sábado, 10 de setembro de 2016

Filosofia do otário feliz



Foto by Marco Aurélio Olímpio

Eu sou um otário. Descobri isso ao contabilizar as muitas vezes que fui enganado. É Difícil acreditar que um policial veterano possa ser, mas o sou. Não tenho vergonha de assumir.

Avaliando as muitas questões em que saí prejudicado, descobri minha inclinação.

Talvez esteja sendo muito rígido comigo, em vez de admitir que tenha um coração filantrópico, como meu pai , um pastor evangélico que serviu sua fé com a alma e os bens. Sua generosidade fora tão exacerbada, que, mesmo antes de possuir a própria casa e abrigar sua grande família, preferiu comprar uma chácara e lá construir um asilo. E não descansou do trabalho até que as instalações estivessem abrigando alguns velhinhos, na cidade de Areias, interior paulista.

Antes meus propósitos fossem tão nobres. Talvez não me autointitulasse com o pejorativo.

Contrariando meu instinto de não querer deixar que me enganem, sempre dou um voto de confiança aqui, outro ali, acreditando que não serei vítima. Mas logo descubro que vacilei de novo.

Das muitas lembranças que me fazem merecedor do título, lembro-me da doação feita da metade que tinha num apartamento, após a separação, por causa do assédio moral que sofria. Em outro final de relação, quando ainda era jovem, dessa vez ainda no noivado, doei minha metade de todos os móveis comprados em conjunto. Sem saber o que fazer com aquilo, a ex solicitou o espólio, e , além do adjutório, ainda lhe arrumei comprador para os móveis.

Na primeira tentativa de escrever o livro Papa Mike, contratei uma senhora que se diz especialista no assunto. Possui até site e dá cursos. Apesar da idade avançada, a velhaca pegou meu dinheiro e nada fez. Dessa vez, em razão do desejo de ver a obra publicada, tive um repente de indignação e decidi reaver o dinheiro. Por determinação judicial, serei restituído agora, após três anos de moroso processo judicial.

Tenho feito alguns jingles para a campanha de vereador que têm me garantindo uma remuneração extra.

Semana passada, fui solicitado por uma pessoa do Estado do Rio de Janeiro para fazer seu jingle, após ouvir o que eu havia feito para um amigo em comum. Realizei o trabalho e, embora tenha aprovado de forma entusiasmada, retirou o interesse ao lembrá-lo que a forma de pagamento não era apenas o “muito obrigado”.

A “Lei de Gérson” parece ser a cartilha de muita gente. Talvez por isso as operações da Polícia Federal tenha alcançado pessoas “acima de qualquer suspeita” . De damas da sociedade a vovozinhos, um após o outro aparecem na TV caminhando com as mãos para trás e seguidos por agentes da PF.

A vida tem me mostrado que a filosofia do otário não é ruim. Sou testemunha disso. Com o mesmo desapego aos bens materiais, da mesma forma que meu pai se sentiu realizado e feliz, tenho usufruído em dobro de tudo que me lesam. Em contrapartida não vejo na tela da TV o triunfo dos que põem as mãos em dinheiro que não lhes pertence. Afinal, é isso. A vida é um solo fértil.

* texto publicado originariamente na coluna do Sargento Lago no Portal Stive

2 comentários:

  1. Pôxa, meu amigo.

    Que vibe!

    Também tenho visto muita gente pagando seus pecados por aqui mesmo.

    Vamos em frente fazendo nosso melhor e Deus que vê dos céus há de suprir cada uma das nossas necessidades.

    Um beijo!

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    1. Dessa forma mesmo, novinha.
      Bom ver você por aqui.
      Beijos e felicidades.

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