular: 9-3421644. “No tengo tarjeta”, justificou a falta de um cartão de visita.

Outro ponto turístico de Santiago é o Mercado Central onde tem vários restaurantes, quase todos tendo frutos do mar como base. Logo que chega começa o assédio. São pessoas que ficam convencendo os turistas de que o restaurante que trabalham é o melhor. Oferece como cortesia o famoso Pisco Sour, uma bebida parecida com a caipirinha brasileira, porém, feita com uva. A bebida é muito gostosa... Segundo nosso assessor Ítalo, tanto Chile quanto Peru brigam para assumir a paternidade da invenção.

Após definir que iríamos comer num determinado local, fomos servidos por Natália, que tinha por volta de 30 anos, pele branca, um pouco robusta e com um sorriso tão gentil durante todo o atendimento que foi impossível não observar a sua alegria em servir as pessoas. Por conta disso acabou merecendo uma “propina” diferenciada.

Todas essas pessoas que conhecemos no Chile trouxeram a reflexão de que o melhor patrimônio que um país pode ter é a sua gente. E isso nós percebemos... “Claro”.


Prince, do Congo
Prince, do Congo

Italo, o taxista
Italo, o taxista


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