sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Biografando


Nasci em Queluz/SP, no dia 24 de novembro, numa época bossanovista em que o presidente do Brasil era Juscelino Kubitschek. Sou o quinto filho de Layde e José, que tiveram 15 (Lygia, Lúcia Helena, Márcia, Misael, eu, Eliel, Vagner, Meire, Laisa, Liliam, Claudia, Laidinha, Cleide, Marcos e Carlos Henrique).

Sou um homem feliz porque tenho a base da minha vida estruturada na fé em Deus.

Minha infância e o início da adolescência foram vividos entre as cidades de Queluz/SP, Piraí/RJ, Resende/RJ e Angra dos Reis/RJ. Aos 15 anos vim com meus pais para São Paulo e saí apenas por dois anos, em 1999 e 2000, para residir em Campinas/SP.

As minhas melhores recordações do passado sempre são as que estávamos em família. Todo evento era mega, devido à quantidade de irmãos e de amigos que sempre freqüentaram nossa casa. Na hora do almoço, do banho, do culto doméstico... Tudo era muito festivo.

Meu pai, ex-combatente do Exército Brasileiro, comandava sua tropa com mãos firmes. Minha mãe, gentil e carinhosa afagava-nos após sermos disciplinados com alguma correia, chinelo ou até uma varinha.

Nossa educação foi fundamental para nortear nossos passos. Meu pai era pastor evangélico e nos orientou com base nos ensinamentos bíblicos, aprendemos a respeitar nossas diferenças e amar uns aos outros. Felizmente somos unidos até hoje; nossa tropa continua coesa.

Minha primeira atividade profissional foi aos 10 anos. Morava em Resende. Vendia verduras de casa em casa. Ainda me lembro do meu patrão, um senhor gordo, meio vermelhão, que pegava as moedas que eu levava, resultado das vendas, e separava algumas para me pagar e as outras ele colocava num porquinho, que servia de cofre, e a cada moeda que ele colocava, dava uma roncada como se fosse o porquinho engolindo a moeda. Eu ria muito.

Nessa época comecei torcer pelo Botafogo Futebol e Regatas. O título estadual de 1968 ajudou na minha escolha.

Depois engraxei sapatos no bairro do Manejo, com meu irmão Misael. Meu pai fez a caixinha pra gente.

Um dia ofereci graxa para um moço que estava de chinelos de dedo e foi muito engraçado.

Já morávamos em Angra dos Reis quando meu tio Goio disse ao meu pai que ele deveria ir para uma cidade maior para aumentar a chance de emprego aos filhos. Então, meu pai me trouxe na frente e viemos para São Paulo para alugar uma casa e trazer o resto da família.

Fiquei na casa do meu primo-irmão Cherloques, na Água Rasa. Lembro com saudades. Saía na pracinha em frente a sua casa e ouvia os rádios dos vizinhos tocarem “Charlye Brow”, do Benito di Paula. Foi quando começou minha admiração por esse cantor.

Da casa do Cherloques fui para a casa do meu tio Goio.

Minha prima Ligia era caixa do Supermercado Salomão, na Vila Formosa, e arrumou para eu ser empacotador lá. Nessa época fazia muito frio na cidade e eu não estava acostumado. Um dia, após o almoço, fui ao depósito e me deitei sobre os fardos de papel higiênico. Estava tão quentinho que só me acharam por volta das 15:30h, para desespero da minha prima.

Já com a família estabelecida nessa Capital, trabalhei na feira livre, vendendo vasos de Xaxim; nas fábricas de pé de geladeiras, parafusos, velas; numa adega; na farmácia Drogasil; numa confecção no Brás e com meu primo, na administração de uma firma de entrega de cafézinhos.

Em 1981 meus pais já haviam retornado para o Estado do Rio de Janeiro e ficamos apenas eu e meu irmão Misael. Ele trabalhava num Cartório de Notas, eu fazia apenas bicos. Morávamos em um quarto e cozinha. Foi quando o meu amigo Sérgio me informou sobre o ingresso na Polícia Militar.

