segunda-feira, 26 de julho de 2021

Almoço de domingo


Domingo, pouco antes do almoço. Enquanto da sala sinto o aroma da refeição se pronunciar, sou surpreendido com a distração da mente.

Em tempos de redes sociais excedentes em futilidades, descanso o celular sobre uma pequena mesa ao meu lado e entrego-me as lembranças.

As muitas tarefas realizadas me acolhem em satisfação e emprestam a sensação de obrigações cumpridas.

Ainda tenho muito a cumprir, responderia caso fosse inquirido. Mas conforta saber que até aqui tudo foi muito bem. A evidência disso é exatamente estar motivado a escrever no momento em que antecede ao almoço de domingo, sempre promissor e que aguça a salivação espontânea, pouco deixando margem para se pensar em outro assunto. Deduzo que seja a manifestação da paz de espírito, anseio de tantas pessoas.

Para manter-me grato ao criador por essa conquista exercito frequentemente a memória para não esquecer que essa era a minha busca, daí também não dou chances de abater-me com as tentativas que ainda não se realizaram, e isso renova meu ânimo. Nada foi fácil até aqui.

Quando jovem desejei o reconhecimento pela pessoa que me tornaria. Meu maior patrimônio seriam meus atos. Por isso justifico o motivo pelo qual não passei noites em trabalhos extras. E não faço aqui uma crítica a quem fez essa opção, apenas digo que não foi essa a minha.

Saber o que buscava contribuiu para que não precisasse esconder os momentos aparentes de decadência, por dois motivos: Eram aparentes, não me sentia naquela condição. E porque eu sabia que eram momentos. E momentos passam. Por isso transitei em paz e com dignidade do casebre ao condomínio de luxo, sabendo que ambos estavam sendo usufruídos com honestidade e que nenhum deles era a minha morada final.

Bom também saber que a maturidade trouxe o equilíbrio, embora a fotografia insista em me lembrar que aquela imagem do amigo mais velho no passado agora está em você. Graças a Deus por isso. Quantos companheiros que tive na jornada da vida que não conseguiram envelhecer? Aliás, erroneamente, alguns jovens depreciam o idoso quando deveriam simplesmente respeitar por terem conquistado algo que não sabem se terão, a longevidade.

Eu fico lembrando o quanto ficava refletindo sobre a vida e percebo que as minhas convicções do passado mudaram. Mas eu também mudei. E me sinto pleno. Apesar de menos potente. Menos ágil. Menos impulsivo. É aí que entendo a expressão: “Às vezes o menos é mais”.

Ficaria nessa divagação gostosa por muito mais tempo, mas agora já tem um almoço sobre a mesa. E este prazer é parte de uma história que vou começar viver agora.





PS. O texto não tem revisão

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