domingo, 3 de outubro de 2021
Do Vale do Jequitinhonha aos Sertões Baiano e Sergipano - Inclui Zona da...
segunda-feira, 26 de julho de 2021
Almoço de domingo
Domingo, pouco antes do almoço. Enquanto da sala sinto o aroma da refeição se pronunciar, sou surpreendido com a distração da mente.
Em tempos de redes sociais excedentes em futilidades, descanso o celular sobre uma pequena mesa ao meu lado e entrego-me as lembranças.
As muitas tarefas realizadas me acolhem em satisfação e emprestam a sensação de obrigações cumpridas.
Ainda tenho muito a cumprir, responderia caso fosse inquirido. Mas conforta saber que até aqui tudo foi muito bem. A evidência disso é exatamente estar motivado a escrever no momento em que antecede ao almoço de domingo, sempre promissor e que aguça a salivação espontânea, pouco deixando margem para se pensar em outro assunto. Deduzo que seja a manifestação da paz de espírito, anseio de tantas pessoas.
Para manter-me grato ao criador por essa conquista exercito frequentemente a memória para não esquecer que essa era a minha busca, daí também não dou chances de abater-me com as tentativas que ainda não se realizaram, e isso renova meu ânimo. Nada foi fácil até aqui.
Quando jovem desejei o reconhecimento pela pessoa que me tornaria. Meu maior patrimônio seriam meus atos. Por isso justifico o motivo pelo qual não passei noites em trabalhos extras. E não faço aqui uma crítica a quem fez essa opção, apenas digo que não foi essa a minha.
Saber o que buscava contribuiu para que não precisasse esconder os momentos aparentes de decadência, por dois motivos: Eram aparentes, não me sentia naquela condição. E porque eu sabia que eram momentos. E momentos passam. Por isso transitei em paz e com dignidade do casebre ao condomínio de luxo, sabendo que ambos estavam sendo usufruídos com honestidade e que nenhum deles era a minha morada final.
Bom também saber que a maturidade trouxe o equilíbrio, embora a fotografia insista em me lembrar que aquela imagem do amigo mais velho no passado agora está em você. Graças a Deus por isso. Quantos companheiros que tive na jornada da vida que não conseguiram envelhecer? Aliás, erroneamente, alguns jovens depreciam o idoso quando deveriam simplesmente respeitar por terem conquistado algo que não sabem se terão, a longevidade.
Eu fico lembrando o quanto ficava refletindo sobre a vida e percebo que as minhas convicções do passado mudaram. Mas eu também mudei. E me sinto pleno. Apesar de menos potente. Menos ágil. Menos impulsivo. É aí que entendo a expressão: “Às vezes o menos é mais”.
Ficaria nessa divagação gostosa por muito mais tempo, mas agora já tem um almoço sobre a mesa. E este prazer é parte de uma história que vou começar viver agora.
PS. O texto não tem revisão
terça-feira, 27 de abril de 2021
KPCT PSNT - 002 - PAPO RETO
domingo, 4 de abril de 2021
HERÓI SEM HONRA
sábado, 2 de janeiro de 2021
A brisa e o trombone
A brisa e o trombone
O ano era 1993, acredito. Como muitos, não tenho memória confiável.
No pátio do quartel da Polícia Militar, no Rio Pequeno, a tropa perfilada cantava o Hino Nacional – numa cerimônia rotineira – quando a brisa trouxe a garoa como companheira.
Eu estava à frente de um dos pelotões e tinha visão privilegiada da banda de música.
Chamou-me a atenção que o trombone do sargento Moni aos poucos ficava coberto por gotículas, que lhe emprestava uma visão reluzente. Ele sequer notou que minha visão ficou perdida por algum tempo naquela cena. Vibrantemente assoprava seu instrumento até que o ato solene findou e todos fomos dispensados.
A banda de música, embora compartilhasse do mesmo espaço físico no quartel e participasse conosco das cerimônias, tinha rotina diferente e comando independente. Isso não impedia que travássemos boa amizade, pois sempre nos encontrávamos no refeitório e, às vezes, no futebol, quando os convidávamos para ter quórum nas peladas.
O sargento Moni, do trombone reluzente, era uma das pessoas que sempre achava uma oportunidade para uma conversa e o mantinha em boa memória quando, no curso natural da vida, nos afastamos, inicialmente para servir em quartéis distintos e depois pela aposentadoria.
Em 2011 eu havia acabado de retornar a São Paulo e, vindo da jornada feita pelo Brasil pesquisando segurança pública, ainda estava me recompondo da longa viagem quando recebi sua ligação solicitando apoio para produzir um vídeo com mensagem de Natal – numa homenagem do Sítio Agar, entidade que acolhe crianças carentes com Aids, para a Guarda Municipal de Barueri – onde Moni era o maestro da banda.
Aceitei de imediato, por ser ele o intermediador do convite e, principalmente, pela causa.
Nos intervalos e após as gravações dedicávamos um bom tempo relembrando as coisas do período que estivemos juntos no quartel.
Confidenciou-me que estava muito feliz com o trabalho que realizava. Com a aposentadoria, em razão da sua qualidade musical, havia sido convidado para ser o comandante da banda da guarda daquela cidade.
O vídeo ficou bem emocionante e todos ficamos satisfeitos. Depois, mais uma vez nos afastamos, daqueles afastamentos naturais da vida. Chegamos trocar algumas mensagens, mas foi rareando até se esgotar. Permaneceu o carinho e o respeito pelo grande companheiro que eternizou um sentimento e uma imagem.
Ontem, como uma brisa, foi para os braços do Pai oferecer sua canção.