Após ser aprovado em concurso público, iniciei o curso de soldados em 01 de setembro de 1981 e concluí dia 12 de fevereiro de 1982, na 3ª Cia do CFAP, que ficava no bairro do Rio Pequeno, Zona Oeste da Capital paulista.

Minha primeira Unidade foi o 16º BPM/M. Trabalhei na 1ª Companhia, em Pinheiros. De lá, saí para fazer o Curso de Cabos, em 1984 e depois o de Sargentos, em 1985, ambos no CFAP (3ª Cia e Sede, respectivamente).

Das lembranças dessa época, trago as alegrias de organizar, em 1982, um campeonato interno de futebol de salão e de conviver com policiais que tinham a idade para serem meus pais, o que me permitia sempre um bom aprendizado. Sem contar que trabalhei com meu tio Goio, na época Sargento Lago, que tinha todo o cuidado possível comigo para que eu não fosse vítima da minha inexperiência.

Tive o desprazer de ter um companheiro ferido mortalmente, numa Operação Pagamento. O soldado Sotto foi surpreendido por um marginal que vestia o uniforme dos Correios e desferiu-lhe vários tiros de espingarda calibre 12.

No início de 1986 aceitei o convite e fui trabalhar na mesma 3ª Cia do CFAP, onde fiz os cursos de soldado e cabo. Lá fui monitor dos pelotões de alunos cabos, do antigo curso que foi apelidado de “Juruna”.

Todos os alunos tinham aproximadamente 30 anos de serviço e, por força de Lei, tinham que fazer esse curso para serem promovidos. Contudo, não freqüentavam os bancos escolares há anos e, com isso, pela insegurança, deram um pouco de trabalho. Mas, no final foi até engraçado; eu, sargento recruta e com 25 anos de idade, reverenciando a antiguidade daqueles senhores que, em contra partida, me adotaram como sendo seus pais.

Ainda dessa época, tenho a lembrança de ter ousado ensaiar e cantar na formatura matinal, com todos os 400 alunos da escola , as músicas “A Banda” do Chico Buarque e “Fogo e Paixão”, do Wando, fugindo das tradicionais marchas militares, em pleno regime ditatorial.

Em 1987 fui transferido para a sede do CFAP, no bairro do Tatuapé, onde fiquei alguns meses, aguardando movimentação para o 1º BPChq.

Na ROTA foram muitas emoções, que estão registradas no livro, ROTA DOS DESTNOS, aguardando definição de uma editora, e que escrevi por incentivo do grande autor de novelas e escritor Walcyr Carrasco.

Em 1990 fui para a o setor de relações públicas da Corporação (5ª EM/PM). Lá produzi vídeos históricos: “Alberto Mendes Junior – A História de um Herói”; “Drogas, o fim da picada!”; “Massacre ou Confronto?”; “De Heróis a Vilões”; “Eu Acredito”; entre outros.

Também me aventurei na crônica esportiva. Trabalhei na Rádio Cidade, de Jundiaí/SP e, na Capital, na Radio Difusora.

Inicialmente ficava em postos, falando apenas o tempo do jogo e o placar. Depois, fiz o plantão esportivo, reportagens e, realizando um antigo sonho, narrações de basquete e de futebol.

Como freqüentava o curso de jornalismo na FIAM – Faculdades Integradas Alcântara Machado, no bairro do Morumbi, solicitei movimentação, em 1994, para a 1ª Cia do 23º BPM/M, em Pinheiros (que era a antiga 1ª Cia do 16º BPM/M).

Fui para lá com a nostalgia de retornar para a minha primeira Unidade na Corporação, mas encontrei uma realidade totalmente adversa. No passado havia trabalhado com policiais antigos, agora eram recrutas. Alguns, de má conduta. Recordo-me da manchete do jornal, no dia da minha apresentação: “O bairro onde o ladrão é a polícia e a polícia é o ladrão”. Isso já me indicava o trabalho que teria.

