sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Segurança Pública: Nós temos a solução para tudo



Criticamos o corte de cabelo alheio com um “não sei se ficou bom”, quando não falamos cruelmente “do outro jeito estava melhor”. As decisões dos amigos, a demora na fila do banco, os gostos, as atitudes, as opções e orientações das pessoas, para quase tudo temos uma opinião formada.

Não estudamos medicina; contudo, se a mídia divulga com alguma frequência o drama de determinado paciente, no momento seguinte, já começamos opinar se devem ou não tirá-lo do coma induzido. No futebol, o gol perdido “até a minha avó faria”. O final da novela sempre seria melhor se fosse seguido o roteiro que imaginamos. Ignorando a distinção da linguagem, sempre achamos que “o livro é muito melhor que o filme”. Em acidentes aéreos, decoramos os termos mais utilizados e reproduzimos como se especialistas fôssemos: “O problema foi o transponder desligado”.

Agora, quando o assunto é segurança pública, aí sim, falamos com mais propriedade porque desse assunto entendemos. Mesmo que a minha graduação seja em gastronomia e tenha perdido mais tempo em degustação de cervejas no boteco ao lado da faculdade, terei sempre uma opinião “embasada” para apontar as falhas nesse complexo sistema de segurança pública do país.

A paralisação dos policiais militares do Espírito Santo, infelizmente, veio para desmitificar todas as opiniões que temos formadas sobre tudo. As soluções fáceis que arrumamos para cada novo tiroteio no Rio de janeiro ou chacina em São Paulo mostra que, ao longo dos anos, nos iludimos. A nossa sociedade não pode prescindir dessa polícia que aí está. Neste momento, é isso que merecemos.

Teríamos provado ao contrário se não houvéssemos saqueado as lojas, saído às ruas assaltando e matando e mantido a população prisioneira dentro de sua própria casa.

Outra coisa, ainda que muitas críticas sejam cabíveis, a ignorância popular não permitiu que se observasse que o soldado é o menos responsável pelos problemas na segurança. Ao contrário, também é vítima dela. A máxima é esta, soldado debilitado é igual a sociedade fragilizada. Esse episódio do Espírito Santo é uma comprovação disso.

Pois é, nós temos a solução para tudo, porém somente iremos viver como cidadãos evoluídos quando começarmos a tê-las para nossas próprias arrogâncias e também humildade suficiente para, em vez de de vociferar soluções fenomenais, unir forças para encontrar, de forma bem intencionada, uma maneira de construir um país mais justo.

*Publicado originariamente na coluna do Sargento Lago no Portal Stive, de Brasília.

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