O comandante da Companhia, Capitão PM Alexandre Marcondes Terra confiou-me a missão da reconstrução da imagem da PM naquele local.

Com a mesma lealdade que sempre dediquei aos meus superiores, iniciei convocando um mutirão e fazendo uma faxina e depois pintando todo o prédio, sendo inclusive alvo de elogios do Delegado Titular do 14º DP. Depois, fizemos a depuração dos marginais que estavam travestidos de policiais.

Minha missão não era apenas questões institucionais e administrativas. Foi nessa época que atendi uma das ocorrências mais emblemáticas da minha carreira: roubo com reféns, dentre eles um bebê. Apesar de não ter feito os cursos especializados – que se iniciava na PMESP - assumi o comando, e, felizmente, tivemos êxito, conforme noticiou a imprensa local, foram 5 marginais presos, armas apreendidas e, o mais importante- nenhuma vítima ferida.

Em menos de um ano, com minha promoção a 1º Sargento PM, em 1998, fui trabalhar no 4º BPM/M, na 1ª Cia (Lapa), na 4ª Cia (Perus), na Força Tática (área do Batalhão), e finalmente, fui convidado para trabalhar na Diretoria de Ensino, na área de vídeo, mas apesar do convite, preferi ir para Campinas/SP, onde trabalhei no 35º BPM/I – ROTAC.

Foi lá que fui ferido a tiros, numa ocorrência de roubo a um estabelecimento comercial. Foram mais de dez tiros, numa distância de 6 metros, aproximadamente, apenas um me atingiu. Tempos depois fui condecorado com a Medalha Cruz de Sangue.

Retornei para a Capital em 2000, exatamente quando lancei o CD “De Polícia”, com meu parceiro Capitão Rivaldo.

Como freqüentemente ia para São Paulo participar de programas de televisão e fazer shows, o Tenente Coronel Perrenoud - um grande incentivador do nosso trabalho – me trouxe de volta à 5ª EM/PM.

Em 2005, fui para a Diretoria de Ensino onde tive a oportunidade de participar do Programa Vídeo Treinamento fazendo produções como os clipes "Sendo Você e PM Boa de Bola" e o documentário "Mendes Junior - Epílogo", entre outros.

Em outubro de 2007 retornei para a 5ª EM/PM onde permaneci até o dia em que passei para a inatividade, em fevereiro de 2009.

No dia 15 de outubro de 2010 fui para Salvador/BA e, após passar 60 dias por lá, iniciei o Projeto Polícias Militares do Brasil e visitei todas as corporações do país finalizando no dia 24 de novembro de 2011. Foram 45.500 KM percorridos em 13 meses e nove dias. Captei imagens em vídeo e fotografia e trouxe uma camisa de farda de cada instituição.

De todas essas experiências na Polícia Militar, tirei uma lição que coloquei como ideal. A sociedade, sobretudo a de menor condição financeira, precisa da polícia. Não de uma polícia autoritária, truculenta, mal educada, mas gentil, solidária, que aja com o rigor da lei, com austeridade, mas, acima de tudo, com justiça.

Os policiais também têm as suas necessidades. Muitos deles, quando deixam suas fardas nos armários dos quartéis e “viram povo”, também esperam uma sociedade justa e querem viver com dignidade. Cabe a cada um de nós fazer a sua parte.

Como policial, sirvo a sociedade, como músico, aos policiais.

Um comentário:

  1. parabéns pelo conteúdo do seu blog e pela bela história de vida, fico feliz em poder está participando agora ativamete, quero seu sucesso em breve vê sr. cantando pra multidão de pessoas aqui, no meu estado BAHIA DE TOODS SO SSANTOSA..PARABÉNS..SUCESSO.

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